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ToggleComo parte de seu repertório de alquimia eleitoral, as autoridades da Bielorrússia não darão a conhecer os resultados das eleições presidenciais de domingo, embora a demora – sobretudo havendo tão poucos votos que contar, pouco menos de 7 milhões foram o eleitorado e é claro que nem todos foram votar – não fará mais crível o triunfo de Aleksandr Lukashenko, o atual presidente que opta, a qualquer preço, por sua sexta reeleição desde 1994 com o respaldo, como ele gostaria, de não menos de 80% dos votos depositados.
Por enquanto, segundo as pesquisas de boca de urna das autoridades, Lukashenko obteve 79,07% e sua principal rival, Svetlana Stojanovska, candidata unificada da oposição, apenas 6,08%.
Em contraste as pesquisas levadas a cabo pela oposição mostram que por Stojanovska votaram 71% e por Lukashenko, só 10%.
Wikipedia
Aleksandr Lukashenko
Acreditar em quem?
Antes de abrir as urnas já haviam votado – segundo a máxima autoridade eleitoral bielorrussa – mais 41% dos eleitores, usando a pouco clara modalidade de voto antecipado, que se presta a todo tipo de manipulações e ajustes; em troca, aqueles que foram às urnas no domingo se encontraram com a novidade de que não havia suficientes cédulas para todos e, em alguns lugares, depois de encerrada a votação no resto do país, continuavam votando alguns seguidores do presidente.
Também apareceram de repente – supostamente como louvável medida para evitar contágios da Covid-19 – incontáveis barreiras para poder votar.
Em Moscou, conforme se pode ver, junto à embaixada da Bielorrússia se formaram quilométricas filas de bielorrussos registrados aqui que, desde às oito da manhã quiseram exercer seu direito ao voto.
Na Rússia há 650 mil bielorrussos, a maioria jovens, que tiveram que emigrar em busca de trabalho e tiveram que votar com apenas 10 pessoas ao mesmo tempo dentro da sua legação diplomática; por isso só foi permitido o voto a 3.788 pessoas.
Entretanto, em Minsk, com 1500 detidos por presumidos delitos prévios e um número ainda por determinar também durante a jornada eleitoral – entre ativistas, jornalistas, observadores e simples cidadãos – a polícia arremeteu contra repórteres estrangeiros que solicitaram credenciamento desde junho, e começou a prender inconformados que no centro de Minsk exigiam celebrar novas eleições sem Lukashenko.
O mandatário que busca a reeleição ordenou enviar tropas e carros blindados para dissuadir quem não esteja de acordo com sua vitória ainda não proclamada, ao mesmo tempo que foram fechadas estações do metrô no centro da capital bielorrussa e a internet deixou de funcionar para bloquear as redes sociais e impedir que a informação circule.
Nesse contexto de intimidação, Tijonov Kaya pediu a seus seguidores que não renunciam a defender seu voto e, em caso de ser confirmada a fraude, quando forem anunciados os resultados oficiais definitivos, que expressem seu protesto de maneira pacífica e, como primeiro ação, que se somem à greve geral – o que seria um duro golpe à economia de um país cujo setor público alcança 70% – que convocaria nesse cenário.
Juan Pablo Duch, correspondente de La Jornada em Moscou
La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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