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Lula sob estilhaço: Gabriela Biló fez um retrato do Brasil atual, a Folha é que não soube usar

Trabalho realizado pela fotojornalista não estimula a praticar um atentado contra o presidente, mas evidencia um fato
João Carlos Gomes
Diálogos do Sul
Rio de Janeiro (RJ)

Tradução:

* Atualizada às 16h25.

A Folha de São Paulo publicou, na capa desta quinta-feira (19/01), uma foto que não condiz com o texto que a acompanha. Na imagem, o Presidente Lula aparece sob um vidro estilhaçado, enquanto a manchete ao lado, escolhida pelo jornal, diz: “No foco de Lula, presença militar no Planalto é recorde”.

Ainda na noite anterior, quando a jornalista Gabriela Biló postou o registro feito por ela em sua rede social, que tem mais de 66 mil seguidores, um debate já havia sido iniciado. A partir da circulação da capa da Folha, a discussão ganhou novas proporções, ampliando os questionamentos acerca da mensagem transmitida na narrativa visual.

A imagem em questão foi realizada com técnica de dupla exposição, no qual a foto de Lula com olhar para baixo, levemente sorrindo e afrouxando a gravata, é sobreposta por uma outra foto do vidro do Palácio do Planalto com rachadura proveniente dos atos de vandalismo que ocorreram em 8 de janeiro. A avaria do vidro simula uma marca de tiro ou um golpe do lado esquerdo do peito do Chefe do Executivo.

Biló cobre diariamente a política em Brasília. Com seu olhar apurado e competência inquestionável, ela captou com maestria um retrato do Brasil atual, onde o ódio ainda deixa sequelas. Este ódio que os bolsonaristas têm por Lula é externado diariamente em grupos clandestinos na internet, inclusive com o compartilhamento de vídeos em que falam explicitamente que dariam um tiro no petista.

Trabalho realizado pela fotojornalista não estimula a praticar um atentado contra o presidente, mas evidencia um fato

Reprodução – Twitter
Folha deveria ter escolhido uma manchete à altura, ao invés de ajudar a alimentar engajamento negativo contra uma de suas profissionais

Não é admissível qualquer manifestação contra a fotojornalista Gabriela Biló. A violência por meio de ofensas e ameaças aplicadas contra a fotojornalista nos comentários das redes sociais também é um fato que a imagem transmite subjetivamente por meio da fragilidade democrática atual. Ela foi cirúrgica, precisa perante o momento em que vivemos. Apenas tornou-se questionável a Folha de São Paulo ter publicado a foto seguida de uma manchete que não condiz com a obra. Não engajou, só fez Biló ser ainda mais atacada no dia seguinte à sua postagem.

A foto de Gabriela Biló não estimula a praticar um atentado contra o presidente, mas evidencia um fato. Expõe o Brasil tão dividido quanto os resultados das eleições. Descreve o gozo de algumas pessoas em atentar contra Lula e ao mesmo tempo liga o alerta de receio em vista ao perigo que ele corre.

Em carta, jornalistas da Folha repudiam publicações racistas do veículo em busca de audiência

Aquela imagem não é uma construção opinativa, é a realidade que a democracia atravessa neste contexto histórico: sua fragilidade ou sua blindagem. Realmente, Biló, você está certa, fotojornalismo não é para agradar.

E, francamente, Folha de São Paulo, aquela obra deveria vir com uma manchete à altura, ao invés de ajudar a alimentar engajamento negativo contra uma de suas profissionais.

João Carlos Gomes | Jornalista Profissional e Fotojornalista
Edição: Guilherme Ribeiro.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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