As autoridades russas seguem reforçando que por trás dos islâmicos radicais que cometeram o massacre, na última sexta-feira (22), em uma sala de concertos de Moscou, poderiam estar os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a Ucrânia.
Em resposta a uma pergunta direta de um veículo de mídia russo sobre se Washington, Londres e Kiev de alguma forma usaram, prepararam ou financiaram os sicários e seus cúmplices, todos cidadãos do Tajiquistão que viviam na Rússia como trabalhadores imigrantes, o diretor do Serviço Federal de Segurança (FSB, pelas suas siglas em russo), Aleksandr Bortnikov, respondeu: “Nós acreditamos que sim. Em qualquer caso, estamos falando agora sobre a informação objetiva que temos. É informação de caráter geral, mas não devemos esquecer que eles também têm muitos recursos”.
Bortnikov emitiu a versão oficial divulgada pelo Kremlin, corroborada na segunda-feira pelo presidente Vladimir Putin durante uma videoconferência com os responsáveis pela investigação do atentado, transmitida pela televisão pública, quando afirmou: “Sabemos quem o executou (o atentado), agora não vamos parar até saber quem o organizou”.
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Putin mesmo antecipou a resposta: “Esta atrocidade só pode ser mais um elo nas tentativas de todos aqueles que têm estado em guerra com o nosso país desde 2014 através do regime neonazista de Kiev“.
Entrevistado pela imprensa oficialista ao sair de uma reunião do mandatário russo com a cúpula da procuradoria-geral, na qual estiveram presentes os chefes das dependências da área de segurança do Estado, Bortnikov admitiu que ainda não foi identificado o autor intelectual (do atentado), mas acrescentou que os miseráveis (atacantes) tinham a intenção de fugir para outro país. Concretamente, para o território da Ucrânia. “De acordo com a informação em nosso poder, preliminar, operativa, eles estavam esperando lá”.
O diretor do organismo sucessor da KGB soviética assegurou: temos conhecimento de que a Ucrânia formou e preparou grupos de islâmicos radicais no Oriente Médio e opinou que é necessário declarar organização terrorista o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU, pelas suas siglas em ucraniano).
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“É indispensável fazê-lo. Acredito que é a base não só para considerar, mas para tomar as decisões pertinentes”, afirmou, e advertiu: “Haverá, sem dúvida, medidas de retaliação. Estamos trabalhando nisso. Todos aqueles que tiverem algo a ver, sem levar em conta até mesmo quanto tempo faz que ocorreu (o atentado), serão encontrados e punidos. Que não duvidem disso”.
A insistência dos repórteres, Bortnikov confirmou que os dirigentes dos serviços secretos da Ucrânia, e especialmente Kiril Budanov, diretor da inteligência militar desse país, são um alvo legítimo, no sentido de serem mortos. “Qualquer indivíduo que cometa crimes contra a Rússia e os cidadãos russos é um alvo legítimo“, sublinhou.
O secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, ao sair da mencionada reunião na procuradoria-geral, reforçou a explicação de Bortnikov ao responder a uma única pergunta, “Foi o Estado Islâmico ou a Ucrânia?”, lançada por um repórter: “Claro que foi a Ucrânia, sustentou enquanto saía às pressas”.
Chanceler rejeita ajuda de Washington
Embora o diretor do FSB reconheça que persiste a ameaça de atentados terroristas no território da Rússia, o chanceler Serguei Lavrov, na coletiva de imprensa ao término de sua conversa com seu homólogo da Namíbia, rejeitou, na última segunda, a oferta de ajuda dos Estados Unidos e seus aliados para esclarecer o atentado.
“Estou seguro – manifestou o ministro russo das Relações Exteriores, de acordo com a versão do Kremlin sobre o ocorrido na sexta-feira em Moscou – de que poderemos realizar esta investigação nós mesmos; por outro lado, não creio que necessitemos da ajuda (do Ocidente) que claramente se converteria em uma mostra de dois pesos e duas medidas e muito provavelmente promoveria a teoria muito útil para os Estados Unidos e seus aliados de que (o atentado) foi perpetrado pelo Estado Islâmico, enquanto a Ucrânia nada teve a ver com o sucedido”.
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E sem ser talvez esse o seu propósito, o presidente da Bielorrússia, Aleksandr Lukashenko, colocou em evidência seu colega russo e aliado, Vladimir Putin, ao declarar ontem que o plano original dos atacantes era fugir para Belarrussia e não para a Ucrânia, como insiste em assinalar o Kremlin.
“Colocamos nossas forças em ação. Eles não poderiam de maneira alguma entrar na Bielorrússia. Eles perceberam isso e deram meia-volta, dirigindo-se então para a fronteira entre a Rússia e a Ucrânia, declarou Lukashenko, de acordo com um comunicado da Belta, a agência oficial de notícias de Minsk.
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