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ToggleCada vez que publicam um resultado de pesquisa sobre performance de personalidades políticas, uns se empolgam, outros se decepcionam, alguns mais incrédulos desprezam-no e boa parte fica na perplexidade, claro, porque não é o que queriam que fosse. Sem dúvida, uma pesquisa merece estudo e reflexão.
Muita gente está preocupada porque, de uma semana para outra, a popularidade de Jair Bolsonaro que já era alta, aumentou. E isso em plena mortandade provocada pela inépcia governamental, incapaz de controlar a pandemia da Covid-19.
Quando na semana anterior a Revista Fórum, cuja trajetória só reforça sua credibilidade, publicou o resultado de uma pesquisa que fez em parceria com profissionais altamente qualificados, dando o crescimento dos índices de aprovação de Jair Bolsonaro, recebeu uma saraivada de críticas e demonizações. Fez-me lembrar o velho ditado espanhol: se a notícia é má tem que matar o carteiro.
Na semana seguinte resultado de pesquisa do DataFolha confirmou os números e a tendência de alta. Ou seja, não adiantou matar o carteiro, o buraco era mais embaixo. O fato é que a popularidade do ocupante do Planalto cresce.
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Somente com milhões de brasileiros nas ruas acabaremos com a festa dos capachos do imperialismo estadunidense
Auxílio emergencial: Dar ou não dar, eis a quetão
Ah! Mas isso é por causa do auxílio emergencial de R$ 600, essa gente nunca viu tanto dinheiro! Será? O jeito então é não dar o auxílio e deixar essa gente morrer de fome? Condenar os já pobres à extrema miséria?
Consideremos que o auxílio emergencial deveria ser de R$ 200, foi o Congresso que, com pouco mais de sensibilidade humana o elevou para R$ 600 e até R$ 1.200. Certamente isso deve ter de alguma maneira contribuído para elevar o índice de aprovação.
Outros, não mataram o carteiro mas culparam a mídia. Será
Vejamos como funciona…
Mídia impressa e o pensamento único
Comecemos com a mídia impressa, os jornalões hegemônicos com as menores tiragens do mundo. Em São Paulo, por exemplo, com 44 milhões de habitantes, os três maiores jornais esbarram em 300 mil exemplares.
Mesmo entre a população letrada há analfabetos funcionais. Além disso, há profissionais altamente qualificados, engenheiros, médicos, dentistas, advogados, matemáticos que detestam ler qualquer coisa que não seja de seu interesse, tipo literatura, ou livros de autores críticos ao status quo. Diante de um jornal só leem os títulos e tiram as conclusões sem a devida contextualização do fato.
Outra parte predominante são os automaticamente alinhados com o jornal. Seguem a opinião e a divulgam acriticamente. Isso a partir dos anos 1980 só fez reforçar o pensamento único imposto pelo capital financeiro. Não há na mídia impressa pensamento divergente. Pode haver críticas e até mesmo oposição a pessoas, más jamais ao pensamento único.
Uma das razões das pequenas tiragens dos jornais é a histórica preferência da população por jornais locais. Falar de mídia impressa há que considerar que praticamente toda cidade do interior tem seu jornal local, dependendo do tamanho, até mesmo três ou mais de diferentes tendências, mas ligadas às oligarquias ou poder político.
Correio do Povo, de Campinas, A Tribuna de Santos, Jornal de Piracicaba, Cidade de Rio Claro e o centenário Diário do Rio Claro – que ostenta a posição de ser um dos três mais antigos e longevos matutinos brasileiros – entre outros são paradigmáticos. Na capital de São Paulo há profusão de jornais de bairro.
Rádios e TVs
Se a mídia impressa é pouco expressiva, em compensação a mídia eletrônica – TV e rádio – é massiva e permeada por todas as camadas sociais.
São miríades de emissoras de radio em AM e FM por todo o território nacional. Pesquisas já demonstraram que grande parte dessas emissoras está em mãos de representantes de denominações religiosas que vão das mais antigas denominações católicas às inúmeras denominações do mundo gospel, em sua maioria oriundas dos Estados Unidos.
As que escapam de ser propriedade de igrejas ou de um chefe político, normalmente, são propriedades de oportunistas que viram nisso um bom negócio ao lado da projeção social e política. Digo isso porque sendo concessão do Estado as rádios deveriam prestar serviço público.
Pensamento alternativo unicamente em algumas, raras e poucas rádios e tvs comunitárias/sindicais, que ainda não foram “tomadas” pelos mesmos agentes e que quando assim não ocorre, são perseguidas, colocadas na ilegalidade e, praticamente, inviabilizadas pela absoluta penúria financeira imposta pelo sistema de comunicação hegemônico.
Feita a salada, vamos ao tempero.
O que se vê é que o governo pauta a mídia e a grande mídia pauta a pequena mídia, formando um círculo vicioso de mesmice. Fora de pauta, o proselitismo católico ou gospel, o apelo ao consumismo, demonização de uns e exaltação de outros, tudo de acordo com a vontade e o humor do proprietário, sem nenhum controle.
Internet, mídia hegemônica e a nova guerra híbrida-cultural
O até aqui exposto já é terrível como poderosos instrumentos da guerra cultural que contra nós vem sendo travada. Como se não bastasse, esse arcabouço midiático ganhou novas armas com a convergência tecnológica -telefonia-televisão-radio-mídia impressa num só meio: a Internet e seus satélites, cabos, fibras óticas e wiffais.
Ou seja, a guerra cultural é também uma guerra cibernética e híbrida. Estamos vítimas de uma ciber-guerra-cultural. Vítimas quando podíamos ser protagonistas.
Muitos jornais e revistas perderam a razão de ser. Caros demais para produzir e distribuir optaram por ser apenas veículos virtuais. Outros diminuíram suas tiragens e investem fortemente nas mídias cyber-eletrônicas.
Realmente esse salto tecnológico propiciado pela convergência está a provocar uma nova revolução. Todos os meios estão hoje nas redes. E é aí que mora o perigo.
Aquele círculo vicioso apontado em parágrafos anteriores permanece incólume nas redes. Se todos os meios estão nas redes, estão também os alternativos, aqueles que não se pautam pela mídia hegemônica. A correlação de forças é tremendamente desigual, diria, mais que isso, é abissal, em favor da mídia hegemônica. Para cada mil hegemônicos você terá, talvez, um alternativo, divergente.
O panorama midiático brasileiro “poderia” ser outro… Poderia!
A Conferência Nacional de Comunicação conseguiu recomendar a regulamentação do setor e a criação de um Sistema Nacional de Comunicação e Informação que, se tivessem sido acatados, nossa situação, nossas armas e nosso poder de enfrentamento nesta guerra ciber-cultural, certamente seriam outros – e mais adequados.
Existiriam hoje, centenas ou quiça milhares de emissoras de rádio e de televisão públicas/comunitárias municipais e estaduais, trabalhando em redes e implantando um verdadeiro e democrático sistema público nacional de comunicação.
Tal sistema, indubitavelmente, poderia se contrapor à mídia hegemônica “privada”, monopolista e antipopular.
Poderia…porém….
Eleitorado, pesquisas e o poder midiático
Visto o panorama de cima, vejamos como é o rés do chão, as planícies das periferias onde estão os eleitores, os que respondem às pesquisas.
Nesse cenário, o primeiro dado a ser considerado são os 70% ou mais de analfabetos funcionais, resultantes de um projeto educacional a serviço da perpetuação do poder hegemônico. Um dado importante pois tal analfabetismmo funcional reduz barbaramente o juízo crítico das pessoas, bombardeadas direta e/ou subliminarmente por propagandas consumistas e alienantes.
A voz que chega ao cidadão é a voz do padre, do pastor, do alto-falante da loja da esquina ou do carro anunciando produtos. Todas essa vozes condicionadas pelo círculo vicioso do pensamento único. Não há divergências com relação ao básico que é a imutabilidade do status quo. Nisso estão todos de acordo: tanto o vendedor ambulante como o dono da grande loja ou da rede que vende material de construção.
As poucas e raras vozes dissonates vêm do funk, do rap, do hip hop, dos slams ou dos brinks, através dos sound sistens, dos grafites e pichações, da literatura de periferia ou na voz de um “cara progressista” ou de um chefão do tráfico.
O campo da batalha
Na “planície”, todo mundo tem celular. Esse é um dado impressionante e o utilizam com todo seu potencial multimídia. Neste universo o que predomina é a formação de grupos de interesse ou de iguais. Este é o campo de batalha da ciber-guerra-cultural.
Neste campo de batalha as ciber-milícias estão operando sem que haja resistência. Na derrota mais contundente imposta à Nação, que foi a captura do poder pelas forças armadas em outubro de 2018, essas ciber-milícias mais que coadjuvantes foram protagonistas estelares do êxito.
Nesse campo de batalha, o pensamento alternativo foi posto no banco de reserva, não estava preparado para entrar em campo. Com relação à esquerda, ficou anos luz de distância. Nem mesmo a “esquerda neoliberal” conseguiu travar o bom combate e ficou, perplexamente, “a ver navios”..
O que fazer? Como vencer esta guerra?
Eis aí o busílis da questão ou, melhor dizendo, a grande encrenca, o grande desafio: o que fazer nessa guerra ciber-cultural.
Nós, que perfilamos um pensamento alternativo entramos nela já quase derrotados, senão perplexos diante do tsunami do status quo: 80 contra 800 visualizações, 100 mil contra 1 milhão são alguns dos abismos a serem ultrapassados.
É uma questão de espaço e tempo. Um problema matemático para ser resolvido com planejamento estratégico.
80 versus 800. Quem são os 80 do pensamento crítico? Dolorosamente, nós com nós mesmos.
Não adiante chorar sobre o leite derramado, protestar só leva à pior, pois a repressão, modernizada, é implacável. Se meia dúzia protestarem apanham; se 10 mil protestarem dispersam com gás e tropas de choque. Se 100 mil ocuparem as ruas a repressão se torna impotente. Milhões nas ruas acaba com a festa dos libertinos.
Governo de Ocupação: Captura e permanência no poder
Todo esse cenário foi analisado por equipes multidisciplinares que produziram relatórios para a elaboração da estratégia de captura do poder e, anotem, de permanência no poder.
A captura já foi concretizada. A operação começou em 2013 e terminou em janeiro de 2019. Desta feita, sem dar um tiro, sem mover os tanques do general Mourão (ou outros) como em 1964, ocuparam o Planalto. O busílis agora é como enfrentar a 2ª parte da estratégia: a manutenção desta gente no poder.
Temos hoje, cerca de 6.800 militares – a maioria do alto escalão na hierarquia militar – ocupando a Esplanada dos Ministérios, ou seja, ocupando praticamente todos os postos de primeiro e segundo escalão do Poder Executivo Federal.
A estratégia de permanência no poder, com seus altos e baixos, avanços e recuos, tem um só objetivo que é a própria permanência e exercício do poder. Para isso já usaram e continuam utilizando as mais variadas táticas para liquidação ou no mínimo neutralização dos inimigos.
Disputa eleitoral num cenário de guerra
Não se trata de confrontar nenhuma mocinha indefesa (Dilma Rousseff, sozinha) ou um play boy psicateiro alagoano (Collor de Mello) que o Congresso e o Judiciário derrubaram com um assopro. Tão pouco se trata de uma coalisão partidária que poderá ser derrotada numa próxima eleição.
O cenário não é político eleitoral. O cenário é de guerra. Guerra psicossocial, ciber-cultural, guerra. Guerra em que o inimigo já ocupou quase todos os espaços.
Não entender isso é estar fora da realidade. Para os que pensam alternativamente, é uma questão de Inteligência e Contrainteligência. Para o povo é uma questão de libertação nacional.
De acordo com o calendário eleitoral, neste próximo outubro deveriam ser realizadas eleições municipais em todo o país. Prefeitos e vereadores nos cerca de seis mil municípios brasileiros.
É hora de travarmos “o bom combate”
Eleição é meio de comunicação. Pelo menos assim deveria ser entendida. Utiliza todas as mídias, principalmente o boca-a-boca, a famosa “rádio peão”, cibernéticamente instrumentalizados pelos grupos do tal ZapZap.
É ali, nas planícies dos pequenos municípios, cidades ou bairros que as coisas acontecem. É ali onde se pode analisar, avaliar os efeitos das políticas neoliberais e as maldades perpetradas pelo governo de ocupação.
Este é o campo de batalha onde devemos travar o bom combate das ideias: no lugarejos, nas cidade, nos bairro, resgatando aquilo que o povo tem desde sua origem, que é o espírito libertário.
Zumbí redivivo em cada quilombo, ali, lado a lado, dialogicamente, dialeticamente, despertando o olhar crítico e criativo à realidade.
A vida real versus a pós verdade virtual
Discutindo coisas simples, mostrando, por exemplo, porque não se cumpre o Estatuto da Cidade, que se cumprido permitiria aos cidadãos a participação em conselhos municipais deliberativos; do porque todas as crianças não estão nas escolas, aliás, em escolas de boa qualidade; quais as causas reais do desemprego, do subemprego, da precariedade laboral…
São os mais diversos os temas para estabelecer diálogo com o eleitor do pleito municipal. Mas tem que ser ali, no boca-a-boca, no mano-a-mano, deixando o celular em casa, mostrando que a realidade das coisas é diferente daquela disputa que ele vê travada através da propaganda eleitoral exibida nas rádios, televisões e, especialmente, através das “redes sociais” manipuladas pelos “algoritmos” facebokianos e “grupos de zapzap” alimentados por boots e robôs cibernéticos financiados pelo “pensamento único”
Contra as ciber-milícias, claro, os ciber-guerrilheiros… Mas estes só avançarão presencialmente visitando todas as casas, todas as famílias, todas as escolas e atuando como os mensageiros da verdade e das mudanças.
Simples assim
É isso. Simples assim… A luta terá que ser contínua e seu objetivo único a libertação nacional de que todo esse aparato de dominação ciber-cultural utilizado pelo governo de ocupação que está a serviço do pensamento único, da ditadura do capital financeiro, da hegemonia imperialista estadunidenses e dos interesses corporações transnacionais.
Resumidamente: é hora de resgatarmos o histórico lema dos heróis brasileiros que lutaram pela nossa independência e soberania nacional contra o colonialismo português.
Lema, hoje eternizado na bandeira do Estado de Minas Gerais: “Libertas quae sera tamen”, que traduzido no bom português, quer dier: “Liberdade ainda que tardia”.
Simples assim….
Paulo Cannabrava Filho é jornalista e editor da Diálogos do Sul