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ToggleA guerra de Israel contra a Palestina, que tomou proporções mais drásticas desde 7 de outubro de 2023, fez crescer nas redes e na mídia a menção de termos étnicos, culturais e religiosos como “árabe”, “islâmico”, “muçulmano” e “palestino”.
Mas, afinal, sabemos exatamente o que significa cada uma dessas expressões?
Em entrevista à TV Diálogos do Sul Global, a antropóloga e professora da USP Francirosy Campos Barbosa afirmou que “90% dos muçulmanos consideram que a mídia não sabe diferenciar o que é ser palestino, árabe e muçulmano”.
Ainda durante o programa Dialogando com Paulo Cannabrava, Barbosa falou sobre o problema da islamofobia, tema que se dedica a pesquisar, e sugeriu: “é muito importante trazer esse debate, fazer com que as pessoas olhem e pensem ‘como vou escrever’”.
A seguir, entenda as particularidades, distinções e relações entre os termos.
Islâmico
Ser islâmico se refere a seguir o Islamismo, a religião surgida por volta do ano 610 d.C., a partir dos ensinamentos do Profeta Muhammad (Maomé), e que cultua Allah — Deus, em árabe.
Segundo o Islamismo, Maomé recebeu as profecias e princípios da fé islâmica do anjo Gabriel e os organizou no Alcorão, seu livro sagrado.
As orientações do Alcorão deram origem à Sharia, o conjunto de leis islâmicas que determina normas, códigos de conduta, práticas religiosas e penalidades. A forma como diversos países islâmicos aplicam essas diretrizes em suas legislações é variada.
Vem também do Islã a ramificação entre xiitas e sunitas, surgida a partir da divergência sobre quem seria o sucessor de Maomé: para os sunitas, é Abu Bakr, amigo e conselheiro do profeta; para os xiitas, Ali Bin Abu Talib, primo e genro de Maomé.
Os xiitas representam entre 10% e 15% do povo islâmico e defendem uma interpretação mais conservadora do Alcorão. Já os sunitas, equivalentes aos outros 85-90%, possuem uma visão mais flexível do livro sagrado, que se transforma ao longo e conforme o tempo.
Outro ponto interessante é que o Islamismo segue o calendário Hegírico, determinado pela Lua. Cada ano tem 354 ou 355 dias, com 12 meses de 29 ou 30 dias. Com essa contagem, e o fato de que o marco zero do calendário é 16 de julho de 622 d.C., o ano islâmico atualmente é 1445.
O nono mês é marcado pelo Ramadã, período em que se deve jejuar e se abster de bebidas e atividades como sexo, jogos e diversões, do nascer ao pôr-do-sol, além de, se possível, peregrinar até a cidade sagrada de Meca, na Arábia Saudita.
Muçulmano
De forma direta, ser muçulmano é ser islâmico, ou seja, professar a fé islâmica. Em árabe, muçulmano é aquele que se entregou e segue as leis divinas. Portanto, assim como islâmico, ser muçulmano se relaciona à crença em Allah, a um contexto religioso, não sendo determinante sobre questões de nacionalidade, raça ou etnia.
Uma diferença que pode ser apontada é que a palavra “muçulmano” é usada para se referir exclusivamente a pessoas, enquanto “islâmico” pode descrever tudo o que está ligado ao Islã, incluindo, por exemplo, cidadãos, ideias, eventos e arquitetura.
Árabe
Ser árabe significa pertencer ao grupo étnico que habita principalmente o Oriente Médio e a África setentrional, como iraquianos, sauditas, palestinos, líbios, libaneses e marroquinos. A língua árabe é o idioma falado nesses países.
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De fato, a maioria dos povos de etnia árabe pratica a religião islâmica, sendo, portanto, muçulmana. Porém, isso não é uma regra: há também árabes cristãos. No Líbano, por exemplo, os seguidores do Cristianismo representavam cerca de 40% da população em 2011, a maior proporção entre as nações do Oriente Médio.
E se por um lado a maioria dos árabes é muçulmana, a maior parte dos muçulmanos não é árabe: há significativas populações islâmicas na Europa, na África e principalmente na Ásia, em países como Índia, Paquistão, Bangladesh e Indonésia — esta última, tem a maior população muçulmana do mundo, com 229 milhões de fiéis.
Vale dizer também que 22 países compõem o que é conhecido como Mundo Árabe. Embora haja alguma confusão sobre isso, considerando que são países de maioria muçulmana, Turquia, Irã e Afeganistão não compõem esse grupo, já que as etnias nessas nações são turca, majoritariamente persa e majoritariamente pashtum, respectivamente.
Palestinos
A Palestina é um país — embora sem autonomia e direito à autodeterminação, já que muitas nações ainda não a reconhecem como tal — árabe e majoritariamente islâmico: 93% da população é muçulmana sunita. Há também cristãos (6%) e praticantes de outras religiões minoritárias.
Em 29 de novembro de 1947, potências ocidentais na Organização das Nações Unidas (ONU) determinaram que parte do território palestino fosse destinado aos judeus refugiados da Alemanha nazista. Em 14 de maio de 1948, o Estado de Israel foi criado.
Em 15 de maio de 1948, deu-se início ao conflito entre os dois grupos e à expulsão de 750 mil palestinos de seu próprio território, o que é descrito pelos palestinos como Nakba — “catástrofe”, em árabe. Ainda hoje, a Palestina luta pelo reconhecimento como Estado, o que já tem aprovação de 139 países-membros da ONU.
Em razão da criação do Estado de Israel, da Nakba, e de todo o assédio e cerco realizado contra a população que ocupa e ocupava a região, hoje nem todos os palestinos vivem na sua terra de origem: de toda sua população, 5,4 milhões vivem na Palestina, 1,7 milhão em Israel, 6,4 milhões em países árabes e cerca de 800 mil em outras regiões do mundo, segundo levantamento do Escritório Central de Estatísticas da Palestina.