Dirigido pelo renomado cineasta Silvio Tendler e produzido pelo Instituto Angelim em parceria com a Caliban, o filme “Ousar viver! Histórias da Maria” será lançado a nível nacional no próximo sábado (19), às 18h30 no Cine São Carlos, cidade do interior paulista.
O documentário de longa-metragem narra as memórias e histórias de Lúcia Maria Pimentel, militante que desde jovem atuou no combate à ditadura militar no Brasil, foi presa, esteve na clandestinidade e exilada, tendo atuação marcante nos movimentos sindical e de mulheres, abrindo espaço para a redemocratização.
“Sempre digo que não faço cinema para ensinar, faço para aprender. Não tenho nenhum interesse de fazer filmes sobre coisas que já sei. Quando a turma do Angelim propôs o filme da Maria, fiquei um pouco receoso: será que dá? E aí, na verdade, como me ensinou muito, não dava um filme, mas um filmaço”, afirmou Silvio Tendler.
Premiado com filmes como Jango, Os Anos JK e O veneno está na mesa, Tendler valoriza o resgate histórico como forma de mobilizar consciências para romper as amarras impostas pelo sistema financeiro e pelas transnacionais, que fazem com que “o Brasil seja um país desmemoriado obrigatoriamente”. “Obrigam a gente a viver sem memória como uma forma de facilitar a dominação. Nos Anos JK eu abro com uma frase do Ivan Lessa que diz que de 15 em 15 anos o Brasil esquece o que aconteceu nos últimos 15 anos”, reiterou.
Na avaliação do cineasta, “filmes como esse te dão a oportunidade de repensar a história”, voltando a debater temas como a Guerra do Vietnã e a relevância de personagens como o cubano Fidel Castro e o venezuelano Hugo Chávez, com quem Maria conviveu. “Falo porque estou com 74 anos e aprendi muito no Ousar viver! Então imagino a garotada de 20 anos que não viveu nada disso”, acrescentou.
Entre as coisas que desconhecia, apontou Silvio Tendler, é que por trás de uma organização como o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8) – responsável pelo sequestro do embaixador estadunidense em troca de prisioneiros políticos– havia uma infraestrutura básica como a pessoa que fazia os carimbos para os passaportes, a fim de que pudessem viajar. “Isso para mim foi um aprendizado incrível. Eu nunca pensei que uma organização precisava ter entre os seus revolucionários um militante que soubesse fazer carimbo. Parece algo mínimo, mas é essencial”, contou o cineasta, resgatando o papel de Maria Pimentel neste “detalhe” tão determinante para o sucesso da ação.
“Dentro do filme tem uma missão que o historiador Daniel Abraão Reis lembra que o revolucionário não precisa ter sempre um revólver, mas necessita de um documento. Então essas filigranas que aprendi são muito importantes”, apontou Tendler, resgatando o papel do coletivo.
“Outra coisa importantíssima foi a vivência da Maria na Argélia, onde vi que conviveu muito intimamente com o Miguel Arraes, sua família e uma grande quantidade de pessoas que transitaram pelo país africano. Vi que a Argélia era um ponto de acolhida e de partida de revolucionários”, recordou o cineasta, citando a deferência como os exilados brasileiros tratavam seu governo, retribuindo a atenção recebida.
Silvio Tendler valorizou o significado de trazer imagens e depoimentos de militantes de todas as etapas do MR8 para incorporar a riqueza e a profundidade de narrativas. “É algo bonito que o filme traz, novidades que você vê, pois não tivemos dificuldades em nenhuma entrevista. Vieram os capas pretas da época que o MR8 se formou até hoje. E aí também temos o aprendizado da figura da Maria e da militância dela, todo tempo pela revolução. Ela hoje atua em Sindicatos, não parou um minuto”, enfatizou.
Fruto da premiação do Programa de Ação Cultural (PROAC), da Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo, o filme traz uma lição de vida, que ganhará as telas de todo o Brasil e também pelo canal do YouTube do Instituto Angelim. A música é do compositor, maestro e arranjador Marcus Vinicius de Andrade.
“É uma história muito bonita que faz com que eu tenha adorado ter feito este filme, que tem muito a ensinar”, concluiu Tendler.