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Governo Biden solicita assistência do México para barrar fluxos migratórios para os EUA

Câmara aprova vias de legalização permanente para alguns indocumentados, incluindo os Dreamers, mas o Senado pode ainda anular os avanços
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Reformas migratórias parciais pelas quais lutaram movimentos de defesa de imigrantes durante anos e que agora contam com o respaldo da Casa Branca foram aprovadas nesta quinta-feira pela câmara baixa, mas seu destino é muito incerto no Senado sobretudo ao se intensificar o debate político sobre a fronteira onde, segundo algumas versões, o governo de Joe Biden solicitou ajuda do seu contraparte mexicano para conter o fluxo migratório.

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Um dos dois projetos de lei aprovados pela câmara baixa (Dream and Promise Act) estabelece uma via à cidadania para os Dreamers -menores de idade que chegaram com seus pais de maneira indocumentada – que poderia beneficiar potencialmente a uns 1,5 milhões – a metade deles mexicanos – e também oferecer residência permanente a outros imigrantes por ora protegidos com o chamado Status Temporário e outras medidas.

Segundo o Migration Policy Institute, esta proposta poderia oferecer residência legal a um total de 4.4 milhões.

O segundo projeto de lei aprovado (Farm Workforce Modernization Act) outorga a legalização temporária para aproximadamente um milhão de trabalhadores agrários indocumentados, incluindo seus esposo/as e filhos no país, e uma oportunidade para obter a residência legal permanente depois de 4 a 8 anos. 

Dreamers e outros setores pró imigrantes festejaram seu triunfo, mas afirmaram que é só um primeiro passo nesta luta para promover uma mudança real na política migratória. Perto do Capitólio, dreamers em coro gritavam “conseguimos” e sua consigna de “indocumentados e sem medo”. Vários apontaram que, como declarou a organização RAICES, “isto é resultado de anos de organização e pressão do movimento de direitos dos imigrantes”.  

Imediatamente, United We Dream e outras organizações anunciaram ações para pressionar o Senado para aprovar a medida o antes possível. 

Câmara aprova vias de legalização permanente para alguns indocumentados, incluindo os Dreamers, mas o Senado pode ainda anular os avanços

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Segundo o Migration Policy Institute, esta proposta poderia oferecer residência legal a um total de 4.4 milhões

Reforma migratória integral

Os democratas e a Casa Branca estão buscando promover componentes de uma reforma migratória integral que poderia ter algum apoio bipartidário, como os dois aprovados nesta quinta-feira.  

A presidenta da câmara baixa, Nancy Pelosi, afirmou pouco antes da aprovação que os votos expressam “uma diferença sobre como respeitamos a bela diversidade dos Estados Unidos, como respeitamos o fato de que a migração é a revitalização constante dos Estados Unidos”.

Jen Psaki, a porta-voz da Casa Branca expressou que esses projetos de lei são fundamentais para “milhões de indivíduos que chamam os Estados Unidos de sua casa” e agregou que “são o reconhecimento de uma via à cidadania para estes trabalhadores essenciais e criticamente importantes para nossa economia e nosso setores de alimentos e agricultura”. 

Alguns democratas e agrupamentos de imigrantes e seus defensores insistem, apesar da oposição de republicanos, de não limitar suas ambições para promover mudanças de fundo na política migratória. Um grupo de legisladores democratas influentes em ambas as câmaras estão impulsionando nesta semana outro projeto de lei para outorgar um processo para a cidadania dos aproximadamente cinco milhões de indocumentados que são “trabalhadores essenciais” nos setores de saúde, sanidade, de alimentos e agricultura, entre outros. 

Por sua vez, coalizões de campanhas como “We are home” e organizações de imigrante nacionais como Mijente, sindicatos e igrejas entre outros, enquanto apoiam essas medidas e projetos de lei parciais, insistem em promover uma reforma integral que inclui legalizar os 11 milhões de indocumentados (quase a metade são mexicanos), desmantelar as medidas anti-imigrantes e reduzir os fundos para agências anti-imigrantes empregadas por Trump e fazer com que essas instâncias prestem contas de seus abusos. 

A proposta de uma reforma migratória integral promovida por Joe Biden ao chegar à Casa Branca está congelada por ora, embora estratégias pró imigrantes apontem que sempre foi contemplado o que já se está tentando com o aprovado hoje; promover a reforma por partes. 

Mas o grande desafio político imediato para o governo de Biden é a situação na fronteira com o incremento do fluxo migratório, tema que está sendo usado pelos republicanos para entorpecer e brecar as iniciativas de reformas. Os republicanos estão qualificando o recente fluxo na fronteira como uma “crise” provocada por Biden, argumentando falsamente que Donald Trump havia solucionado o problema, e já disseram que não apoiarão inciativas enquanto se resolve a “crise” fronteiriça, tudo indicando que muitos continuarão com os argumentos anti-imigrantes do governo anterior. 

De fato, Stephen Miller, o estrategista anti-imigrantes de Trump comentou à agência AP que o tema da imigração será fundamental para republicanos nas eleições intermediárias de 2022.

Portanto, há uma enorme pressão sobre a Casa Branca e o Departamento de Segurança Interno de demonstrar que têm o “controle” sobre a situação para poder avançar sobre o tema. 

Como parte disso, reportam meios estadunidenses, o governo de Biden tem buscado de maneira discreta instar o governo de Andrés Manuel López Obrador a continuar com algumas medidas de contenção do fluxo migratório à fronteira que foram adotadas durante o governo de Donald Trump sob ameaça.

Segundo versões extraoficiais, o governo de Biden deseja que o México receba mais famílias expulsas pelas autoridades estadunidenses e incremente suas medidas para barrar o ingresso de centro-americanos na fronteira com a  Guatemala, entre outras coisas,

Funcionários de ambos os governos não confirmaram a especulação em alguns meios de que há um acordo, pelo menos implícito, no qual em troca de vacinas enviadas por Washington, México intensificará seu trabalho para frear o fluxo para a fronteira estadunidense. Psaki, a porta-voz da Casa Branca, perguntada sobre isso, ao confirmar que os Estados Unidos “emprestarão” 2,5 milhões de vacinas ao país vizinhos, afirmou que há “várias conversações diplomáticas – conversações paralelas” com o México, indicando que os temas não estão relacionados. 

Enquanto isso, Xavier Becerra, um filho de imigrantes mexicanos, foi ratificado pelo Senado (apenas por um voto, 50 a 49) para ser o primeiro latina como secretário do Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS). O ex-legislador federal e mais recentemente procurador geral da Califórnia estará a cargo de uma dependência que, entre outras coisas, está à frente da luta contra a pandemia como também é encarregada dos milhares de imigrantes menores de idade que estão no centro do disputa migratória e do manejo “humanitário” dos mais vulneráveis no fluxo migratório pela fronteira.

O governo de Biden tem sido fortemente criticado por sua resposta a um aumento de passagens de fronteira não autorizadas de crianças sem companhia de adultos. 

Enquanto cerca de 4.500 menores aguardam em instalações da Patrulha Fronteiriça que não estão equipadas para detenções a longo prazo, onde alguns dormem no chão, o HHS apressou-se a abrir locais de detenção em todo o país e tentou apressar os seus processos para libertar as crianças sob custódia 

Atualmente o HHS guarda cerca de 9.500 menores, informou a agência AP.

David Brooks, Correspondente de La Jornada em Nova York.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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