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Contra poluição e efeitos perversos ao meio ambiente, COP25 lança "nova economia verde"

O sistema de produção dos futuros intercâmbios comerciais gerará novas fontes de abastecimento para manter sua atividade industrial
Armando G. Tejeda
La Jornada
Madri

Tradução:

A luta contra as consequências da mudança climática no meio ambiente pretende limitar a dependência da atividade industrial e social dos chamados “combustíveis fósseis”, de maneira destacada o carvão e o petróleo. Com o que se prevê que emerja uma nova economia “verde” provocará por sua vez uma drástica queda no nível de influência e renda nos países produtores e exportadores de petróleo, entre os quais se encontra o México, com uma perda de renda de até sete trilhões de dólares até o ano 2040. 

Segundo um informe da Agência Internacional da Energia Renovável (AIER) apresentado no marco da Cúpula do Clima do Chile, que se desenvolve nestes dias em Madri (COP25), o mapa geopolítico sofrerá uma profunda transformação com o novo paradigma de nova economia verde.

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Diante da dependência dos combustíveis fósseis como o petróleo ou o carvão, o sistema de produção dos futuros intercâmbios comerciais gerará novas fontes de abastecimento para manter sua atividade industrial, só que em teoria menos contaminantes e com menos efeitos para o meio ambiente. Ou seja, que os países com recursos naturais como cobre, alumínio, ferro, manganês, grafite e titânio, mas também de outros elementos menos conhecidos como antimônio, berílio, cobalto, gálio, germânio, índio, lítio, platinoides, rênio, tântalo, telúrio, terras raras e vanádio se converterão nos novos possuidores do que já se denomina o “petróleo do século XXI”. 

Esses produtos, além de gerar energias mais limpas, também são fundamentais para a geração de produtos tecnológicos aos quais a sociedade do século XXI se torna cada vez mais dependente como o telefone celular ou os computadores, com o que estes países se situarão no centro do jogo geopolítico global, ao ter os elementos necessários para o controle da produção, transformação e comércio destas matérias primas. 

O informe a AIER augura que os países exportadores de petróleo perderão sua capacidade de influência global, ao mesmo tempo que a dos importadores se verá reforçada, ao mesmo tempo que estima uma perda de renda de até sete trilhões de dólares, daqui até o ano 2040, para as economias produtores de petróleo e gás, o que se traduzirá em uma crescente instabilidade econômica, social e política nesses países, assim como em um aumento das tensões geopolíticas regionais.

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Este período de instabilidade terá seus momentos mais álgidos quando se leve a cabo, se é que de verdade seja firmado um compromisso total pela redução dos gases de efeito estufa, tal e como se firmou no Acordo de Paris de 2016, durante os períodos de transição. Ou seja, quando se substituam os “combustíveis fósseis” por outras fontes de energia e produção, como os elementos mencionados e que serão cruciais no mercado internacional das próximas décadas. 

No entanto, numerosos estudos científicos, como o realizado pelo pesquisador Guillaume Pitron em seu livro: A guerra dos metais raros: a face oculta do transição energética e digital, os novos elementos naturais que substituirão os combustíveis fósseis mais contaminantes hoje em dia, também são geradores de uma enorme quantidade de poluição e efeitos perversos no meio ambiente. 

O sistema de produção dos futuros intercâmbios comerciais gerará novas fontes de abastecimento para manter sua atividade industrial

COP25
O mapa geopolítico sofrerá uma profunda transformação com o novo paradigma de nova economia verde

Preocupação pelos oceanos

Uma das questões que mais preocupa na Cúpula do Clima de Madri é precisamente as consequências que já está tendo e que terá no futuro a emissão dos gases na qualidade dos oceanos, sobretudo na paulatina e constante perda de oxigênio. 

Assim o constata um informe apresentado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), que adverte que se continuar esta degradação da qualidade da água nos oceanos será registrada uma ameaça legal para as espécies marinhas e para os ecossistemas que habitam nos mares do mundo.

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Segundo o informe, entre os fatores fundamentais que provocam a perda de oxigênio nos oceanos está a contaminação (eutrofização) originada pelo nutrientes vertidos da terra (nitrogênio, fósforo…) procedente dos fertilizantes agrícolas e das águas residuais arrojadas nas zonas costeiras. 

O que provoca um crescimento excessivo de algas, que por sua vez esgotam o oxigênio na medida em que se decompõem. 

Outro fator, que preocupa cada vez mais a comunidade científica é o calor que emana dos gases de efeito estufa. Ou seja que, na medida em que o oceano se aquece, suas águas superficiais contêm menos oxigênio dissolvido, estratificam-se as camadas de água e se reduz a mistura com as camadas das profundidades do oceano, que contêm menos oxigênio. E ao tornar-se mais lenta a circulação profunda, reduz-se ainda mais o fornecimento de oxigênio às águas profundas.

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Segundo o informe, que aumentou o alerta na comunidade científica e nos ativistas presentes na COP25, atualmente há contabilizados 700 locais em todo o mundo afetados com baixa presença de oxigênio, enquanto na década de 1960 este inventário só incluía 45 enclaves. O que confirma que o conteúdo global de oxigênio do oceano diminuiu aproximadamente entre um e dois por centos desde meados do século XX. E se espera que perda entre 3 e 4 por cento para o ano 2100 em um cenário normal. 

Se for confirmado este cenário, as repercussões desta falta de oxigenação não se limitariam apenas aos mares fechados, mas sim aos sistemas de afloramento das regiões orientais das bacias oceânicas do mundo. Com o que se verão afetados alguns dos biomas mais produtivos do oceano, que sustentam uma quinta parte da captura de peixes marinhos selvagens do mundo, formados por correntes oceânicas que transportam água rica em nutrientes, mas pobre em oxigênio, para as costas. 

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Além de que a falta de oxigênio está começando a alterar o equilíbrio da vida marinha, e está favorecendo as espécies tolerantes com pouco oxigênio (por exemplo, micróbios, medusas e alguns calamares) a expensas das espécies sensíveis a pouco oxigênio (muitas espécies marinhas, inclusive a maioria dos peixes, como o atum, o marlim e os tubarões). 

Precisamente a COP25 tem entre seus principais objetivos converter a causa da defesa dos oceanos em uma de suas principais prioridades, pelo qual a partir desta semana começaram a perfilar as conclusões e compromissos por parte das delegações oficiais, para o que se prevê também a chegada de altos funcionários da Organização das Nações Unidas para dar o apoio final ao acordo, entre eles o secretário geral, Antonio Guterres.

*Armando G. Tejeda, Correspondente – La Jornada, Madri

**La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

***Tradução: Beatriz Cannabrava

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Armando G. Tejeda Mestre em Jornalismo pela Jornalismo na Universidade Autónoma de Madrid, foi colaborador do jornal El País, na seção Economia e Sociedade. Atualmente é correspondente do La Jornada na Espanha e membro do conselho editorial da revista Babab.

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