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Foto: Alisdare Hickson / Flickr

Extrema-direita tenta proibir 4,4 mil livros nos EUA e ressuscita lei antiaborto de 1864 no Arizona

Avanço da ala trumpista inclui ainda ações para suprimir o voto de minorias, ataques a tentativas de controlar armas de fogo e defesa de medidas anti-imigrantes
David Brooks, Jim Cason
La Jornada
Washington, DC

Tradução:

Beatriz Cannabrava

A incessante ofensiva das forças de extrema-direita nos Estados Unidos (EUA) continua com tentativas de proibir um número sem precedentes de livros nas escolas e bibliotecas em vários estados, e agora, com a reativação de uma lei de 150 anos que proíbe o aborto no Arizona – parte dos esforços em mais da metade dos estados da União sob governos republicanos.

Um dos indicadores do poder do movimento populista de extrema-direita neste país se expressa no fato de que as forças conservadoras tentaram proibir 4.420 livros em escolas e bibliotecas no ano passado – um aumento de 65% comparado com o total em 2022, relatou a Associação Americana de Bibliotecas. Esse é o número mais alto registrado pela associação, que relatou que o total anual entre 2000 e 2022 nunca superou 400 títulos.

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Segundo a associação, os grupos conservadores que buscam proibir livros em 2023 concentram-se nas bibliotecas públicas, onde o número de títulos que desejavam censurar aumentou em 92% comparado com o ano de 2022. 47% dos títulos atacados representam vozes da comunidade gay ou de minorias raciais. As tentativas incluíram proibir mais de 100 títulos em 17 estados, desde a Flórida até Kentucky, Ohio, Texas, Virginia, Wisconsin e Idaho, entre outros.

Entre os 10 livros mais censurados, em ordem de tentativas de censura, estão “O olho mais azul”, da ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura, Toni Morrison (1931-2019).

No ano passado, houve mais de 150 projetos de lei em 35 estados que buscavam restrições para o acesso a materiais em bibliotecas, e alguns incluíram castigos a bibliotecários que não cumpriam com essas ordens, segundo a organização de apoio às bibliotecas EveryLibrary.

Aborto

As forças conservadoras obtiveram outro triunfo nesta terça-feira (9), quando o Supremo Tribunal Federal do Arizona determinou que o estado aplicasse uma lei de 1864 que criminaliza todo processo de aborto, com exceção de a vida da mãe estar em risco em uma gravidez. A lei não oferece nenhuma outra exceção, incluindo se uma gravidez foi resultado de violação sexual ou incesto. Esta nova decisão foi tomada após a Suprema Corte dos EUA revogar o direito constitucional a um aborto em 2022, um triunfo para as forças ultraconservadoras.

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Esta é parte de uma tendência desde essa decisão federal, onde estados governados por republicanos impulsionaram novas proibições ao aborto através do país, incluindo 14 estados que proíbem o aborto em todas as etapas da gravidez, reportou a AP.

O Arizona já tinha uma lei que proibia o aborto após 15 semanas de gravidez. Esta decisão de ressuscitar a antiga lei surpreendeu até alguns promotores de restrição do aborto por ser tão extrema.

Democratas

Para os democratas, o extremismo republicano sobre o aborto está oferecendo um tema que acreditam que será chave a seu favor na contenda eleitoral. O presidente Joe Biden emitiu nesta quarta-feira (12) um comunicado sobre a decisão da corte estatal afirmando que os cidadãos do Arizona “logo viverão sob uma proibição do aborto ainda mais extrema e perigosa, que fracassa em proteger as mulheres mesmo quando sua saúde está em risco ou em casos trágicos de violação, ou incesto”.

Acrescentou que “esta proibição cruel foi promulgada primeiro em 1846 – há mais de 150 anos – ainda antes que o Arizona fosse um estado e muito antes que as mulheres tivessem assegurado o direito ao voto“. Garantiu que sua presidência está do lado da “vasta maioria dos estadunidenses que apoiam o direito da mulher de decidir”.

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Estas ofensivas da direita também incluem tentativas para suprimir o voto de minorias, frear tentativas para o controle de armas de fogo e medidas estaduais anti-imigrantes.

Não é nada novo que na linha de frente da luta por liberdades e direitos civis estão as mulheres, as minorias e os migrantes, mas em anos recentes agora contam com novos agrupamentos, entre eles os jovens, vítimas do descontrole de armas de fogo e bibliotecários.

Aumento da população imigrante

A população imigrante nos Estados Unidos, composta por aqueles nascidos no estrangeiro, aumentou mais de 15% nos últimos 12 anos. No entanto, novos dados do United States Census Bureau mostram uma redução de um milhão no total de pessoas nascidas no México que residem nos Estados Unidos.

Apesar disso, os nascidos no México ainda constituem o maior grupo de imigrantes que vivem nos Estados Unidos atualmente, totalizando 10,68 milhões em 2022 – a cifra mais recente – representando um quarto da população imigrante total do país. Os nascidos no México representam apenas uma parte do total de 36 milhões de pessoas de origem mexicana que vivem nos Estados Unidos, conforme cálculos oficiais de 2020.

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Além disso, os mexicanos continuam sendo o maior grupo de imigrantes indocumentados que ingressam nos Estados Unidos, de acordo com dados do Departamento de Segurança Interna.

O United States Census Bureau relatou esta semana que a população nascida no estrangeiro nos Estados Unidos cresceu consideravelmente ao longo dos últimos 50 anos, tanto em tamanho quanto em porcentagem em relação à população estadunidense. Em 1970, era de 9,6 milhões (4,7% do total da população dos Estados Unidos). Em 2022, foi calculada em 46,2 milhões (13,9% do total da população dos Estados Unidos).

Maioria é de latino-americanos

Mais da metade dos imigrantes vivendo nos Estados Unidos são da América Latina, e embora o número de imigrantes do México tenha diminuído, o número de pessoas provenientes da América do Sul e América Central aumentou em mais de 2 milhões nos últimos 12 anos.

80% dos nascidos no México têm residido nos Estados Unidos desde antes de 2010, embora cerca de 2 milhões tenham chegado após esse ano. Nos últimos 12 anos, a porcentagem de mexicanos que obtiveram a cidadania estadunidense aumentou, de modo que hoje em dia quase um terço dos imigrantes nascidos no México são cidadãos estadunidenses.

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A população imigrante nascida no México, em comparação com outros residentes estrangeiros, é predominantemente de idade ativa, mas possui menos educação, com 50% relatando que não concluíram o ensino médio. Califórnia, Texas, Nova York, Flórida e Nova Jersey continuam sendo os estados com a maior população imigrante e, juntos, abrigam aproximadamente metade do total.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.
Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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