Pesquisa com com 10 mil jovens (16-25) de 10 países aponta que a grande maioria sofre, de uma maneira ou outra, com a ansiedade e a angústia causadas por questões climáticas: quase a metade (45%) dos entrevistados disse que já impacta seu dia a dia, afetando estudos, alimentação, sono e trabalho.
E 75% dos entrevistados acredita que “o futuro é assustador” – percentual que sobe para 86% no Brasil. “Esse estudo revela um quadro horrível e generalizado de ansiedade relacionada às mudanças climáticas em nossos adolescentes e jovens”, disse a psicoterapeuta Caroline Hickman, da Universidade de Bath (Reino Unido) e da Aliança Psicologia do Clima, uma das coordenadoras do estudo sobre ansiedade climática, lançado nesta terça (14/09) em evento virtual.
O trabalho, envolvendo pesquisadores de nove instituições, também destaca que a angústia e a ansiedade causadas por questões climáticas estão fortemente relacionadas com a percepção de falta de atitude governamental: 58% dos jovens entrevistados disseram que os governos estão “me traindo e/ou traindo as futuras gerações”, enquanto 64% afirmaram que seus governos não estão fazendo o suficiente para evitar uma catástrofe climática. Entre brasileiros, os dados sobem – de maneira nada surpreendente para quem tem um governo inimigo do meio ambiente – para 77% e 79%, respectivamente.
A desconfiança no governo fica evidente entre os jovens do Brasil: 78% dos entrevistados no país disseram acreditar que os governos estão mentindo sobre o impacto das ações tomadas para conter as mudanças climáticas – percentual mais alto que a média global de 64%; entrevistados do Brasil (21%) e dos Estados Unidos (21%) são os menos propensos a concordar com a afirmação de que os governos estão levando suficientemente a sério as questões relacionadas ao clima.
Biden declara mudança climática como eixo central de seu governo interno e externo
“É chocante ouvir que tantos jovens do mundo inteiro se sentem traídos por aqueles que deveriam protegê-los”, afirmou a psicóloga Liz Marks, que apresentou os dados do estudo no lançamento virtual.
Os jovens brasileiros, de acordo com a pesquisa, estão entre os mais impactados pela expectativa de agravamento da crise climática: quase metade (48%) dos entrevistados brasileiros disseram que se sentiam hesitantes em ter filhos, o maior percentual entre os 10 países envolvidos na pesquisa e um índice acima dos 39% de média mundial.
Os países onde foram maiores percentuais de jovens com rotinas e atividades afetadas pela ansiedade climática foram Índia e Filipinas. “São países onde a crise climática está se manifestando de maneira mais violenta com enchentes e furacões”, acrescentou Liz Marks, também coordenadora da pesquisa.
As entrevistas foram realizadas em Austrália, Estados Unidos, Reino Unido, Índia, Nigéria, Filipinas, Finlândia, Portugal, Brasil e França. No geral, 59% dos jovens estão muito ou extremamente preocupados com as mudanças climáticas; mais da metade disse sentir-se com medo, triste, ansioso, com raiva, impotente, indefeso e/ou culpado; e 55% dos entrevistados sentem que terão menos oportunidades que seus pais.
“A ansiedade de nossas crianças é uma reação completamente racional às respostas inadequadas que eles veem nossos governos dando às mudanças climáticas”, acrescentou a pesquisadora Caroline Hickman.
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75% dos entrevistados acredita que “o futuro é assustador” – percentual que sobe para 86% no Brasil.
Ansiedade climática = medo, raiva, tristeza, desespero
A pesquisa será publicada nos próximos dias na revista científica Lancet Planetary Health e, para o lançamento virtual foram convidadas jovens ativistas climáticas como a nigeriana Jennifer Uchendu e a alemã Luisa Neubauer.
“A indiferença dos governos com a crise climática me deixa furiosa. E os jovens se sentem não apenas assim: nós sentimos medo, nós vivemos luto. E nós temos uma sensação de impotência quando vemos crise climática avançado sem que os governos nada façam”, disse a ativista de 29 anos, fundadora da SustyVibes, que desenvolve projetos relacionados à mudança climática, ecofeminismo, juventude e poluição na Nigéria.
Luisa Neubauer, de 25 anos, contou que cresceu imaginando que o governo tomaria providências para evitar a crise climática e seus efeitos.
“Acabei entendendo que os governantes aqui na Alemanha não enfrentavam o assunto de frente, não tinham respostas para a crise. Essa é a razão porque há esta ansiedade climática porque jovens e crianças começaram a sair às ruas para protestar e cobrar providências no mundo inteira”, afirmou a ativista, lembrando que dia 24 de setembro, sexta-feira, está marcado mais uma greve global pelo clima, convocada pela organização Fridays for Future, liderada pela sueca Greta Thunberg.
A jovem alemã lembrou que as manifestações começaram há três anos e, apesar de protestos no mundo inteiro, não houve as esperadas reações do governo.
“Há sempre muitas palavras e pouca ação. Nós vemos cada vez mais crianças nas manifestações porque esses sentimentos de medo do futuro, de falta de esperança, de tristeza mesmo vão se tornando mais presentes”, disse Luisa.
“Falta um senso de urgência aos governantes. Não é apenas o futuro que está ameaçado. Os jovens sentem a ameaça da crise climática agora, no seu dia-a-dia”, acrescentou Jennifer Uchendu.
As ativistas também criticaram o trabalho da mídia em relação a crise climática. “A mídia falha em mostrar a dimensão da crise climática e falha na cobrança dos governos. A crise climática ainda é tratada como assunto secundário quando deveria ser o único tema, o condutor de todos os outros”, afirmou Neubauer.
“Há muitas pessoas ainda desinformadas sobre como as mudanças climáticas estão afetando a nossa vida hoje, no presente. A mídia não consegue mostrar o tamanho do problema e também falha em mostrar como as pessoas já afetadas no seu cotidiano estão enfrentando os problemas já causados pela crise – o que poderia inspirar outros na mesma situação e abrir os olhos de quem ainda não vive situações tão dramáticas”, apontou Uchendu.
Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Está de volta ao Rio após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. É criador da página no Facebook #RioéRua, onde publica crônicas sobre suas andanças pela cidade.
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