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Investigações dentro e fora do Brasil revelam são uma intrincada rede de transações comerciais bilionárias de drogas e armas que fluem das veias abertas da América Latina em direção aos confins da Europa (Colagem: Diálogos do Sul Global)

Jogo do bicho “versão big tech”: Tigrinho, ostentação e a nova face do crime internacional

Big bets já superam a bolsa de valores e financiam uma engrenagem que une tecnologia, tráfico e lavagem de dinheiro dentro e fora do Brasil
Jéssica Vianna
Diálogos do Sul Global

Tradução:

Um dos aspectos mais centrais da identidade cultural brasileira é o jogo. E qualquer disputa nos apetece: desde o futebol, pelo qual somos mundialmente reconhecidos, passando pelos programas com jogos fúteis — muitas vezes de cunho sexual, que assistimos na televisão brasileira dos anos 1990 até hoje — chegando à fézinha que aprendemos com os nossos avós a depositar nas loterias oficiais e, é claro, no jogo do bicho.

Embora estejamos em outra época, mais digital, há quase três séculos está fundamentada na cabeça do brasileiro médio, do sujeito normal que vive espremido nas camadas mais baixas das classes populares, uma única e remota chance, real o bastante para se acreditar: a possibilidade de vencer na vida, de dar uma guinada em direção a outro patamar social por meio de um perfeito golpe de sorte.

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As características mais latentes da cultura de massas, que no raciocínio em questão seriam o jogo, a sorte, a própria ascensão social, são mais do que o reflexo das condições materiais de existência sob o capitalismo: representam em grande medida os elementos de uma identidade nacional forjados e reforçados por uma indústria cultural que movimenta muito dinheiro e que concentrou desde sempre um enorme poder sobre os rumos desta nação.

Jogo do bicho versão big tech e o crime organizado

Poucas décadas atrás, entre os escassos sonhos disponíveis aos meninos das favelas, duas ambições se destacavam: num extremo, se tornar um brilhante jogador de futebol, no outro, assumir a liderança do tráfico local — a desigualdade empurra essa camada da população a trabalhos subalternos, e a associação com o crime chega como uma oportunidade de acessar “luxo”, status e respeito. Já hoje também existe, pairando sobre a cabeça dos jovens da periferia, a chance de ganhar dinheiro na internet, seja viralizando nas redes sociais, entrando pro “job”, tornando-se um influencer ou rapper reconhecido ou fazendo “publis” multimilionárias pro famigerado jogo do Tigrinho, onde muitos acreditam ser possível ganhar mais do que perder. O objetivo desde sempre e ainda hoje construído nas cabeças das classes populares é ganhar dinheiro para vestir roupas de marca, ter acesso a algum conforto e, com tudo isso — novamente — obter status, respeito.

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E foi brincando com a sorte e com a fé, com o sonho e com o luxo, que os influenciadores elevaram a cultura do jogo do bicho a um novo patamar: a versão big tech

Em janeiro deste ano, o jornal The New York Times publicou uma matéria sobre o assunto, intitulada “O controle da máfia sobre uma loteria brasileira parecia invencível, até que os apps chegaram”. O texto cita o historiador Luiz Antônio Simas — para atribuir cores pitorescas à cultura do jogo — e entrevista um “joão das couves”, de 30 anos, que aposta tanto em bets online quanto no jogo do bicho — ao último, impelido por pura nostalgia.

Embora mencione alguns números e reconheça os indícios de lavagem de dinheiro por estas plataformas digitais, o artigo trata a coisa de maneira absolutamente superficial. Recomendaria que lessem o livro “A república das Milícias – Dos esquadrões da morte à era Bolsonaro”¹, de Bruno Paes Manso, jornalista, pesquisador da USP, o único não-carioca a conseguir descrever com tamanha precisão as nuances confusas das encruzilhadas do crime no Rio de Janeiro. Há, no estado, uma guerra perene entre facções criminosas, das quais a maior e mais importante é o Comando Vermelho (CV), nascido do encontro entre presos políticos da ditadura militar e detentos comuns do presídio federal da Ilha Grande. É importante que se diga e se tenha sempre em mente: o CV já nasceu como a maior ameaça às forças policiais do Estado, consideradas o maior alvo do grupo. Soma-se a isso um segundo fator, uma nova subespécie do crime: o modelo de negócios da milícia, surgido nas últimas décadas das entranhas mais apodrecidas da polícia militar, tomando espaço feito praga, após a guerra que foi o projeto de pacificação das favelas da cidade.

É nesse contexto que entra o Jogo do Bicho, apresentado pela obra de Manso como o terceiro grande player do crime nacional. Não importa se a favela em questão é controlada pela Amigos dos Amigos (ADA), CV, Terceiro Comando Puro (TCP), milícia ou pela pqp: o Jogo do Bicho é culturalmente enraizado, nacionalmente capilarizado, profundamente temido e respeitado por todas — repito — todas as facções criminosas mais bem armadas atuantes no Brasil, inclusive pelas máfias estrangeiras e pelas forças policiais do Estado. E é importante que se tome nota: as bets também já estão presentes nos mais diversos setores da sociedade brasileira como parte do esquema.

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Ainda sobre a matéria do New York Times, seria crucial que o veículo estadunidense, e quem mais quisesse entender a dinâmica do crime no Brasil, estivesse atento às constantes análises precisas de Paes Manso sobre a atuação do PCC. Em comparação às outras facções, o especialista costuma descrever o grupo como “um negócio, acima de tudo”, uma organização menos ideológica, mais pragmática, com um complexo esquema comercial e financeiro, que atua como uma entidade articuladora e fiadora de uma extensa gama de operações locais e internacionais do crime. Todas estas instituições se dedicam ao tráfico internacional de drogas e de armas e, claro, à lavagem desse dinheiro.

É certo que, em razão de mudanças mais culturais e tecnológicas e menos ideológicas, a vasta fauna do jogo do bicho entrou em extinção e o alvo máximo das apostas nacionais é agora um poderoso “tigrinho”. É mais certo ainda que as big bets e as big techs — símbolo do colonialismo em sua era digital — continuarão a manchar de sangue o Sul Global e a lavar seu dinheiro sujo em bolsas de grife, carros de luxo, comportamentos e bens culturais que sua influência ainda nos fará desejar. Ainda assim, observando a dinâmica geopolítica do crime no Brasil, se tivesse que fazer uma aposta, diria que a violenta disputa por poder, atravessada por fortes influências externas que ameaçam a nossa soberania desde sempre, está em vias de revelar uma nova face do tráfico de drogas e armas na América Latina, que já está colocando os herdeiros do tio Sam em apuros.

A despeito dos esforços milionários dos coachs de investimento, fãs de bilionários, influencers do lifestyle café-com-deus-pai e compradores de criptomoeda — diga-se de passagem, maior aposta do governo Trump frente à desdolarização inevitável de grandes operações financeiras no mundo contemporâneo —, em 2024, no Brasil, o valor das apostas online foi sete vezes maior que os investimentos na bolsa de valores do país.

A multiplicação das bets, efeito de um relaxamento proposital das leis de quando Michel Temer tomou o poder (2016 – 2018), permitiu que empresas como Bet Nacional, Betano, Blaze, Esportes da Sorte, etc., chegassem ao ponto de serem as maiores patrocinadoras da Rede Globo de televisão, de influencers gigantes de toda a sorte como Gkay, Carlinhos Maia e Neymar e até do campeonato brasileiro de futebol, que agora se chama “brasileirão betano”. O mercado global de apostas esportivas, em 2022, já movimentava cerca de 84 bilhões de dólares, e talvez o valor real que estes empreendimentos verdadeiramente movimentam hoje seja incalculável.

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A Betano, a Bet Nacional e muitas outras plataformas de apostas esportivas estão sediadas numa espécie de “Vale do silício” dos cassinos digitais: Malta, um paraíso fiscal entre a Sicília, maior ilha do Mediterrâneo, e o Norte da África, e uma forte zona de influência das máfias europeias, sobretudo italianas. 

Dos jogos online, desenvolvidos por empresas sediadas em Malta, o exemplo mais emblemático tem sido o popular Jogo do Tigrinho, da Pocket Game Soft, ou PGSoft, veiculado na maioria das plataformas de apostas esportivas e propagandeado pelos maiores influenciadores digitais do Brasil. Confira a histórico de alguns deles a seguir.

Caso Deolane Bezerra

Ex-namorada de McKevin — jovem rapper estourado nas paradas de sucesso, falecido ao cair da janela de um hotel em um episódio de traição que dominou as manchetes de fofoca do país em 2021 — a advogada Deolane Bezerra, pernambucana, foi lançada ao status de influencer.

Convidada a participar do reality show “A Fazenda”, saiu sob polêmica — sua marca registrada — amada e odiada em igual medida, exposta em rede nacional sustentando, de salto alto e em roupas de grife, a pecha de “advogada do PCC”, ou advogada de bandido, como ela gostava se definir em podcasts sem fim por todas as redes sociais.

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A celebridade chamou atenção ostentando nos últimos anos uma coleção de carros de luxo e joias valiosas e esteve envolvida em múltiplas controvérsias, dentre as quais se destacou o episódio, em fevereiro de 2024, em que vestiu o colar do chefe do TCP no complexo da Maré, no Rio de Janeiro, durante um baile funk, onde aparentemente foi muito bem recebida.

As propagandas para as bets já representavam então boa parte de sua extraordinária renda e, em julho último, Deolane Bezerra abriu uma casa de apostas com capital de 30 milhões de reais. Já em setembro, comprou uma Lamborghini de quase quatro milhões de reais de Darwin Henrique da Silva Filho, dono da empresa Esportes da Sorte, investigado por “lavagem de dinheiro proveniente do jogo do bicho e de casas de apostas”. A doutora Deolane tem ainda alguns imóveis nos EUA, entre eles uma mansão avaliada em um milhão de dólares, o que acendeu um alerta na procuradoria de Justiça do Sul da Flórida. As investigações envolveram a Interpol, culminaram na “Operação Integration”, da Polícia Civil de Pernambuco, e levaram à prisão preventiva da influencer, sob acusação de lavagem de dinheiro. 

Caso Virgínia Fonseca

Fenômeno de influência com mais de 50 milhões de seguidores, a empresária Virgínia Fonseca, de 25 anos, que em 2024 teve seu patrimônio avaliado em 400 milhões de reais e em 2025 alcançou o patamar de bilionária, tem dominado em absoluto todos os números do TikTok e do Instagram nos últimos anos. Seu alcance não se dá tanto por polêmicas e escândalos como os divulgados pela Revista Piauí, por receber o chamado “cachê da desgraça”, mas sim por elementos subjetivos que engatilham e cativam o brasileiro em outro lugar, com os quais ele se identifica: o místico território da sorte na ascensão social.

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Virgínia Fonseca, branca, filha de mãe brasileira e pai militar luso-americano, nascida nos EUA e criada em Governador Valadares, aos 16, morando por um período em Portugal, abriu um canal no YouTube, onde compartilhava cada segundo da vida desinteressante e cheia de sonhos de uma adolescente comum da classe média. Exibia desejos de constituir uma família, vestir roupas de grife, ter acesso ao luxo e ao conforto, influência, status, respeito. O que a diferenciou das demais empreendedoras de seu nicho e sua geração foram sua obstinação e sua especial habilidade em obter, a todo custo, um alto nível de atenção e influência e performar uma ascensão social recorde, numa rapidez vertiginosa.

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Depois de ter a aparência comum transformada em padrão de beleza inalcançável, somada à vida ordinária publicada em seus detalhes e uma narrativa romântica digna dos filmes infanto-juvenis, Virgínia protagonizou um casamento rápido com o cantor Zé Felipe, um dos muitos filhos de Leonardo, lenda sertaneja, atual investidor/influencer do agro. Depois, abriu sua marca de produtos de beleza, a WePink, empreendimento fenômeno de vendas, de reclamações e de polêmicas que parecem só fortalecer o buzz e os números da empresária nas redes sociais frente sua audiência fiel.

Talvez por condensar várias contradições da identidade brasileira é que a personalidade crie tantas tendências e tantos desejos, e consiga vender a receita da saciedade de uma maneira tão peculiar. Com três filhos pequenos, brancos e fofos, expostos 24 horas por dia na internet, sendo engraçadinhos e vestindo Gucci’s em seu jatinho particular, Virgínia ostenta uma estética semelhante à da TV brasileira durante os anos 2000: pop, pink, americanizada, que de manhã reza a missa e a tarde exibe a bunda sacudindo-se em conteúdo musical altamente sexual para a mesma família brasileira cuja moral é duvidosa. De influenciadora digital à apresentadora de um dos programas de maior audiência do SBT, a bilionária em questão não poupa esforços ao fazer viralizar, em dancinhas bobas e números estratosféricos, a nova tática das big bets: o investimento massivo na indústria cultural.

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Se nos últimos meses você esteve vivendo debaixo de uma pedra, ou assoberbado com tantas notícias importantes, a ponto de não ter conseguido ouvir as múltiplas músicas que citam o Jogo do Tigrinho, provavelmente não ficou sabendo o que aconteceu no LollaPalooza de 2024, na cidade de São Paulo. Te conto os dois detalhes mais importantes: primeiro, foi hasteada no festival uma releitura da bandeira do Brasil, levando no centro o rosto de Maria Flor, filha de Virgínia e Zé Felipe, já influencer com dois anos de idade e maior ativo da audiência do casal. Segundo, Zé Felipe gravou um feat (colaboração) que alcançou o topo das paradas musicais com um outro rapper e grande influencer do Tigrinho: Oruam, que subiu ao palco do festival e pediu liberdade para Marcinho VP, seu pai, um dos grandes líderes do Comando Vermelho, preso há muitos anos, sem previsão de saída. Ah, a família brasileira…

Caso Oruam

Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, 24 anos, é um artista preto, cria das favelas do Rio de Janeiro, rapper envolvido em diversas polêmicas com a polícia e influencer do Tigrinho que ostenta carros de luxo e tatuagens chamativas, entre elas o rosto de seu tio, o famoso traficante Elias Maluco.

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Ignorado o quanto possível pela mídia hegemônica, Oruam atingiu o topo das listas de músicas mais ouvidas do Brasil em janeiro deste ano, enquanto projetos de lei apelidados de “lei Anti-Oruam” eram apresentados por parlamentares da extrema-direita em diversos estados e cidades do país na tentativa de proibir contratos públicos com artistas que façam apologia ou homenagem ao crime em suas obras. Fato é que o Poder Legislativo nacional não está preocupado com as propagandas multimilionárias das big bets, mas vê como um precedente perigoso e um problema urgente a ser combatido o fato de essa modalidade de aposta ter viralizado e enriquecido um possível “influencer do Comando Vermelho”. Como costumo dizer, “vermelho e preto já é ir longe demais”.

Caso Gustavo Lima

Indiciado por lavagem de dinheiro e organização criminosa em setembro de 2024, também foi alvo da Operação Integration Gustavo Lima, cantor do agro, bolsonarista, atualmente membro do União Brasil e com manifesta vontade de ser candidato à presidência do Brasil em 2026. Já no começo deste ano, uma empresa do artista foi citada em outro inquérito da Polícia Federal, no âmbito da Operação Mafiusi, que investiga lavagem de dinheiro e tráfico internacional de drogas pelo PCC em parceria com a máfia italiana.

Façam suas apostas

O que essas investigações revelam são uma intrincada rede de transações comerciais bilionárias de drogas e armas que fluem das veias abertas da América Latina em direção aos confins da Europa.

Há um ano, a PF deflagrava uma operação que investigava o tráfico de 43 mil armas vindas da Europa, principalmente do Leste Europeu, passando pelo Paraguai, para facções brasileiras, entre elas o CV e o PCC. O esquema investigado teria movimentado só em armamentos 1,2 bilhão de reais

Em novembro de 2024, um levantamento exclusivo da UOL mostrou que “ao menos 22 membros da máfia italiana foram presos no Brasil nos últimos dez anos em operações da Polícia Federal e da Interpol”. A matéria também divulgou a rota que a cocaína faz desde Peru e Bolívia, atravessando o Brasil até ser despachada nos portos do país, principalmente o de Santos.

A operação logística é orquestrada pelo PCC em parceria com as máfias italianas, que operam em solo brasileiro há décadas. Aliás, elas não estão sós: uma reportagem do Metrópoles, publicada neste começo de 2025, revelou a colaboração entre a máfia chinesa e o PCC na produção e distribuição de metanfetamina em hotéis de luxo de São Paulo, uma operação cujo alto fluxo financeiro era administrado por fintechs da Faria Lima. A investigação foi feita através da Operação Heisenberg, deflagrada pela PF em dezembro de 2024 e cujo nome é uma referência à série estadunidense “Breaking Bad”. 

 

 

 

 

Tome nota disto por um momento: a droga sai da América do Sul para a Europa, dos portos brasileiros até o Mediterrâneo, e as armas, que conferem altíssimo poder bélico às facções dos trópicos, vêm de República Checa, Turquia, Eslovênia, Croácia (todos no entorno do Mediterrâneo), passando pelo Paraguai até o Brasil, onde boa parte da operação é centralizada e o dinheiro é amplamente lavado — inclusive através das plataformas de apostas online — para ser reenviado ao paraíso fiscal das big bets e das máfias europeias: a já mencionada Malta, no Mediterrâneo. É bastante dinheiro e bastante poder fora das mãos do FMI.

É sabido que em sua “guerra às drogas” os EUA implicaram centenas de milhões de dólares em armas, por exemplo, na América Latina, na tentativa de extinguir as Forças Armadas Revolucionários da Colômbia (Farc). Esse dinheiro também girou por meio das inúmeras intervenções militares nas últimas décadas, em absolutamente todos os continentes, somando bilhões, quiçá trilhões de dólares para a indústria armamentista.

Essa mesma indústria armamentista inclusive contou no Brasil com um garoto propaganda dos mais caros, não por eficiência, mas por ocupar a posição estratégica com alta influência de presidente do Brasil de 2019 a 2022. Seus herdeiros, parlamentares, influencers armamentistas, acusados de alianças espúrias com milicianos, por acaso tem uma verdadeira obsessão, aparentemente pouco pretensiosa, por tentar privatizar as praias, coincidentemente e sobretudo as praias do Litoral Norte de São Paulo e Litoral Sul do Rio de Janeiro, onde estão os portos mais importantes do país, centrais em todo o grande esquema do tráfico internacional de drogas e armas.

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Em fevereiro deste ano, o Governo do Estado do Rio de Janeiro pediu ajuda aos EUA para combater o Comando Vermelho, solicitando o reconhecimento da facção como “organização criminosa transnacional”, como se todas as outras, e inclusive governos anteriores do Rio de Janeiro, não representassem algo semelhante. É certo que a CIA poderia ajudar a aumentar a inteligência do governador do Rio de Janeiro, isto é, intervir diretamente, como faz a Interpol, nas investigações e no combate a um certo tipo de crime no Brasil, que à polícia representa enorme ameaça. Mas um importante relatório de inteligência da Secretaria Nacional de Políticas Penais, do Ministério da Justiça, revelou uma possível aliança histórica entre o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital, e agora toda essa briga “vai ser de foice”.

Soma-se a isso o fato de as Forças Armadas do Estado e a milícia serem mais que reconhecidos parceiros no Rio de Janeiro, uma amálgama neopentecostal e belicista sob influência direta e longeva da esfera de poder estadunidense no Brasil. Porém, se tivesse que fazer mais uma aposta duvidosa sobre o futuro do crime, colocaria algumas boas fichas na possibilidade de que os feats do tigrinho — com os influencers que fazem o pobre sonhar com o luxo — somados ao conjunto das forças internas e externas implicadas nesta guerra — como as big bets, o jogo do bicho em sua versão big tech, o mercado bilionário de armas e drogas na América Latina, sob a joint venture estratégica entre PCC e CV — podem, num golpe de sorte, atrapalhar consideravelmente os planos dos EUA para o Brasil das próximas décadas. Que bicho vai dar, a gente nunca sabe. O jogo é sujo e a banca sempre ganha. O brasileiro, com fé, arrisca, empreende e espera. 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Jéssica Vianna Escritora, comunista, carioca.

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