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Fidel Castro: não necessitamos que o império nos dê nada

Redação Diálogos do Sul

Tradução:

16-02-fidel-castro-the-history-channelO  líder da Revolução cubana, Fidel Castro, afirmou que ninguém deve ter ilusões de que Cuba renunciará à gloria e aos direitos, e à riqueza espiritual que ganhou com o desenvolvimento da educação, ciência e cultura.

Em um artigo intitulado “O irmão Obama” e divulgado hoje aqui, Fidel Castro também adverte que “somos capazes de produzir os alimentos e as riquezas materiais que necessitamos com o esforço e a inteligência de nosso povo. Não precisamos que o império nos dê nada”.
Prensa Latina transmite em seguida o texto integral do artigo:

O irmão Obama

Os reis da Espanha nos trouxeram os conquistadores e donos, cujas marcas ficaram nos espaços de terra destinados aos buscadores de ouro nas areias dos rios, uma forma abusiva e vergonhosa de exploração. cujos vestígios se podem divisar do ar em muitos lugares do país.
O turismo hoje, em grande parte, consiste em mostrar as delícias das paisagens e saborear as deliciosas iguarias dos nossos mares, sempre que se compartilhe com as grandes corporações estrangeiras, cujos lucros que se não atingirem os bilhões de dólares por capita não são dignos de qualquer atenção.
Já que fui obrigado a mencionar o tema, devo agregar, principalmente para os jovens, que poucas pessoas percebem a importância de tal condição neste momento singular da historia humana. Não direi que foi tempo perdido, mas não vacilo em afirmar que não estamos suficientemente informados, nem vocês, nem nós, dos conhecimentos e das consciências que devíamos ter para enfrentar as realidades que nos desafiam. A primeira coisa a considerar é que nossas vidas são uma fração histórica de segundo que, além do mais é preciso compartilhar com as necessidades vitais de todo ser humano. Uma das características de muitas pessoas é a tendência a sobrevalorizar seu papel, o que contrasta, por outro lado, com o número extraordinário de pessoas que encarnam os sonhos mais elevados.
No entanto, ninguém é bom ou mau por si mesmo. Nenhum de nós está talhado para o papel que deve assumir na sociedade revolucionária. Em parte, nós, cubanos, tivemos o privilégio de contar com o exemplo de José Martí. Eu me pergunto inclusive se ele tinha que cair ou não em Dois Rios, quando disse “para mim é a hora” e avançou contra as forças espanholas entrincheiradas em uma sólida linha de fogo. Não queria regressar aos Estados Unidos e não havia quem o fizesse regressar. Alguém arrancou algumas folhas de seu diário. Quem carregou essa pérfida culpa que foi sem dúvida obra de algum intrigante inescrupuloso? Conhecem-se diferenças entre os Chefes, mas jamais indisciplinas. “Quem tentar se apropriar de Cuba colherá o pó de seu chão empapado em sangue, se não perecer na luta”, declarou o glorioso líder negro Antonio Maceo. Reconhece-se igualmente em Máximo Gómez, o chefe militar mais disciplinado e discreto de nossa historia.
Vendo de outro ângulo, como não se admirar da indignação de Bonifácio Byrne quando, da distante embarcação que o trazia de regresso a Cuba, ao divisar outra bandeira junto à da estrela solitária, declarou: “Minha bandeira é aquela que jamais foi mercenária…” para acrescentar de imediato uma das mais belas frases que já escutei: “Se despedaçada em miúdos pedaços chegará a ser minha bandeira algum dia… Nossos mortos, levantando os braços saberão defendê-la ainda!…”. Tampouco esquecerei das  inflamadas palavras de Camilo Cienfuegos naquela noite, quando a várias dezenas de metros bazucas y metralhadoras de origem norte-americana, em mãos contra revolucionárias, apontavam para o local onde estávamos acuados. Obama nasceu em agosto 1961, como ele mesmo explicou, Mais de meio século transcorreu desde aquele momento.
Entretanto, vejamos como pensa hoje nosso ilustre visitante:
“Vim aqui para deixar para trás os últimos vestígios da guerra fria nas Américas. Vim aqui estendendo a mão de amizade ao povo cubano”.
E imediatamente  um dilúvio de conceitos, inteiramente  novos para a maioria de nós:
”Ambos vivemos em um novo mundo colonizado por europeus”, prosseguiu o Presidente norte-americano. “Cuba, como os Estados Unidos, foi constituída por escravos trazidos da África; da mesma forma que os Estados Unidos, o povo cubano tem heranças de escravos e escravocratas”.
As populações nativas não existem para nada na mente de Obama. Tampouco diz que a discriminação racial foi varrida pela Revolução; que os ganhos e o salário de todos os cubanos foram decretados por ela antes que o senhor Barack Obama fizesse 10 anos. O odioso costume burguês e racista de contratar esbirros para que os cidadãos negros fossem expulsos de centros de lazer foi varrida pela Revolução Cubana. Esta passaria à historia pela batalha que travou em Angola contra o apartheid, pondo fim à presença de armas nucleares em um continente de mais de um bilhão de habitantes. Não era esse o objetivo de nossa solidariedade, mas sim ajudar os povos de Angola, Moçambique, Guiné Bissau e outros do domínio colonial fascista de Portugal.
Em 1961, apenas dois anos e três meses depois do triunfo da Revolução, uma força mercenária com canhões e infantaria blindada, equipada com aviões, foi treinada e acompanhada por naves de guerra e porta-aviões dos Estados Unidos, atacando de surpresa nosso país. Nada poderá justificar aquele aleivoso ataque que custou ao nosso país centenas de baixas entre mortos e feridos. Da brigada de assalto pró ianque, em nenhuma parte consta que tenha podido evacuar um só mercenário. Aviões ianques de combate foram apresentados ante as Nações Unidas como equipes cubanas sublevadas.
É sobejamente conhecida a experiência militar e o poderio desse país. Na África acreditaram igualmente que Cuba revolucionária seria facilmente posta fora de combate. O ataque pelo Sul de Angola por parte das brigadas da África do Sul racista os leva até as proximidades de Luanda, a capital desse país. Aí se inicia uma luta que se prolongou por pelo menos 15 anos. Não falaria sequer disso, a menos que tivesse o dever elementar de responder ao discurso de Obama no Grande Teatro de Havana Alicia Alonso.
Tampouco tratarei de dar detalhes, só enfatizar que ali se escreveu uma página honrosa da luta pela libertação do ser humano. De certa forma eu desejava que a conduta de Obama fosse correta. Sua origem humilde e sua inteligência natural eram evidentes. Mandela estava em prisão perpétua e se havia convertido em um gigante da luta pela dignidade humana. Um dia chegou às minhas mãos um exemplar do livro em que se narra parte da vida de Mandela e oh! Que surpresa, o prólogo era de Barack Obama. Eu o folheei  rapidamente. Era incrível o tamanho da minúscula letra de Mandela precisando dados. Vale a pena ter conhecido homens como aquele.
Sobre o episódio da África do Sul devo referir-me a outra experiência. Eu estava realmente interessado em conhecer mais detalhes sobre a forma como os sul-africanos haviam adquirido as armas nucleares. Só tinha a informação muito precisa de que não passavam de 10 ou 12 bombas. Uma fonte segura seria o professor e pesquisador Piero Gleijeses, que havia escrito o texto de “Missões em conflito: Havana, Washington e África 1959-1976”; um trabalho excelente. Eu sabia que ele era a fonte mais segura do que havia ocorrido e assim lhe comuniquei; ele me respondeu que não tinha falado mais sobre o assunto, porque no texto havia respondido às perguntas do companheiro Jorge Risquet, que havia sido embaixador ou colaborador cubano em Angola, muito amigo dele. Localizei Risquet, já em outras importantes ocupações. Estava terminando um curso e lhe faltavam várias semanas. Essa tarefa coincidiu com uma viagem bem recente de Piero a nosso país; tinha advertido a ele que Risquet já tinha certa idade e que sua saúde deixava a desejar. Poucos dias depois ocorreu o que eu temia: Risquet piorou e faleceu. Quando Piero chegou não havia mais nada a fazer, exceto promessas, mas eu já tinha conseguido informação sobre o que se relacionava com essas armas e a ajuda que a África do Sul racista havia recebido de Reagan e Israel.
Não sei o que terá a dizer Obama agora sobre essa história. Ignoro se sabia ou não, embora seja duvidoso que não soubesse absolutamente nada. Minha modesta sugestão é que reflita e não trate agora de elaborar teorias sobre a política cubana.
Há uma questão importante:
Obama pronunciou um discurso no qual utiliza as palavras mais doces para expressar: “Já é hora de esquecer o passado, deixemos o passado, miremos o futuro, vamos mirá-lo juntos, um futuro de esperança. E não vai ser fácil, haverá desafios, e a eles vamos dar tempo; mas minha estada aqui me dá mais esperanças daquilo que podemos fazer juntos, como amigos, como familiares, como vizinhos, juntos”.
Supõe-se que cada um de nós corria o risco de sofrer um infarto ao escutar essas palavras do Presidente dos Estados Unidos. Depois de um bloqueio desapiedado que durou quase 60 anos; e os que morreram nos ataques mercenários a barcos e portos cubanos; um avião comercial repleto de passageiros explodido em pleno voo; invasões mercenárias; múltiplos atos de violência e de força?
Ninguém tenha a ilusão de que o povo deste nobre e abnegado país vai renunciar à glória e aos direitos, e à riqueza espiritual que ganhou com o desenvolvimento da educação, da ciência e da cultura.
Além disso, advirto que somos capazes de produzir os alimentos e as riquezas materiais que necessitamos com o esforço e a inteligência de nosso povo Não necessitamos que o império nos dê nada. Nossos esforços serão legais e pacíficos, porque é nosso compromisso com a paz e a fraternidade de todos os seres humanos que vivemos neste planeta.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Redação Diálogos do Sul

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