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Greve de entregadores de aplicativos gera esperança de união contra governo

A conquista da democracia tem que reunir todas as forças democráticas em uma frente ampla e esta precisa contemplar trabalhadores
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Tem muita coisa acontecendo à margem das discussões entre lideranças partidárias sobre o caráter de uma Frente Ampla. Essas discussões revelam duas coisas: de um lado, a preocupação com a manutenção do status quo e o medo da quebra da institucionalidade; de outro lado, um esquerdismo, que na visão do grande e imortal Lenin, é a doença infantil do comunismo. Em ambos os casos, há o medo, oculto ou explícito, da quebra da institucionalidade.

Aprendemos com a história e com a prática que quando fica claro que o inimigo é contra todas as classes, há que unir todas as forças para derrotá-lo. O governo é produto de uma operação militar de inteligência para capturar o país. Seu projeto econômico é o neoliberal, que vem sendo executado pelo superministério da Economia. O objetivo não explícito desse projeto está contido na estratégia de segurança nacional dos Estados Unidos, que é sufocar, por qualquer meio, qualquer intendo de independência que possa significar concorrência ou alianças fora do eixo hegemônico.

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Essa é a questão. Trata-se, realmente, da necessidade de articular uma Frente de Salvação Nacional. O Zé Dirceu, neste artigo, definiu muito bem essa questão: são dois momentos, são duas coisas diferentes. O primeiro momento é a salvação nacional, recuperação da soberania, só possível com a derrubada do governo de ocupação. O segundo é a disputa eleitoral por um projeto de país. Esse segundo momento só pode ser viabilizado frustrando o plano dos militares de permanecerem 40, 50 anos no poder.

A conquista da democracia tem que reunir todas as forças democráticas em uma frente ampla e esta precisa contemplar trabalhadores

Reprodução: Twitter
A greve dos entregadores de aplicativo está marcada para o dia primeiro de Julho

Os que estão defendendo uma frente de esquerda, seja antes, seja depois da derrubada do governo, estão perdendo uma grande oportunidade para ser realmente de esquerda e aproximarem-se dos movimentos populares, colocarem-se como força auxiliar nas suas reivindicações, compartilharem com eles suas angustias, serem solidário, ajudá-los naquilo que for possível, principalmente em questões de organização e de sistematização de suas demandas diante da tríplice crise que afeta a nação. 

Vejamos alguns dos acontecimentos

Temos diante de nós o chamado dos entregadores para uma greve da categoria, para amanhã, dia 1º. Têm razão. Esse pessoal junto com o pessoal da área da saúde são os que mais estão expostos aos riscos dessa tríplice crise. Nessa área de entrega tem gente que nunca antes havia feito esse tipo de serviço e está fazendo agora no desespero por ter perdido o emprego ou tido seu salário reduzido a um mínimo insustentável.

Só em maio, segundo o Cadastro Geral de Emprego e Desemprego, foram fechados 332 mil postos de trabalho. Pasmem. A previsão do tal mercado (elevado à condição de deus) era de que a perda de postos de trabalho chegasse a 700 mil. Estão contentes porque não atingiram nem a metade do previsto.

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Os entregadores já eram explorados e com o aumento da demanda, por conta do isolamento social, estão trabalhando dobrado e sem compensação. É um trabalho de duplo risco: o da contaminação (ser contaminado ou contaminar) e o de vida, por estar no trânsito caótico, cheio de motoristas com índole assassina, que passam por cima de um motoqueiro pelo gosto de matar. Há entregadores de automóvel, de moto (os mais comuns), de bicicleta, de patinete e até de a pé.

Esses trabalhadores ganham uma miséria e ainda são proprietários dos veículos postos à disposição do lucro do explorador. E tem gente que ao receber a mercadoria ainda trata mal esses trabalhadores. 

Nossa solidariedade a esses trabalhadores e todos aqueles que não puderam se afastar do trabalho porque, se pararem, prejudicam a população inteira. 

Dados publicados hoje indicam que são 60 milhões nessa condição. 60 milhões que se expõem em função de propiciar bem estar para os outros, para você.

Metrô vai parar

Outra frente de luta é a dos metroviários que também poderão entrar em greve a qualquer momento. Essa categoria, das mais organizadas, tem sindicato que negociou com a diretoria do Metrô, em abril, manter o que foi aprovado no Acordo Coletivo. 

Os metroviários estão em assembleia de emergência porque a direção da empresa resolveu, por conta própria, reduzir salários e outras conquistas. 

Vamos considerar, minha gente, que o dono dessa empresa ainda é o Estado. O senhor João Dória, governador tucano, não tem o direito de passar por cima do que foi acordado entre as partes!

A direção sindical explica que não querem aumento, não pediram aumento no acordo, precisamente em respeito à situação de crise. Agora querem tão somente que se respeitem seus direitos.

Como os metroviários sabem que a população será quem mais vai sofrer se paralisarem o Metrô, a greve se fará com a liberação nas catracas. Ou seja, o Metrô funcionará normalmente, de graça, até que a direção da empresa resolva respeitar os direitos dos trabalhadores. 

Caminhoneiros também

Há também, já correndo desde fevereiro, mobilização dos caminhoneiros com vista a paralisar a categoria. Eles ainda não pararam por causa do baixíssimo movimento nas estradas. 

Está em jogo tabelas de frete, a péssima qualidade das estradas, os pedágios abusivos. As empresas de transporte alegam que a tabela de frete fere os princípios constitucionais da livre concorrência e da livre iniciativa. Já os caminhoneiros alegam que sem o mecanismo não é possível cobrir os custos do serviço e garantir o sustento.

Greve geral

Em meio a tudo isso, o Contrapoder — espaço de discussão que gente de vários partidos de esquerda — informa que está chamando para uma greve geral contra a devastação neoliberal, como a recente entrega à iniciativa privada do abastecimento de água e das redes de esgoto. 

A plataforma tem a intenção de elaborar um projeto socialista para o Brasil e chama à greve com a seguinte justificativa:

A ofensiva neoliberal é uma política de Estado que independe do partido de plantão. Ela tem sido impulsionada pela ação unificada do executivo, legislativo e judiciário e tem ocorrido em todas as dimensões da federação – união, estados e municípios. A guerra fratricida pelo controle do Estado, que polariza a política nacional, em nada tem comprometido a unidade inquebrantável dos agentes políticos da burguesia no encaminhamento dos interesses do capital. Com poucas nuances, a agenda liberal tem sido apoiada por todos os partidos da ordem, do projeto Aliança pelo Brasil de Bolsonaro ao PT de Lula. 

Se não houver uma reação contundente da classe que vive do próprio trabalho, não haverá limite à destruição dos direitos e ao saque da nação. Daí a importância crucial da greve dos metroviários de São Paulo e da greve nacional dos trabalhadores de aplicativos de serviços de entrega.

Uma frente, enfim!

Uma única palavra pode unir uma frente ampla: soberania. 

Soberania sobre os centros de decisões, sobre as riquezas nacionais. Temos que derrubar o ilegal governo de ocupação para recuperar a soberania. 

E para construir a unidade da esquerda, vamos fazê-lo inseridos no movimento de massa, nas favelas organizadas para enfrentar a Covid à margem do estado, com os trabalhadores em greve, e com aqueles que deverão entrar em greve.

Muita perda de direito ainda está para acontecer, com os trabalhadores desempregados, precarizados, escravizados, com as mulheres exploradas e com todos os subjugados dessa nossa pátria irredenta.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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