Em um país governado por um regime incoerente e caótico, empapado de corrupção, dirigido por um presidente que afirma que é um “gênio muito estável” e que mentiu ou enganou mais 15.400 vezes desde que chegou à Casa Branca, não é nada fácil entender este país.
No início deste ano eleitoral no qual se determinará se o “gênio estável” já “impeached” será reeleito ou não, e quais poderiam ser as alternativas, entre algumas das chaves necessárias para entender esta conjuntura estão as seguintes:
A concentração de riqueza e a desigualdade chegaram ao seu ponto mais extremos em um século. Não surpreende que 7 de cada 10 estadunidenses afirmem que o sistema atual favorece de maneira injusta os interesses dos mais ricos e poderosos.
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As consequências desta desigualdade se manifesta de várias maneiras, talvez a mais dramática seja o novo fenômeno das “mortes do desespero” (frase criada pelo economista Premio Nobel Angus Deaton e pela economista Anne Case para descrever o incremento de mortes por drogas, álcool e suicídio no país) sobretudo entre a classe trabalhadora branca devastada pela agenda neoliberal durante as últimas décadas.
O colunista Nicholas Kristof, do New York Times, e Sheryl WuDunn assinalam que a combinação do enfraquecimento dos sindicatos e o maior poder do setor empresarial, a globalização, a destruição de setores industriais e agrários, as políticas fracassadas da guerra contra as drogas, a falta de investimento em educação e saúde, entre outros fatores, colocou milhões no abismo enquanto que os mais ricos multiplicaram suas fortunas sob governos de ambos os partidos. [https://www.nytimes.com/2020/01/09/opinion/sunday/deaths-despair-poverty.html?smid=nytcore-ios-share]
Alguns dizem que o “sonho americano” já morreu com indicadores de que os “millennials” serão a primeira geração em não obter um melhor nível de vida do que seus pais.
Uns 53 milhões de trabalhadores – 44% da força de trabalho – hoje são empregados com salário baixo – o salário mínimo federal está abaixo de seu valor real há 30 anos.
A taxa de suicídios está em seu nível mais alto desde a Segunda Guerra Mundial, existe una epidemia (oficialmente declarada por autoridades de saúde) de opiáceos e níveis crescentes de alcoolismo. De todos os países avançados, só este teve reduzida a expectativa de vida durante cada um dos últimos três anos.
Uma resposta política ante tudo isto, como explica o professor e ex-secretário de Trabalho, Robert Reich, é que “o apoio de Trump provém em grande medida da classe trabalhadora dos Estados Unidos cujos salários não se incrementaram em décadas, cujos empregos são menos seguros que nunca e cuja voz política tem sido silenciada pelo grande dinheiro”. Agregou que embora Trump tenha beneficiado apenas as grandes empresas, conseguiu convencer essas pessoas que é ele seu campeão “canalizando sua ira contra estrangeiros, imigrantes, minorias e burocratas do ‘estado profundo’”.
Mas ao mesmo tempo, mais eleitores que nunca se opõem ao capitalismo. Pesquisas recentes registraram que não só há maior rechaço ao capitalismo, senão mais apoio a algo chamado “socialismo”, incluindo maioria de jovens. Uma nova pesquisa de Harris encontrou que 4 de cada 10 estadunidenses – e 55% das mulheres entre 18 e 54 anos de idade – dizem que prefeririam viver em um país socialista do que em um capitalista, reportou Axios (quando falam de socialismo, estão se referindo mais ao modelo europeu de acesso universal à saúde, educação e salários e benefícios trabalhistas dignos).
Klaus Schwab, fundador e diretor do Fórum Mundial Económico – que realizará sua sessão anual em Davos esta semana – escreveu na semana passada que “o capitalismo, em sua forma atual, chegou aos seus limites. Menos que seja reformado de dentro, não sobreviverá”. [https://www.foreignaffairs.com/articles/2020-01-16/capitalism-must-reform-survive].
Parece que o futuro do capitalismo estadunidense está em jogo nas eleições de 2020.
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