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EUA: suficientemente sem vergonha pra chamar reação palestina de "não provocada"

Desde setembro de 2000 até hoje, cerca de 10.500 palestinos foram assassinados por forças israelenses; palestinos mataram 881 civis israelenses
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

“A guerra é a forma mais extrema de terrorismo”, afirmava o historiador e veterano de guerra Howard Zinn, ao apontar que em tempos modernos, a população civil é a que mais sofre. A estas alturas da história, que mais evidência se requer?

Israel declarou “guerra” como resposta a uma ofensiva armada do Hamas e de novo justifica seus atos de terror afirmando que é vítima de “terrorismo”. Washington de imediato proclamou sua lealdade a Israel, condenou os atos de “terrorismo”, e foi suficientemente sem vergonha para afirmar que os ataques foram “não provocados” e, portanto, “criminosos”. O governo estadunidense já prepara mais assistência militar imediata aos seus aliados. “Israel tem o direito de se defender”, proclamou Biden (obviamente os palestinos não têm esse mesmo direito).

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Não provocado? Defender-se? Desde que o governo direitista de Netanyahu chegou ao poder, soldados israelenses já mataram mais de 250 palestinos, pelo menos 47 deles crianças, na Cisjordânia, e intensificou os ataques violentos contra palestinos para expulsá-los de suas terras por extremistas israelenses (quase 600 ataques no primeiro semestre deste ano, segundo a ONU).

Não é nada novo: Israel manteve uma ocupação militar em Gaza durante mais de médio século e depois, nesses últimos 15 anos, isso foi seguido por um sítio e bloqueio naval ilegal, convertendo esse território em uma “prisão aberta” com cerca de 2 milhões de palestinos encurralados em condições condenadas pela ONU e grupos de defesa dos direitos humanos; Noam Chomsky o qualificou como “um dos maiores crimes do período moderno” no mundo.

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No ano passado, a Anistia Internacional declarou que o esquema de dominação dos palestinos por Israel constitui um sistema de “apartheid”, o que é um “crime contra a humanidade”.

Desde setembro de 2000 até hoje, cerca de 10.500 palestinos foram assassinados por forças israelenses; palestinos mataram 881 civis israelenses.

Desde setembro de 2000 até hoje, cerca de 10.500 palestinos foram assassinados por forças israelenses; palestinos mataram 881 civis israelenses

Foto: Times of Gaza
Forças de ocupação israelitas atacam fiéis palestinianos, incluindo idosos e mulheres, na Cidade Velha de Jerusalém




Cúmplice

Washington é o principal cúmplice internacional em tudo isto. Israel é o maior beneficiário da assistência cumulativa dos EUA no mundo desde a Segunda Guerra Mundia, incluindo um total de 158 milhões de dólares em assistência bilateral, quase tudo em assistência militar, segundo cifras oficiais. No acordo bilateral mais recente, Washington se comprometeu a outorgar 38 bilhões de dólares mais em assistência militar entre 2019 e 2028. 

Diante desta crise, os Estados Unidos pretendem que os inimigos do direito internacional, da democracia e dos direitos humanos sejam “os terroristas” palestinos, baixem suas bandeiras a meio pau em solidariedade com Israel e preparam mais assistência militar para “defender” a existência de Israel. 

Até quando potências do Ocidente vão negar aos palestinos o direito de se defender?

“Israel é um Estado nuclear, armado até os dentes pelos Estados Unidos. Sua existência não está sob ameaça. São os palestinos, suas terras, suas vidas, que sim estão. A civilização ocidental parece estar disposta a manter-se à margem enquanto são exterminados. Eles, por sua vez, estão se levantando contra os colonizadores”, escreve Tariq Ali em New Left Review.

Talvez o que mais assombra é que se supõe que Washington entende tudo isto e, portanto, o que gera essa situação. Mas foi há só uma semana que o Assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, comentou muito confiante que “a região do Oriente Médio está mais calma hoje do que há duas décadas”. Que surpresa (e massiva falta de inteligência) que exploda uma parte da resistência palestina.  

O que não deve ser surpresa é que o terror que desata Israel com a cumplicidade de Washington só alimenta mais do mesmo, e que são eles os que têm que prestar contas por seus atos ao invés de fingir que são as vítimas e os defensores do direito internacional. Mas parece que decidiram que não lhes convém confessar o que todos sabem: “a guerra não é a resposta”. 

Bônus Musical – Marvin Gaye | What’s going on. 

David Brooks | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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