O assassinato de María Belén Bernal, no Equador, me levou àqueles dias carregados de dor e impotência depois do desaparecimento de Cristina Siekavizza, na Guatemala. Dois casos muito parecidos, duas mulheres cujos pedidos de auxílio foram ignorados por aqueles que consideraram que a situação não se enquadrava como um “conflito de casal” e em cujo desaparecimento houve cumplicidade das autoridades.
Casos emblemáticos ambos, cujos ecos derrubaram as comportas e despertaram a indignação da opinião pública, tal e como sucede no Irã pelo assassinato de Mahsa Amini, torturada até a morte nas mãos da polícia. Mas a indignação não basta se não é acompanhada de ações radicais para mudar essas sólidas estruturas patriarcais.
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Os efeitos do machismo e da misoginia, institucionalizados e elevados à categoria de lei, persistem em nossos países tanto como em aqueles submetidos a governos com estritas normas religiosas cuja força restritiva golpeia, com especial ênfase, o segmento feminino da sociedade.
Porém nós, a partir do falso cenário da cultura ocidental e da débil estrutura de nossas democracias, nos afanamos por condená-los, embora somos capazes de abandonar crianças e mulheres nas mãos das redes de tráfico, abuso sexual e violência machista, sem questionar nossa postura moral.
Não me digam que um caso é mais importante que outros, só porque a vítima pertence a uma certa categoria social.
Que não me digam que é exagero. Que não me digam que é culpa das mulheres, porque a todos nos consta a barreira de obstáculos erigida em nossos países terceiro-mundistas para tornar impossível as denúncias.
Me consta, por ter visto de perto, o tratamento humilhante das autoridades – policiais, promotores e juízes – diante dos casos de violação, de assédio e de feminicídio. Não me digam que a justiça avança para proteger essas vítimas, porque a justiça – como a maioria das instituições de nossos países – esteve sempre a serviço dos que cometem as violências.
Não me digam tampouco que um caso é mais importante que outros, só porque a vítima pertence a uma certa categoria social. Em cidades, povoados e aldeias de nossas nações são milhares de meninas, adolescentes e mulheres desaparecidas, as quais jamais são buscadas pelas autoridades.
As organizações criminosas dedicadas ao tráfico têm suas bases instaladas em despachos oficiais e isso é parte fundamental da realidade incontestável que nos rodeia, a qual temos naturalizada ao ponto de nem sequer refletir sobre ela.
Todo ato de protesto vale. O silêncio, em troca, leva a selo do fracasso.
Carolina Vasquez Araya, colaboradora da Diálogos do Sul, na Cidade da Guatemala.
Tradução: Beatriz Cannabrava.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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