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ToggleA um ano da eleição presidencial, um candidato com 91 acusações criminais contra ele, incluindo algumas relacionadas a uma tentativa de golpe de Estado e que além disso foi declarado culpado de violação sexual, está empatado ou está ganhando nas pesquisas para presidente dos Estados Unidos.
Um ano antes da próxima eleição, já abruma o âmbito político-eleitoral um intenso debate sobre as razões pelas quais o ex-presidente Donald Trump não só é favorito para obter a nominação presidencial de um partido Republicano que se subordinou a ele, mas por ora poderia derrotar o presidente democrata Joe Biden.
Democracia dos EUA precisa escolher: ignorar crimes de Trump ou enfrentar trumpismo
Talvez o fator-chave nesta contenda é que as pesquisas e entrevistas com eleitores registram uma crescente falta de confiança no sistema político do país, como dúvidas profundas sobre as capacidades do elenco de candidatos que querem dirigir este superpoder.
Uma primeira página do New Yorker, há algumas semanas, tenta capturar parte deste cenário com um desenho dos dois principais contendentes presidenciais e os líderes do poder legislativo, todos empurrando seus andadores no que titula “a corrida eleitoral”.
A contenda presidencial estadunidense está encabeçada por um presidente de 80 anos de idade, e um ex-presidente com 77 anos de idade – Trump foi a pessoa mais velha a ser eleita para um primeiro período na Casa Branca, até que Biden ganhou.
A liderança no Congresso também é da terceira idade, com o líder republicano do Senado, Mitch McConnell, de 81 anos – o qual nitidamente se congelou diante de câmeras em vários momentos recentes – competia com as até recentemente líder democrata da câmara baixa, Nancy Pelosi, de 83 anos, e a figura nacional progressista mais destacada, o senador Bernie Sanders, que tem 82 anos – alguns indicaram que o elenco é parecido ao da União Soviética em fins dos anos 1960 e princípio dos 1980, sob Brejnev.
Instituto Gallup
Trump versus Biden
Preocupação
A preocupação pela condição física e mental do atual presidente Joe Biden, que às vezes se confunde ao descer de um pódio (se esqueceu de dar uma saudação de mãos a Lula, por exemplo) e que de repente fala em garranchos, se tornou tema eleitoral – algo incessantemente usado por seus competidores e alarmante a seus simpatizantes. Segundo sondagens recentes, mais de 70% dos entrevistados expressou que Biden já está demasiado velho para ser efetivo por outros quatro na Casa Branca.
Seu opositor republicano, Trump, que também de repente exibe problemas de agilidade mental ao se expressar, provoca, embora muito menos, preocupação por sua idade entre os eleitores (em torno de 51% crê que é demasiado velho, segundo uma enquete da AP).
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No entanto, por alguma razão pouco lógica, seus simpatizantes seguem perdoando tanto seu estado mental relacionado com sua idade, como o fato de que enfrenta quatro acusações criminais que incorporam um total de 91 acusações legais por delitos graves.
Crise de confiança
Mas além das suas idades, a cúpula estadunidense enfrenta uma crise de confiança pública que poderia levar a um maior deterioro das instituições e processos políticos estadunidenses, os quais ainda não se recuperaram da tentativa de golpe de Estado por Trump em janeiro de 2021, nem do assalto diário pelo ex-presidente sobre a credibilidade do sistema político.
Trump não deixou de insistir em seus argumentos falsos de que foi derrotado em sua tentativa de reeleição em razão de manobras ilícitas dos democratas, incluindo fraude, tudo não só sem provas, enquanto ele e seus cúmplices são julgados por mentir sobre esse assunto.
Ainda mais, decidiu atacar seus adversários com etiquetas nostálgicas da guerra fria, incluindo o centrista democrata Biden, acusando-os de serem “radicais”: “nossa outrora bela república está se transformando em uma ditadura Marxista de lata onde o regime de Joe Corrupto (Biden) está empregando o poder judiciário contra não só um ex-presidente… mas sim contra os cidadãos… é um ato de interferência eleitoral”, afirmou pouco depois de ser interrogado no banco de acusados de seu julgamento por fraude empresarial em Nova York esta semana.
Impunidade
Por ora, nem as 91 acusações criminais, nem outros fatos – foi declarado culpado de violação sexual em um julgamento civil, pagou para silenciar uma estrela de cinema pornográfico, foi investigado tanto pelo Congresso como pelas autoridades judiciais por seu papel em promover um intento de golpe de Estado, mentiu sobre a eleição, entre tantas outras coisas – e tampouco sua idade têm descarrilado a campanha de Trump, que segue muito na frente de outros aspirantes republicanos e está empatado ou até superando Biden nas pesquisas nacionais.
Tudo ao contrário ocorre com os democratas, os quais apesar de terem superado as consequências econômicas e sociais da pandemia, gozarem de indicadores macroeconômicos positivos e de restabelecerem certa ordem e decoro na operação do executivo depois da perigosamente infantil estância de seu antecessor, veem seu líder seguir na defensiva.
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A aparente incapacidade da equipe de Biden de gerar o apoio e entusiasmo necessário para impulsionar sua reeleição está preocupando os estrategistas e políticos, e isso já é parte do debate público mesmo antes de começar realmente a eleição.
Desconfiança do eleitorado
Enquanto isso, o público estadunidense está farto da política. Segundo uma sondagem recente da Pew Research Center, só 4% acredita que o sistema político está funcionando muito bem, e 63% não têm confiança no futuro do sistema: só 16% expressa confiança no governo federal e 6 em cada 10 expressam insatisfação com os candidatos que se oferecem. 65% diz estar farto e cansado quando pensam em políticos e 55% diz estar enojado.
Isso explica, em parte, a atração de Trump para muitos eleitores que escutam sua mensagem de que ele está desafiando o “establishment” e que por isso tem sido perseguido judicialmente. O panorama indica um perigo maior para os democratas: esse desencanto com toda a classe política não necessariamente pode se traduzir em um voto para Trump e seus aliados, mas levar setores-chave a simplesmente não votar.
Este é o cenário político no qual começa a contenda para determinar quem estará no comando do país mais poderoso do mundo.
Jim Cason e David Brooks | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
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