Pesquisar
Pesquisar
Foto: Lorie Shaull / Flickr

EUA: mais de 60% desaprovam Biden e Trump; só 16% confiam no governo

Crise de credibilidade na democracia estadunidense oferece vazio por ora usado de maneira efetiva por forças direitistas e neofascistas
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

A maravilhosa obra de teatro “A busca de sinais de inteligência no universo“, que estreou na Broadway em 1985 e mais tarde se fez o filme com a grande Lily Tomlin interpretando todos os personagens, incluindo a que é o eixo, Trudy, uma mulher sem-teto que vive nas ruas e está convencida de que está em comunicação com extraterrestres que a escolheram para ser sua guia nessa busca de título, está repleta de sabedoria. 

“Tão logo que a humanidade começou a descobrir a verdade sobre si mesma, nós começamos a encobrir essa verdade. Mas talvez isso seja melhor: nossa capacidade de enganar-nos poderia ser uma ferramenta de sobrevivência importante”, é uma. Outra, sabiam que em todo o universo se pensa que somos a única forma de vida inteligente que tem um concurso de Miss Universo?

Pesquisas, análises e desaprovações

Tudo isto vem ao caso ao tentar reportar o que ocorre neste país hoje, e também qual seriam as observações de Trudy agora. Entre as incessantes pesquisas, análises e mais sobre o que todos insistem em chamar de “crise”, aparecem possíveis sinais de inteligência nos Estados Unidos, entre essas:

Os candidatos dos dois partidos nacionais são desaprovados por maiorias – 62% desaprovam Biden e 60% Trump – e 26% têm uma percepção negativa de ambos. Só 4% dos adultos estadunidenses consideram que o sistema político está funcionando muito bem e 6 de cada 10 expressam pouca confiança sobre o futuro desse sistema.

Leia também | EUA: primárias apontam disputa Biden/Trump, mas 59% não querem nem um, nem outro

Só 16% do público diz confiar no governo federal sempre ou na maioria do tempo – um longo deterioro desde 1948, quando três quartos dos estadunidenses confiavam em seu governo. 83% dizem que aos políticos eleitos não lhes importa o que pensam os cidadãos. Três quartos dos estadunidenses (76%) opinam que o governo está sob o domínio de grandes interesses e doadores ricos que financiam as campanhas eleitorais.

Por outro lado, a confiança nos grandes meios de comunicação baixou a 32%, o nível histórico mais baixo (quase 4 de cada 10 não têm nenhuma confiança nos meios, o mais alto já registrado).

Crise de confiança política

Estes indicadores, tomados dos resultados de pesquisas recentes de Pew Research e Gallup, são interpretados, em geral, como evidência de uma crise de confiança política e social. Mas, desde a perspectiva dos guardiões da ordem institucional atual, não é só isso. Vistos de outro ângulo, indicam que a maioria não está aceitando a versão oficial, a propaganda do poder, sobre como funciona esse país. Portanto, podem oferecer esperança de que o futuro pode escapar do marco definido pelos poderosos.

Esta crise de credibilidade e confiança na democracia estadunidense oferece um vazio que por ora é enchido e usado de maneira efetiva por forças direitistas e neofascistas que anseiam pelo retorno do grande país que supostamente existia antes. Essa é a manobra de Trump e seus aliados, e dentro destas condições, é sumamente perigosa.

Leia também | Não adianta falar em boom na economia se mais pobres sofrem, alerta Sanders a Biden

Para as forças progressistas, o desafio é formular e convencer de que outro futuro é possível neste país. Isso está sendo feito há tempos em diferentes esquinas do universo estadunidense e se expressou nacionalmente com a campanha do democrata-socialista Bernie Sanders, e que continua hoje em diversos movimentos – desde ambientalistas, defensores de direitos e liberdades civis, sindicalistas progressistas, ativistas contra a violência das armas, imigrantes que encabeçam ou participam em várias destas lutas sociais – entre outros que formam parte das forças democratizadoras dentro do país que presume ser a máxima democracia do mundo.

Há sinais de inteligência, mas está por ver se são suficientes para levar a outro destino este país. Ou como gosta de responder Trudy a turistas que lhe perguntam como chegar a Carnegie Hall: “prática”.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

LEIA tAMBÉM

Partido Democrata rejeita apelos do eleitorado e ignora genocídio palestino em atos de 7
Partido Democrata rejeita apelos do eleitorado e ignora genocídio palestino em atos de 7/10
Fepal Múcio reduz genocídio palestino promovido por Israel a mero problema ideológico
Fepal: Múcio reduz genocídio palestino promovido por Israel a mero problema "ideológico"
Luta entre tropas israelenses e civis palestinos desarmados não é guerra, é massacre
Luta entre tropas israelenses e civis palestinos desarmados não é guerra, é massacre
1 ano de barbárie em Gaza
Gaza: Ano 1 da barbárie