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Líderes mundiais devem ouvir o que jovens têm a dizer em Cúpula do Clima na ONU

Alguns jovens, inclusive a ativista sueca Greta Thunberg, subirão ao pódio para oferecer sua mensagem antes da abertura na Assembleia Geral
David Brooks
La Jornada
Cidade do México

Tradução:

Os representantes dos 193 Estados membros da Organização das Nações Unidas chegam esta semana a Nova York para participar, entre outras coisas, de mais uma reunião sobre a mudança climática, mas nesta ocasião os jovens ativistas indignados pela ameaça de roubo de seu futuro, por causa da inação destes mesmos representantes, oferecerão a luz ante os prognósticos escuros e às vezes apocalípticos para este planeta.

Nesta segunda-feira será realizada a Cúpula sobre a Ação Climática, para o qual o secretário geral da ONU, Antonio Guterres, solicitou aos líderes mundiais que não cheguem só com discursos, mas sim com planos “audazes” e compromissos de ação concreta para conseguir frear o aquecimento global sob o esquema do chamado Acordo de Paris sobre Mudanças Climática de 2015.

No sábado passado, na primeira Cúpula de Jovens sobre o Clima convocada por Guterres, uns 700 participantes de todo o mundo se reuniram como prólogo à reunião de segunda-feira onde vários dos ativistas deixarão claro uma vez mais que exigem ação, não declarações. Guterres lhes disse que “há uma mudança do ímpeto … em grande parte devido à iniciativa” deles e concluiu que “eu tenho netas, quero que vivam em um planeta habitável. Minha geração tem uma enorme responsabilidade. É a geração de vocês que tem que exigir de nós que prestemos contas e assegurar que não traiamos o futuro da humanidade”.

Alguns jovens, inclusive a ativista sueca Greta Thunberg, subirão ao pódio para oferecer sua mensagem antes da abertura na Assembleia Geral

Barbara Veiga / Greenpeace
Esta semana se verá se os adultos que se dizem líderes mundiais irão resgatar o futuro para os jovens

Foram os jovens, inclusive a sueca Greta Thunberg, que convocaram a Greve Geral pelo Clima entre 20 e 27 deste mês, cujo primeiro ato foi a mobilização de mais de 4 milhões de pessoa em 150 países, entre essas umas 250 mil em Nova York. Alguns destes jovens, inclusive Greta, subirão ao pódio para oferecer sua mensagem diretamente aos líderes mundiais na Cúpula de segunda-feira, antes da abertura, na terça-feira, do debate de alto nível na Assembleia Geral.

Talvez por isso, Donald Trump – entre cujos primeiros atos na presidência foi anunciar a retirada dos Estados Unidos do acordo de Paris – e seu aliado brasileiro Jair Bolsonaro informaram que não participarão na Cúpula de Ação Climática (Trump presidirá nesse dia uma reunião sobre a liberdade religiosa).

Um lema do novo movimento juvenil é “unir-se em torno à ciência”. O consenso científico é que o mundo conta com uns 10 anos apenas para tomar as ações necessárias para evitar consequências irreversíveis do aquecimento global.

As consequências já estão à vista: o mundo está experimentando o período de cinco anos mais caloroso jamais registrado; furacões cada vez mais devastadores como o que deixou mais de 10 mil sem teto nas Bahamas; o derretimento do gelo polar, o incremento no nível e na acidificação dos mares, a mortalidade dos arrecifes de coral do mundo, inundações por um lado e secas severas por outro; os êxodos humanos de zonas afetadas pela mudança climática (algo que se pode ver ao vivo nas fronteiras sul e norte do México); o início do que se chama sexta grande extinção de espécies na história do planeta – e a lista continua, e continua. Os ativistas jovens, cientistas e outros especialistas declaram que a mudança climática “e o tema definidor de nossos tempos”.

Diante disso, em 2015 foi assinado o Acordo de Paris em que líderes mundiais, incluindo o então presidente estadunidense Barack Obama – que diferentemente de seu sucessor acreditava na ciência – reconheceram que é necessário reduzir as emissões de carbono dentro de 12 anos e limitar o incremento na temperatura global a não mais de 1,5 graus C sobre os níveis pré-industriais.

Para a reunião, Guterres solicitou que os governantes chegassem com seus planos nacionais para que, coletivamente, se consiga reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 45% durante a próxima década, e chegar a zero em 2050. Sublinhou que esses planos “devem mostrar uma via para a transformação completa das economias seguindo os objetivos de desenvolvimento sustentável”. 

Guterres designou como seu Enviado Especial para essa Cúpula sobre Ação Climática o diplomata mexicano Luís Alfonso de Alba.

Ante a inexorável torrente de más notícias, às vezes apocalípticas, sobre a crise climática, cientistas, especialistas e os que os escutam, como Thunberg, argumentam que as soluções estão ao alcance, incluindo alguns antídotos naturais óbvios como as árvores, mas o que falta é vontade política. Insistem em que a situação mundial agora ainda tem remédio, mas que são requeridas ações cidadãs e mobilizações sociais massivas para obrigar as cúpulas a implementar as medidas necessárias.

Algumas poderiam parecer radicais. Por exemplo, ambientalistas como Bill McKibben argumentam que se deve manter sem explorar e sem queimar 80% das reservas de combustíveis fósseis para evitar os desastres que já se anunciam, e assinalam que isso não é só necessário, mas possível e até economicamente mais benéfico para todos do que manter o modelo atual.

Outros indicam que esta crise planetária não é provocada por forças extraterrestres, nem é resultado de um fenômeno abstrato, mas se sabe exatamente de onde provém. Uma pesquisa de 2017 documentou que apenas 100 empresas geram 70% de efeito estufa no mundo.

Thunberg repete que os responsáveis pela crise “optaram por lucros sobre o planeta e com isso venderam nosso futuro”. Esta semana se verá se os adultos que se dizem líderes mundiais prestarão contas e tomarão as providências necessárias para resgatar esse futuro para os jovens.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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