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Rússia se mantém firme na jornada em busca de um acordo pacífico com OTAN

Embora EUA e Aliança Atlântica não atendam às demandas russas, Moscou não pretende alongar conversas "sobre questões que requerem solução hoje"
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

Semana decisiva – e não no sentido se haverá ou não a guerra que os Estados Unidos anunciam, que a Rússia desmente e que a Ucrânia não vê como algo inevitável – mas sim devido a que nos próximos dias Moscou terá que tornar pública sua resposta a Washington e seus aliados.

Está disposto o Kremlin a negociar medidas, que embora não satisfaçam suas exigências principais em matéria de segurança, podem reduzir a tensão, afastar o risco de um conflito devastador e sentar as bases para estabelecer um novo equilíbrio estratégico?

É a pergunta que a Rússia tem que responder porque no sábado e no domingo seguintes terminam suas manobras militares – as navais no mar Negro e as terrestres na Bielorrússia – e se é certo o que disseram ativamente e passivamente os distintos porta-vozes russos, os barcos de guerra, as tropas e o armamento destinados deveriam regressar às suas bases permanentes.

Se não o fizer, Moscou ficará como alguém que promete muito e não cumpre sua palavra, por mais pretextos que tentem justificar sua repentina mudança de opinião. Mas como a retirada não pode parecer que a Rússia atirou a toalha por causa das advertências dos Estados Unidos e aliados, os estrategistas do Kremlin tratarão neste dias de dar a volta às suas razões para iniciar o fim da escalada na fronteira com a Ucrânia.

E a primeira será explicar que – embora o ocidente não tenha aceitado fechar a porta a novos membros na OTAN, nem instalar armamento ofensivo perto de suas fronteiras, nem desmantelar a infraestrutura militar norte-atlântica a níveis anteriores a 1997 – só graças a que o Kremlin formulou exigência difíceis de cumprir agora será possível discutir iniciativas russas que haviam sido rechaçadas (entre outras, novo tratado de mísseis de curto e médio alcance, afastamento das fronteiras de armamento ofensivo, medidas de transparência e inspeções recíprocas).

Pelo menos o Kremlin começou a semana com claros sinais que apontam que, na sua opinião, vale a pena seguir negociando.

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O titular do Kremlin – sentado a muitos metros de distância para evitar os contágios em tempos de ômicron, tão longe ou mais do que esteve a semana passada o presidente francês, Emmanuel Macron, versão que foi confirmada por sua porta-voz, Dmitry Peskov, dizendo que é uma medida de precaução em plena pandemia que não impede uma conversação fluida – escutou de seu chanceler, Serguei Lavrov, que “é possível chegar a acordos” com os Estados Unidos e a OTAN.

A pergunta de Putin era direta: “Há alguma possibilidade de chegar a um acordo sobre os assuntos chave que nos preocupam ou só é uma tentativa de fazer-nos perder tempo com um processo de negociação interminável?”

“Embora (EUA e aliados) não atendam nossas demandas essenciais em matéria de segurança e lhes advertimos que não estamos dispostos a conversar indefinidamente sobre questões que requerem solução hoje, como titular da chancelaria devo dizer que sempre é possível chegar a algum acordo”.

Agregou: “Tenho a impressão de que nossas possibilidades estão longe de esgotar-se… e sugiro que nesta etapa devemos seguir insistindo, assim como intensificar os contatos”. O mandatário lhe deu luz verde. 

Pouco depois, Peskov confirmou que Putin “já aprovou conceitualmente a resposta russa sobre as garantias de segurança” que ocupam “umas dez folhas” e que se tornarão públicas “em seu momento”. 

O presidente russo recebeu também seu ministro de Defesa, Serguei Shoigu, que expos os detalhes da expulsão do submarino estadunidense, que há pouco tentou entrar nas águas territoriais russas no extremo oriente e lhe apresentou um informe sobre as distintas manobras que são realizadas pelo exército e armada russa neste momento.

Embora EUA e Aliança Atlântica não atendam às demandas russas, Moscou não pretende alongar conversas "sobre questões que requerem solução hoje"

Presidential Executive Office of Russia / Wikimedia Commons
O Kremlin começou a semana com claros sinais que apontam que, na sua opinião, vale a pena seguir negociando

E para não baixar a guarda no terreno das pressões aos Estados Unidos, à OTAN e à Ucrânia, informou-se que a Duma vai discutir nesta terça-feira qual resolução aprovar, das duas que foram consenso entre seus deputados: uma, a iniciativa da bancada minoritária comunista, pedir ao presidente Putin que reconheça já a independências das províncias de Donietsk e Lugansk que não se supeditam a Kiev e a outra, menos radical e que conta com o apoio da bancada oficialista majoritária, enviar essa petição à chancelaria e outras dependências governamentais para que emitam um ditame sobre sua procedência. 

Além disso, o presidente bielorrusso, Aleksandr Lukashenko, por iniciativa própria ou influenciado por Moscou, fez ontem declarações para dizer que “ainda não está decidido quando a Rússia vai retirar os soldados que estão na Bielorrússia”. Afirmou que “o faremos quando quisermos porque estão em nosso território e não escutamos quando eles (EUA e a OTAN) vão retirar as tropas ou armamento que nos ameaçam”.

No entanto, a opinião de Lukashenko importa pouco: as decisões são tomadas, se comenta aqui, por quem tem as armas nucleares. Em todo caso, nesta mesma semana Putin vai falar com seu colega bielorrusso para anunciar se as tropas russas vão embora ou ficam na Bielorrússia.

La Jornada — Direitos reservados
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul


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Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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