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Minas Gerais é vítima da política que prega o "deus moeda" acima de todas as coisas

Em MG, o desmonte do Estado vem na esteira da exploração mineral. Como agravante estão as barragens de rejeitos que quase sempre estão em risco de deslizamentos e rompimentos
Claúdio di Mauro
Diálogos do Sul Global
Uberlândia

Tradução:

Este começo de ano, em meio ao verão, está mostrando imensas crises hídricas em diversas partes do Brasil. Estas podem ocorrer por escassez de água, gerando secas, mas também por excesso de água, promovendo inundações. Agora, as chuvas passam das quantidades de precipitações habituais e provocam situações de catástrofes

Mas essas catástrofes são ocasionadas pelas chuvas ou pelo modelo de apropriação dos territórios e estruturas de poder impostas pelo sistema?

As inundações no sul do Estado da Bahia denunciam que o uso e a ocupação dos solos têm sido indevidos. Os transbordamentos, inundações afetando cidades, rodovias têm sido algo de tamanhos desastrosos.

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Há recorrência de episódios de chuvas torrenciais com maior frequência e concentração ao longo da história meteorológica. Antigamente, os episódios geradores de grandes inundações ocorriam aproximadamente a cada 50 anos. Atualmente, esses episódios têm maiores frequências. Isso significa que também há necessidade de uma melhora na adaptação do planejamento para convivência com tais “fenômenos da natureza”. 

As áreas impermeabilizadas dificultam e às vezes impedem a infiltração das águas das chuvas; a remoção das coberturas vegetais, fazendo com que os impactos das gotas de chuvas ocorram e desagregam diretamente os solos e as rochas, nessas condições, em situações de torrencialidades, aumentam as enxurradas provocando inundações. São enxurradas que transportam sedimentos que acabam por assorear cursos fluviais e barramentos, elevando os níveis das cheias. 

Quando as formas dos relevos são planas, especialmente em áreas de depressões, o escoamento pluvial sobrecarrega os canais fluviais que inundam grandes áreas, de maneira avassaladora. Em muitas circunstâncias, a energia dos escoamentos das águas destroem grandes partes de cidades e de plantações.

Conjugando com essas atividades econômicas, as intervenções nos cursos dos rios também modificam as características das planícies de inundação e dos terraços fluviais, interferindo no escoamento dos canais fluviais. As ocupações urbanas em áreas de planícies e terraços fluviais colocam as populações em situações de vulnerabilidades, riscos e sujeitas a muitas catástrofes.

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As realidades que estamos vivenciando nestes dias demonstram que o país, os estados e municípios não estão preparados para conviver com as mudanças climáticas. Quais são os interesses atendidos com esse tipo de Planejamento e Uso dos solos rurais e urbanos?

Acrescido a isso estão as barragens, que retendo água, podem provocar inundações a montante e em casos de rompimento produzem verdadeiras devastações a jusante. Neste início de janeiro, temos muitos exemplos desses crimes socioambientais, certamente por motivações econômicas.

Em MG, o desmonte do Estado vem na esteira da exploração mineral. Como agravante estão as barragens de rejeitos que quase sempre estão em risco de deslizamentos e rompimentos

Coletivo Nacional de Comunicação do MAB
Pará de Minas (MG) e municípios do entorno estão em alerta máximo por risco de rompimento de barragem do Carioca

Minas Gerais

O Estado de Minas Gerais tem sofrido graves consequências com os rompimentos de barragens. Triste sina das populações que habitam abaixo dessas imensas obras de engenharia, nem sempre seguras. Mariana, Brumadinho e agora Nova Lima são exemplos de catástrofes descomunais. Os dados técnicos demonstram que há muitos barramentos em situação de insegurança.

Nestes dias, há o risco de rompimento da barragem do Carioca, em Pará de Minas, podendo inundar trechos enormes de cidades, como Pará de Minas, Pitangui e Onça do Pitangui. 

Nos casos mineiros está evidente uma combinação de fatores, vinculados aos usos do solo por atividades empresariais minerárias, agronegócios, hidro eletricidade sob exploração inadequada dos territórios rurais e urbanos, tais atividades ocasionam situações de muito sofrimento humano.

Nestes momentos está muito impactada a Região Metropolitana de Belo Horizonte em função das atividades de mineração. As Serras nas quais estão inseridas essas urbanizações vinculadas à capital, existem as nascentes fluviais que estão sendo desmontadas afetando drasticamente os afloramentos das águas que servem para abastecer as populações.

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E a cada dia que passa mais outorgas são concedidas para novas atividades de mineração. Em Minas Gerais, o desmonte do Estado vem na esteira dos processos de exploração mineral. A destruição regional é absolutamente visível em sobrevoos e mesmo por terra. Como agravante estão as barragens de rejeitos que quase sempre se encontram em situação de risco para deslizamentos e rompimentos.

Conivência e modelo econômico    

O pior é que há conivência de autoridades do Estado, dos Municípios que enxergam no lucro gerado pela atividade minerária. O lucro acima de tudo de gente que afirmava que Deus estaria acima de tudo e de todos. Só não deixaram claro que esse Deus se resume ao “deus moeda”.

Os Conselhos com participação cidadã, são transformados e órgãos “homologadores” das demandas corporativas. Muitos profissionais sérios se retiram dos Conselhos tendo em vista que seus argumentos científicos não são tratados com a atenção que merecem. Outros, participam apenas para explicitar suas posições de contestação quanto às “soluções adotadas”.

Barramentos que são implantados com tecnologias superadas e desastrosas, conforme as experiências já demonstraram.

É certo que o modelo de crescimento econômico para atender interesses dos já endinheirados e manter as estruturas de poder não é possível continuar como está. Ou transformamos nossos enfrentamentos aos interesses meramente das corporações ou estaremos reduzindo drasticamente o tempo de vida da humanidade na Terra. Essa transformação é para já!

Infelizmente essa é a realidade para a qual devemos nos dedicar. Esse processo de globalização neoliberal com viés neofascista não interessa para a humanidade. Como disse o saudoso Professor Milton Santos: Por uma Outra Globalização, a de Todas as Pessoas.

Cláudio Di Mauro é geógrafo e colaborador da Diálogos do Sul


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Claúdio di Mauro

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