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“Giammattei está de costas para o povo”: Greve geral na Guatemala exige renúncia do presidente e Assembleia Constituinte

“Esta foi uma manifestação repleta de êxito pelo pleno envolvimento de todas as organizações sociais, estamos tendo os direitos violentados em favor de uma máfia”, diz líder sindical
Leonardo Wexell Severo
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Milhares de guatemaltecos protestaram em frente à casa do presidente Alejandro Giammattei e bloquearam as principais rodovias e avenidas do país centro-americano, nesta quinta-feira (29), em dia de greve geral para exigir a renúncia do “governo da traição”, a quem acusam de “malversação de recursos e de fazer o jogo de latifundiários, banqueiros e transnacionais”.

Com faixas e cartazes, os manifestantes enfrentaram as ameaças governamentais e a desmobilização da mídia para denunciar a compra de vacinas de Covid-19 superfaturadas, e defender o aumento salarial no campo e na cidade, o respeito aos direitos trabalhistas e o acesso ao seguro social. Com a mesma intensidade, exigiram o “afastamento imediato” da procuradora-geral Consuelo Porras e rechaçaram sua infame perseguição ao chefe da Promotoria Especial de Combate à Impunidade (FECI), Juan Francisco Sandoval, que estava no encalço dos ladrões da vacina.

“Esta foi uma manifestação repleta de êxito pelo pleno envolvimento de todas as organizações sociais, sindicais, indígenas, camponesas, femininas e estudantis, que responderam ao chamado de forma unitária e massiva, pois estamos tendo os direitos violentados em favor de uma máfia”, afirmou Carlos Mansilla, secretário-geral da Confederação da Unidade Sindical Guatemala (CUSG).

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Entre os inúmeros atropelos feitos pelo governo Giammattei – que tomou posse em janeiro de 2020 -, Mansilla citou uma “interpretação” muito oportunista, no meio da pandemia, da Convenção 175 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em favor dos empresários. “É um acordo completamente absurdo, pois autoriza a suspensão temporária de contrato de trabalho e reduz salários como os do McDonald’s e Burger King em até 25%.

Com o respaldo do governo, fazem o trabalhador abrir mão um a um dos seus direitos para enriquecer os mesmos de sempre. Tínhamos Juan Francisco Sandoval lutando contra injustiças e a sua demissão foi a gota d’água”, sublinhou o líder da CUSG.

Conforme Julio Coj, dirigente da União Sindical dos Trabalhadores Autônomos da Guatemala (Unsitragua), Giammattei teve a ilusão de que com ameaças poderia intimidar os povos indígenas e a pretensão de desmobilizar a paralisação. “Quando Giammattei disse ao presidente dos 48 cantões [divisões administrativas indígenas] de Totonicapán, Martín Toc, que não seria possível realizar a mobilização, alegando o Estado de prevenção pelo avanço da pandemia, ouviu um discurso muito forte. Toc lhe respondeu: ‘senhor presidente, o dia em que não houver manifestações, não haverá mais presidente também’”.

“Mais do que um espírito de unidade, este é um espírito de aliança, de congraçamento com trabalhadores, agricultores, micro, pequenos e médios empresários. Lutamos por mudanças na estrutura política e econômica, por uma Assembleia Constituinte Plurinacional, pela reforma da lei eleitoral, porque ninguém quer mais no poder o mesmo pacto de corruptos e criminosos”, destacou o dirigente do Unsitragua.

“Esta foi uma manifestação repleta de êxito pelo pleno envolvimento de todas as organizações sociais, estamos tendo os direitos violentados em favor de uma máfia”, diz líder sindical

Carlos Hernández
Em Cuatro Caminos, Totonicapán, lideranças indígenas se somam à greve geral.

Assalto aos cofres públicos

Afinal, protestou Coj, “como se já não bastassem os baixos salários e o aumento do desemprego, a pandemia da Covid-19 trouxe à luz o problema da corrupção das vacinas – a partir do superfaturamento e do desaparecimento de medicamentos – que esvaziou os cofres públicos para encher os bolsos de meia dúzia”. “É inaceitável que agora seja necessário recorrermos a milionários empréstimos internacionais para ter acesso a vacinas que desde há muito deveriam estar sendo aplicadas, enquanto guatemaltecos continuam morrendo pelo abandono”, enfatizou.

Para Laura Aguiar, secretária-geral da Associação de Estudantes Universitários (AEU) “Oliverio Castañeda de León”, “o governo Giammattei expressa o desejo e o interesse político e econômico de elites, por isso está totalmente de costas ao seu país e ao seu povo”. Diante disso, Aguiar defendeu que “devemos nos organizar para virar a página”.

Mobilizações como as que reuniram dez mil pessoas cantando o hino nacional em Cuatro Caminos, no oeste da Guatemala, estrada que conecta vários departamentos às seis da manhã, pipocaram pelo país e deram a dimensão da sua força.

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“Hoje é um dia de vitória para todos os povos. É um dia de unidade que nós temos sonhado, onde deixamos a diferença dos xincas, ixiles, garífunas, mestiços e maias”, declarou diante de uma multidão, Martín Toc, presidente dos 48 cantões [divisões administrativas indígenas] de Totonicapán. Hoje, frisou, “nós não fomos à capital para ler um memorial, hoje ficamos aqui no reino k’iche’, por dignidade, em um dia de unidade em que todos os povos nos sentimos guatemaltecos”. “Hoje estamos aqui porque queremos um país justo para todos, porque queremos prosperar todos”, acrescentou Toc, enfatizando que os 48 cantões “logo farão uma história ainda maior quando governem este país”.

Na avaliação dos manifestantes, o que Giammattei e Porras fizeram com a demissão de Juan Francisco Sandoval – que precisou abandonar o país para resguardar sua vida – foi aprofundar a injustiça, uma vez que perseguiram quem trabalhava na investigação dos casos mais escabrosos de tráfico de influência e corrupção, algo que estava chegando muito próximo de apaniguados. E deles próprios.

Religiosos protestam

Um documento assinado pelo presidente do episcopado guatemalteco, dom Gonzalo de Villa y Vásquez, arcebispo de Cidade da Guatemala, e pelo secretário-geral, dom Antonio Calderón Cruz, bispo de Jutiapa, aponta que “aqueles que se alegraram com a destituição se sentem seguros e cômodos quando o regime de impunidade se consolida”. “De acordo com famosos homens e mulheres da lei, a repentina demissão do promotor Sandoval foi ilegal e arbitrária. 

Abraçamos o clamor dos cidadãos ao perceber que este fato significa um claro retrocesso na luta por um combate eficaz contra a corrupção e a impunidade, que tanto prejudicam o desenvolvimento integral do país”, assinala o manifesto, acrescentando que “a indignação dos cidadãos aumentará, os protestos sociais e o nível de conflito vão aumentar, a má gestão da pandemia e o tortuoso processo de vacinação serão ainda mais complicados”.

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Os religiosos recordam ainda que, poucas horas antes de ser afastado, Sandoval denunciou em coletiva de imprensa o fato de a procuradora-geral ter suspendido várias investigações envolvendo membros do governo Giammattei.

Assim, o presidente e a procuradora-geral, em conluio com as organizações criminosas no poder, barraram todos os esforços em prol da efetivação da justiça. Desde o exílio, Juan Francisco Sandoval é sintético: “tem havido uma cadeia de arbitrariedades e o denominador comum tem sido a proteção das autoridades do atual governo ou do governo anterior”.

Leonardo Wexell Severo é jornalista e colaborador da Diálogos do Sul


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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