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Gás, petróleo e sanções contra Rússia: entenda o negócio por trás do massacre em Gaza

Ásia Ocidental possui vastos reservatórios de petróleo e é o primeiro foco de fornecimento opcional para abastecer o dependente mercado europeu
Redação Misión Verdad
Missão Verdade
Caracas

Tradução:

“A Itália disse que quer ser um centro para o fornecimento de energia para a Europa. Pensamos exatamente isso e temos reservas de gás que agora estamos exportando e gostaríamos de acelerar mais exportações de gás para a Europa pela Itália”: isto foi dito pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em março deste ano.

É bem sabido que com o amplo pacote de sanções unilaterais contra o setor energético russo, os mercados globais de hidrocarbonetos sofreram mudanças devido à interrupção, principalmente, dos fluxos gasíferos para a União Europeia (UE), região que depende em grande parte desses recursos oriundos do país eslavo.

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Só em 2021, os países da UE importaram 155 bilhões de metros cúbicos (bcm) de gás russo, o que representou cerca de 45% das importações totais de gás. São cifras significativas que se viram afetadas pela política de sanções do Ocidente. Por isso, a busca de fontes alternativas marcou as agendas comerciais dos países dependentes destas matérias-primas fundamentais.

Nesta equação geopolítica, a região da Ásia Ocidental, por ser uma área que em sua totalidade conta com os mais vastos reservatórios de petróleo do mundo, é o primeiro foco de fornecimento opcional para abastecer o dependente mercado europeu.

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De modo que, em vista da escalada de violência genocida perpetrada por Israel contra a Palestina, é mister examinar algumas razões que poderiam somar-se à política de avanço bélico das facções sionistas em território palestino. Portanto, no contexto de crise energética e na órbita dos atuais acontecimentos palestino-israelenses, torna-se imperativo captar novos núcleos de recursos energéticos.

Embora a costa palestina conectada com o lado oriental do mar Mediterrâneo não tenha aparecido na mídia como depósito destacado de hidrocarbonetos, o geólogo Eitan Aizenberg anunciou em 2010 a descoberta do grande campo de gás Leviatã, que contém uma média aproximada de 1,7 bilhões de barris de petróleo passíveis de extração e uma média de 122 trilhões de pés cúbicos de gás recuperáveis. Além disso, calcula-se que esta bacia tem reservas de gás provadas e prováveis de 16,27 trilhões de pés cúbicos, e reservas de condensado de 35,8 milhões de barris.

Ásia Ocidental possui vastos reservatórios de petróleo e é o primeiro foco de fornecimento opcional para abastecer o dependente mercado europeu

Foto: Captura de tela/ONU
Benjamin Netanyahu aponta para um mapa do ‘Novo Oriente’ enquanto se dirige à 78ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas




Recursos estratégicos

Em 2012, Netanyahu deu conotação estratégica ao mencionado campo: “O gás natural é um ativo estratégico para o futuro econômico do Estado de Israel”. Em seguida, o político israelense iniciou um processo para desenvolver esta faixa gasífera, assinando, em 2015, um acordo com o conglomerado petroleiro Delek Group e com a empresa estadunidense Noble Energy —agora adquirida pela Chevron—. Depois da assinatura afirmou que “o acordo era também uma questão de diplomacia internacional”.

O fato de que Netanyahu dissesse que se tratava de “uma questão de diplomacia internacional”, exige traduzir para o proveito que trará aos múltiplos interesses envolvidos no comércio deste reservatório. Atualmente, a necessidade de hidrocarbonetos aparece como uma oportunidade para a atual administração israelense.

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Assim fez ver em seu discurso na recente Assembleia Geral das Nações Unidas, ao destacar as potencialidades do corredor econômico Índia-Oriente Médio-Europa (IMEC, na sigla em inglês):

“Na Conferência do G20 o presidente Biden, o primeiro ministro Modi e os líderes europeus e árabes anunciaram planos para um corredor visionário que se estenderá ao longo da península Arábica e Israel. Conectará a Índia à Europa mediante conexões marítimas, ferroviárias, gasodutos energéticos e cabos de fibra ótica”.


Corredor IMEC

O corredor IMEC é multimodal, já que conecta a costa ocidental da Índia com os Emirados Árabes Unidos por mar, e contaria com uma rota ferroviária que cruzaria a península Arábica até o porto de Haifa, onde as mercadorias seriam transportadas por mar para a Europa.

Por isso, esta artéria comercial possui vantagens inigualáveis e seria um ponto estratégico para os Estados Unidos e seus aliados, enfrentando tanto o projeto chinês do Cinturão e Rota como o Corredor Internacional de Transporte Norte-Sul proposto pela Rússia para conectar os mercados europeus à Índia pelo Irã. 

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Não obstante, o mais provável é que o IMEC permaneça como campanha publicitária ou promessa comercial porque não só enfrenta os grandes projetos das potências multipolares, como a dianteira no espectro de vias navegáveis com maiores vantagens é do canal de Suez, o trajeto comercial por excelência da região.


Finanças

Em termos financeiros, é coerente que as grandes empresas e os governos envolvidos no IMEC não priorizem seus investimentos em um projeto como este devido a diversos aspectos, a saber:

  • As ligações do longo sistema ferroviário da península saudita correspondem a mais de mil quilômetros entre o porto de Fujairah nos Emirados Árabes Unidos, o mais próximo da Índia, e Haifa, incluídas centenas de quilômetros entre outros portos do mencionado país árabe.

  • A China tem um contrato importante para o desenvolvimento de estradas de ferro na Arábia Saudita e uma concessão de 35 anos destinada a desenvolver e operar um terminal de contêineres no porto de Khalifa. Não há lugar para o IMEC envolver-se nesse circuito.

  • Os tempos de envio de mercadorias por meio do IMEC seriam de quase um mês; pelo contrário, o mesmo objetivo pelo canal de Suez levaria apenas algumas semanas.

  • Os detalhes técnicos do IMEC são escassos e os funcionários envolvidos no projeto admitem que ainda não está definido a contribuição do financiamento.

Assim, parece que o IMEC ficará como uma declaração política daquela sessão do G20.

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O campo de gás Leviatã e o corredor IMEC são duas variáveis destacadas no marco desta arremetida sionista contra a população palestina devido a que o método genocida busca conquistar definitivamente a Faixa de Gaza para controlar a costa palestina e assim poder gerir os recursos e, por conseguinte, os canais comerciais.

Com tantos interesses em jogo, e o mercado global em plena reconfiguração, evidenciam-se sinais de que este choque geopolítico se estenderá, afim de estabelecer uma nova pauta comercial de domínio sobre os recursos energéticos nessa importante zona.

Redação | Misión Verdad
Tradução: Ana Corbisier


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Redação Misión Verdad

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