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Foto: Stanislav Krasilnikov / Sputnik

Guerra na Ucrânia: trégua mediada por Trump exclui pontos cruciais para paz

Cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia visa proteger infraestrutura energética de ambos os países, mas Kremlin reforça que acordo definitivo exige abordar raízes do conflito
Juan Pablo Duch
La Jornada

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Na última terça-feira (18), após conversar por telefone com seu homólogo estadunidense, Donald Trump, durante pouco mais de duas horas, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, aceitou como fórmula de compromisso que nem Moscou, nem Kiev ataquem durante 30 dias as infraestruturas energéticas de seu inimigo.

A proposta inicial de Trump era de um cessar-fogo incondicional. Ao rejeitar a iniciativa, Putin argumentou o que se acredita serem as objeções que há dias tornou públicas sobre as dúvidas que, em sua opinião, existem para estabelecer sem mais delongas um cessar de hostilidades durante um mês.

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Ao mesmo tempo, para que não acabasse em fracasso a segunda conversa telefônica que mantiveram desde a posse de Trump, Putin não fechou a porta a um componente da trégua que o estadunidense queria impor e, desse modo, durante 30 dias, se cumprido, a Rússia deixará de atacar a infraestrutura energética da Ucrânia, e esta não lançará mais drones e mísseis contra as refinarias e depósitos de combustíveis em solo russo.

Confira todas as notícias sobre a Guerra na Ucrânia.

Aliás, a proposta de Trump não é original e copia a que Kiev fez – respaldada por Grã-Bretanha e França – e que Washington declinou, embora seja muito mais fácil de verificar do que um cessar-fogo completo.

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O serviço de imprensa do Kremlin desta vez não demorou a informar o que os observadores consideram o principal resultado das conversas entre os presidentes, e declarou:

“Durante as conversas, Donald Trump formulou a proposta de que ambas as partes do conflito (Rússia e Ucrânia) renunciem a atacar suas infraestruturas energéticas. Vladimir Putin se mostrou disposto a apoiar esta iniciativa e de imediato deu a ordem correspondente aos militares russos.”

Cessar-fogo na Ucrânia: entenda as razões de Putin para hesitar em aceitar a proposta

Do comunicado emitido pela presidência russa, depreende-se que não houve avanço em relação à “divisão de territórios e ativos” que Trump havia insinuado e, em troca, ficou claro o que a Rússia considera indispensável para declarar um eventual cessar-fogo.

Apesar de Trump não ter alcançado nenhuma de suas metas para esta conversa, ele a qualificou como “muito boa e produtiva”, e publicou em sua rede Truth Social: “Acordamos um cessar-fogo imediato para toda a infraestrutura energética, com o entendimento de que trabalharemos muito rapidamente para uma trégua completa e, finalmente, acabar com esta horrível guerra. O processo está em andamento e, pelo bem da humanidade, conseguiremos terminá-lo.”

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Para alcançar esse objetivo, e antes “para evitar uma escalada do conflito e trabalhar em sua solução por meios políticos e diplomáticos”, Putin enfatizou que Kiev não deverá receber mais armamento do Ocidente, tampouco informações de inteligência, e não poderá recrutar soldados no que chama de “mobilização forçada”, mas nada disse sobre esse tipo de limitação para Moscou.

Os presidentes concordaram, segundo o Kremlin, em “manter contato sobre todos os assuntos tratados” e em “continuar os esforços para alcançar um acordo político” na Ucrânia.

A esse respeito, acordaram criar grupos bilaterais de especialistas cuja tarefa será “elaborar uma iniciativa conjunta que facilite uma solução negociada, que deve ter um caráter abrangente, sustentável e duradouro”.

Ainda para o Kremlin, isso não será possível sem resolver “as causas que originaram o conflito”. Possivelmente, isso inclui a garantia de que a Ucrânia não ingressará na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

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No que se interpreta como uma concessão de Moscou, no caso de ser realizada, Putin “reagiu de maneira construtiva” à “conhecida iniciativa” que Trump reiterou “de tornar mais segura a navegação no Mar Negro”, razão pela qual os presidentes concordaram em “iniciar negociações para ajustar os detalhes desse entendimento”.

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Putin, destaca seu serviço de imprensa, comentou a Trump que na última quarta-feira (19), “por razões humanitárias”, seria realizado uma troca de prisioneiros de guerra sob a fórmula de 175 por 175 e, como gesto de boa vontade, a Rússia entregaria 23 feridos graves, militares ucranianos que se encontram em hospitais russos.

Troca de prisioneiros entre Rússia e Ucrânia

Nada diz o comunicado sobre a proposta ucraniana de trocar todos os prisioneiros de guerra de uma só vez, assim como devolver as crianças ucranianas que, asseguram, foram levadas contra sua vontade para a Rússia.

Em relação aos soldados ucranianos que a Rússia afirma estarem cercados em Kursk – e a Ucrânia nega que seja verdade, alegando que a retirada de suas unidades de Sudzha se deveu a evitar que morressem em um combate sem sentido –, Putin levou em consideração o pedido de Trump de salvar suas vidas.

A Rússia não se opõe a isso, mas em seu comunicado aponta que o presidente russo destacou que esses soldados – 10 mil efetivos, de acordo com diversas fontes – terão que se render e, nesse caso, promete que “serão tratados com dignidade e de acordo com a legislação russa e o direito internacional”.

Esses soldados foram considerados “terroristas” pela Rússia, por terem cometido “inúmeros crimes contra a população civil” em Kursk, e por seu destino, caso deponham as armas, pode ser a prisão perpétua.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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