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José Martí, 171 anos: Apóstolo da Independência de Cuba e de Nossa América

Transparente e definido, revolucionário é ainda hoje considerado um emblemático paradigma no combate dos povos
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

José Martí nasceu em Havana, em 28 de janeiro de 1853, há 171 anos. Filho de pais espanhóis radicados em Cuba, teve uma origem modesta, mas uma esmerada educação que lhe permitiu logo afirmar valores próprios e um legítimo orgulho nacional.

Foram duros aqueles anos de infância em um país no qual se haviam agravado as contradições políticas entre um centro colonial obstinado em perpetuar a dependência do país, e uma rebeldia insurgente que procurava a emancipação.

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O jovem Martí se sentiu, desde seus primeiros anos de vida, atraído pelas lutas que cristalizaram seus anseios na Guerra da Independência iniciada em 1868. Ainda não havia completado 17 anos quando o adolescente foi detido, acusado, processado e condenado a 6 anos de reclusão e trabalhos forçados por um tribunal colonial.

Até o fim de seus dias, Martí levou em seu corpo a marca dos grilhões que lhe foram impostos nessas circunstâncias e que foram considerados uma espécie de honra de combatente pelo escritor e poeta havanês. Deportado depois à Espanha antes de concluir sua condenação, na península ibérica Martí dedicou-se a estudar e a capacitar-se, mas também a produzir obra literária e política. Trabalhou temas de Direito e Ciências Sociais e produziu poesia e prosa literária de singular beleza.

Como Jose Martí oferece luz à reconstrução da América diante dos novos tempos

Em sua produção integral, apareceu sempre o sentido essencial de liberdade, que já recolhera desde seus inícios em “El Diablo Cojuelo” e a revista “Pátria Livre”, que editara no empenho de ganhar para a causa independentista os jovens de sua geração. Forçado a abandonar a Espanha, Martí se radicou no México, onde aproveitou o fim da Guerra dos 100 anos e a firma do “Pacto do Zanjón” para voltar a Cuba, tomar ares nacionais e medir o pulso aos acontecimentos.

Não obstante, sua estância no país foi relativamente breve. Como era de se esperar, foi deportado de Cuba e teve que radicar-se em Nova York, onde conseguiu desenvolver uma boa parte de sua atividade criadora.

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Transparente e definido, revolucionário é ainda hoje considerado um emblemático paradigma no combate dos povos

Frases da Vida
Valoroso combatente e sempre pronto à ação, José Martí viveu e lutou comprometido com os mais elevados ideais da dignidade e da justiça

Representação diplomática

Homem de singular capacidade, concitou adesões e apreços múltiplos, o que lhe permitiu ser designado por diversos governos da América como seu representante diplomático nos Estados Unidos. Isso o ajudou a manter uma fluida relação com os povos da América, com cuja causa se identificou plenamente.

Essa experiência também o induziu a conhecer e a apreciar o aporte dos Libertadores, o que se traduziu na publicação da “Idade de Ouro” e nos escritos referidos a San Martin, Bolívar e outras figuras da independência americana.

O ano novo no olhar de José Martí

Em 1892, resolveu empreender a tarefa de libertar sua pátria do jugo espanhol. Tomou contato, para isso, com o revolucionário Máximo Gómez; e, nesse marco, fundou o Partido Revolucionário Cubano, com o qual iniciou os preparativos para uma incursão armada em território cubano. Esta se produziu em 1895, mas nela o poeta ofereceu sua vida. José Martí, o valoroso combatente, caiu abatido pelas forças realistas no combate ocorrido na zona de “Dois Rios”, em 18 de maio desse ano.

É curioso. A morte corta, no esplendor de suas vidas, figuras jovens que abrem os olhos do mundo à luta pela grandeza humana. José Carlos Mariátegui fechou os olhos aos 35 anos; o Che Guevara, aos 39; José Martí, aos 42; Simón Bolívar, aos 46, assim como César Vallejo. Em troca, prolonga a existência para concretizar melhor a obra de seus filhos. Fidel Castro e Nelson Mandela viveram muito para serem elevadas figuras da história.

Muito a dizer

De Martí, pode-se dizer muito. Cabe recordar, no entanto, o sentido simples e diáfano de sua poesia modernista, na qual irradiava mensagens profundamente humanas: “Cultivo uma rosa branca / em julho como em janeiro / para o amigo sincero / que me dá sua mão franca. / E para o cruel que me arranca / com que vivo / cardo nem larva cultivo / cultivo uma rosa branca”, nos diz com profunda ternura a amorosa sensibilidade.

No plano político, Martí foi um homem transparente e definido. Por isso é considerado também como um emblemático paradigma no combate dos povos. Sua mensagem está em todos os seus escritos, mas a carta que enviou ao seu amigo mais próximo, precisamente na véspera de sua queda em combate, é sem dúvida a mais apreciada. A Manuel Mercado, ele adverte que sua maior preocupação consiste em enfrentar a expansão ianque pela América. Conhecedor da mensagem de Bolívar, sustenta que o objetivo final de sua vida é precisamente combater esse perigo.

Talvez o escrito mais significativo de Martí nesse período tenha sido intitulado “Diários de Campanha”, nos quais recolhe as vicissitudes de um guerreiro sempre pronto à ação, mas altamente comprometido com os mais elevados ideais da dignidade e da justiça.

Por sua vida e sua obra, Martí é considerado o Apóstolo da Independência de Cuba, mas sem dúvida, é também o Apóstolo da Independência da América e surge na memória dos povos com a mesma força que San Martín ou Bolívar.

Eles marcam o sentido de uma luta inconclusa que só acabará quando nossos valores nacionais primarem sobre os interesses mercantis do Grande Capital e seu instrumento agressivo, o Imperialismo.

Martí vive hoje na Cuba invencível.

Gustavo Espinoza M. | Colaborador de Diálogos do Sul de Lima, Peru

Tradução Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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