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Saída de tropas de ilha ucraniana busca viabilizar corredor humanitário, afirma Rússia

“Com isso, mostramos à comunidade internacional que a Federação Russa não entorpece os esforços da ONU", declarou o Ministério da Defesa russo
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

Enquanto o exército russo continua avançando na região de Lugansk, onde concentra a maior parte de suas forças, a Ucrânia anotou n a última quarta (29) um tão simbólico como significativo triunfo ao recuperar a pequena ilha das Serpentes, a 35 quilômetros da costa ucraniana no mar Negro, ocupada pelos russos desde 24 de fevereiro, no mesmo dia em que entraram na Ucrânia. 

A importância deste pequeno pedaço de terra a 140 quilômetros dos portos de Odessa e Nikolayev reside em que a partir daí a Rússia teria podido instalar sistemas de defesa antiaérea e de mísseis de alcance médio que, uma vez retiradas as minas em torno dos acessos a esses portos, facilitariam a operação de desembarque russo que até agora, quatro meses depois, não pode levar-se a cabo. 

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O exército ucraniano deu a conhecer que, durante vários dias, atacou com mísseis e artilharia a ilha das Serpentes, o que motivou que os sobreviventes do quartel russo localizado aí abandonassem a ilha na passada madrugada precipitadamente em duas lanchas rápidas da classe Raptor que acudiram em sua ajuda. 

O ministério da Defesa russo, por sua parte, informou no dia 29 de junho que a retirada de suas forças da ilha das Serpentes é “um gesto de boa vontade”, a mesma explicação que deu quando suas tropas se retiraram das regiões de Kiev, Chernigov e Sumy, no norte da Ucrânia. 

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“Com isso, mostramos à comunidade internacional que a Federação Russa não entorpece os esforços da ONU (Organização das Nações Unidas) por organizar um corredor humanitário para a saída por mar da produção agropecuária do território da Ucrânia”, indica seu comunicado. 

“Esta decisão não permitirá a Kiev continuar especulando com o tema de uma iminente crise alimentar, argumentando que não pode tirar seus cereais pelo bloqueio da Rússia na zona norte-ocidental do mar Negro”, agrega.

Por simples coincidência, no dia 29 de junho mesmo saiu do porto de Berdyansk, na região de Zaporiyia em parte sob controle russo, o primeiro barco mercante com cereal ucraniano com destino a “países amistosos” não identificados, dando um novo argumento à parte ucraniana que se queixa do “saqueio russo”, que segundo Kiev alcança já “cerca de 400 mil toneladas de grãos”, acusação que a Rússia rechaça.

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Correio da Manhã
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Nova controvérsia

Continua sem resolver-se a controvérsia da Rússia com a Lituânia, membro do Tratado do Atlântico Norte (Otan) pelo fechamento parcial do tráfego de mercadorias entre o enclave russo de Kaliningrado e o resto da Rússia devido à leitura lituana do sexto pacote de sanções da União Europeia (UE). O Kremlin já tem um novo problema com outro país da Otan, Noruega, por razões similares, desta vez a respeito da zona mineira explorada pelo companhia russa Artikugol na ilha de Spitsbergen, no arquipélago ártico de Svalbard.

A Chancelaria da Rússia espera que a Noruega, como enfatizou a nota de protesto entregue na quarta-feira passada (29) à Encarregada de Negócios a.i., Solveig Rossebo, levante a proibição de fornecer mercadorias, cerca de 20 toneladas de comestíveis, equipamentos médicos, materiais de construção e repostos automobilísticos, para os 500 mineiros russos que vivem no povoado de Barentsburg.

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“Exigimos que a parte norueguesa solucione o problema o antes possível. Estas ações inamistosas contra a Rússia conduzirão inevitavelmente às correspondentes medidas de resposta”, advertiu a Chancelaria.

A Rússia considera que a Noruega viola o acordo de Paris de 1920 que reconheceu a soberania norueguesa sobre o grupo de ilhas que conformam esse arquipélago, o mais setentrional do país no meio do Oceano Glacial Ártico e com apenas três ilhas habitáveis (Spitsbergen, Oslo e Hopen, que somam não mais de 2 mil habitantes entre as três) e, ao mesmo tempo, permite que as expedições que tinham Alemanha, Estados Unidos, Grã Bretanha, Itália, Países Baixos, Rússia (que ainda não se tinha convertido em União Soviética, mas já tampouco era império czarista) e Suécia continuassem tentando explorar as minas de carvão, principal riqueza das inóspitas ilhas. 

Com o passar dos anos, os russos ficaram e até abriram um consulado geral em Barentsburg, mas acabados os tempos de convivência pacífica com a Otan, quando a Rússia passou de “sócio estratégico” (Lisboa, 2010) a “ameaça significativa e direta” (Madrid, 2022), Spitsbergen está se convertendo, para a Rússia, em um local estratégico e, para a Otan, em um lugar onde os russos não devem estar. 

A Rússia confia que se concretizem os sinais que recebeu de Bruxelas e na semana próxima se resolva a controvérsia com a Lituânia, no caso de que esta ceda e adote a proposta da UE no sentido de que Kaliningrado forma parte da Rússia e, portanto, não devem ser aplicadas as sanções às mercadorias desde território russo ao não se tratar de operações de comércio internacional. 

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Aqueles que conhecem isto, pensam que a sugestão da UE à Lituânia poderia criar um precedente e facilitar que o desencontro entre a Rússia e a Noruega, que por si só dispara a tensão com a Otan, não termine em um conflito armado.


Mensagem de Zelensky

De visita a Moscou, em sua qualidade de chefe de Estado do país anfitrião da seguinte cúpula do G20 (foro integrado por 19 países e a União Europeia), o presidente da Indonésia, Joko Wikodo, reuniu-se no dia 29 de junho com o presidente Vladimir Putin no Kremlin. 

Wikodo anunciou em 29 de junho, ao comparecer ante a imprensa, que entregou ao seu colega russo uma mensagem do presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky, sem revelar seu conteúdo.

Declarou: “Entreguei uma mensagem do presidente Zelensky ao presidente Putin” e também “expressei minha vontade de ajudar a pôr em marcha um canal de comunicação entre ambos”. 

Só resta aventurar qual poderia ser a mensagem de Zelensky e a maioria daqueles que assistiram essa coletiva de Wikodo e Putin coincidem em que talvez se referisse a uma inciativa para desbloquear os portos ucranianos do mar Negro.

A favor dessa hipótese mencionaram que o presidente indonésio retificou sua intenção de contribuir aos esforços coordenados pela ONU para evitar uma crise alimentar e o titular do Kremlin, por sua parte, negou com ênfase que a Rússia esteja impedindo que a Ucrânia saque por mar seus cereais e reiterou sua convicção de que são os próprios ucranianos os que criam artificialmente uma crise alimentar. 

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Mas outros se inclinam a que Zelensky, que sem a Ucrânia ser membros do G20, foi convidado por Wikodo à cúpula de Bali, propôs a Putin declarar um alto ao fogo nos dias 15 e 16 de novembro e reunir-se cara a cara na paradisíaca ilha da Indonésia que será sede da cúpula. 

Não seria descabelada uma iniciativa desse tipo, embora ainda nem sequer é claro que Putin vai comparecer. Seu porta-voz, Dmitri Peskov, disse em 29 de junho que “ainda não foi tomada a decisão”, embora o assessor presidencial de política exterior tenha afirmado há alguns dias que seu chefe “vai participar na cúpula”, só lhe faltou informar em que formato, e no caso de não viajar à Indonésia não deveria excluir-se que possa fazê-lo à distância, por videoconferência.

Juan Pablo Duch correspondente de La Jornada em Moscou
Tradução Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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