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ToggleAtualizado em 28.06, às 13h07
As coisas acontecem, estão óbvias, mas a mídia monopolista, em geral, se não omite, noticia como sendo a coisa mais natural do mundo. Refiro-me a informação e comentários sobre economia. Tomemos o exemplo da taxa básica de juros, que chegou a 14% e, segundo o Banco Central, logo mais estará a 15%.
O jornal dos Mesquitas titula editorial “Remédio Amargo contra a Inflação” e tasca uma bobagem atrás da outra. As duas maiores economias das Américas, pontua o editorial, apertam o crédito contra um forte surto inflacionário, vai dificultar os negócios e criação de emprego neste ano e talvez no próximo. Se funcionar, Brasil e Estados Unidos poderão retomar o crescimento em condições mais seguras e com mais vigor.
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Assim, como se fossem duas economias paralelas e parecidas, sem nenhum juízo de valor sobre as causas da inflação aqui e lá, e menos ainda sobre os efeitos da crise lá e aqui.
Vamos aos fatos:
No Brasil, a taxa básica foi elevada de 12,75% para 13,25%, com tendência de alta. Ou seja, vai para 14% e até o fim do ano, 15% ou mais. O custo disso pra sociedade brasileira é muito grande, paralisa o crédito já tão escasso, encarece a dívida pública e favorece tremendamente os especuladores do mercado financeiro.
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O sufoco continua, e só nisto o jornal acertou. De fato, o arrocho continua e se agrava porque não tem saída para crise dentro desse modelo adotado por este governo de ocupação. Beneficia o colonizador porque aumenta a dependência.
Nos Estados Unidos, a taxa básica subiu 0,75%, mas, veja bem, continua negativa. Lá, diferente daqui, a inflação é por excesso de demanda, incrementada com a injeção de 5 trilhões de dólares na economia; e diminuição da oferta, esta devido à forte estiagem e à maldita guerra que os Estados Unidos arrastaram a OTAN para fazer contra a Rússia.
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Natalie Sherman, repórter econômica da BBC em Nova York, constata que em 2021 aumentaram os preços em todo o mundo, 4.7% para o G7 e 8.6% nos Estados Unidos. Enquanto a inflação no Brasil bateu em 12%; a do Reino Unido ficou em 9%; 8,3% nos EUA e na Espanha; 7,4% na Alemanha; 6% na Itália; 4,8% na França; 2,1% na China e 1,2% no Japão.
O FED, Banco Central estadunidense, segundo a repórter, promoveu a mais alta taxa nos últimos 30 anos. Claro que os republicanos colocam a culpa em Biden, e Biden, (fazer o quê?) coloca a culpa na Ucrânia, ou melhor, em Putin, o demônio da vez.
Durante a pandemia, as famílias receberam ajuda do governo, não podiam viajar devido à Covid, gastaram dinheiro comprando coisas para melhorar o ambiente em casa.
A tendência lá é aumentar a oferta de crédito, mover a economia. Também recorreu aos estoques estratégicos de petróleo, colocando-os nos níveis mais baixos da história para compensar os altos preços do petróleo importado.
Aqui ao revés. Não tem demanda, nem de alimento (33 milhões com fome), o setor produtivo está no sufoco e o governo aperta ainda mais o crédito. Quem é que vai investir na produção num cenário como o do Brasil? Insegurança jurídica, incertezas próprias de um ano eleitoral, juros altos, inflação sem controle.
Bom mesmo é para quem tem dinheiro sobrando e pode comprar na pechincha os ativos nacionais vendidos na bacia das almas para engordar ainda mais os ricos.
Os danos maiores na economia não foram os provocados pela pandemia da Covid 19, nem pela guerra dos Estados Unidos. Uma aposta equivocada sob todos os aspectos, cujos únicos perdedores são o próprio Estados Unidos e seus aliados europeus. Aliás, seus colonizados europeus.
Sanções de Biden à Rússia têm potencial de levar Europa a crise terminal
No Brasil, a crise econômica se arrasta há 40 anos, desde que se adotou o modelo do Consenso de Washington, as regras básicas do neoliberalismo que impôs a ditadura do pensamento único.
O Brasil tem saída. Basta livrar-se do pensamento único, as garras do capital financeiro e promover um capitalismo produtivo. Como disse o presidente eleito da Colômbia, Gustavo Petro, vamos promover o capitalismo contra o medievalismo e o escravagismo.
Já os Estados Unidos e a Europa vão se afundar ainda mais.
Kremlin
Ocidente teima em preservar por todos os meios, revoluções coloridas, guerras econômicas, todos os tipos de guerras
Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo
Tudo o que foi justificativa para a guerra deu no contrário. Era para enfraquecer a Rússia para poder atacar a China. Fortaleceu a Rússia e fez da China a potência guia para uma nova ordem econômica mundial, mais do que isso, uma nova era de convivência entre as nações, livre da hegemonia das potências imperiais, decadentes.
Richar Black, hoje senador nos EUA, como coronel do Exército participou de todas as guerras promovidas por Washington nos últimos trinta anos, e como senador se especializou como um grande analista de conjuntura. Gravou um vídeo em que afirma e mostra com dados que a Ucrânia perdeu a guerra. Corrobora com o que vimos afirmando desde o início, que os mais prejudicados estão sendo os países europeus e o próprio império ianque.
Em contraste com a insensatez de Biden, Putin, em discurso no 25º Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, se revelou como estadista e sensato. Pé no chão, visão de presente e de futuro só possível em quem conhece a história e as tradições de seu povo. Não seremos mais colônias de ninguém! A ordem de um mundo unipolar acabou. Mas o ocidente teima em preservar por todos os meios, revoluções coloridas, guerras econômicas, todos os tipos de guerras.
Toda a diversidade do planeta é que se impõe agora, com criatividade, com cooperação.
Riqueza de culturas e civilizações do planeta são difíceis de padronizar, adverte Putin
O Fórum de São Petersburgo é multitemático, reúne países asiáticos do Pacto de Segurança Coletiva, países da África e das Américas, com destaque para os membros do novo G8, formado por quatro países dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China), mais Irã, Indonésia, Turquia e México.
De acordo com Pepe Escobar, muito provavelmente teremos em breve a expansão do BRICS, já que além da África do Sul — o S da sigla — a Argentina está interessada em aderir ao grupo e os membros do novo G8 são todos prováveis candidatos.
Apesar do bloqueio imposto por Estados Unidos e OTAN, apesar de todo esforço de guerra (para ele operação de desnazificação na Ucrânia), mostrou que o rublo está fortalecido como nunca, a nação superavitária, e autossuficiente, com segurança alimentar e energética. Anunciou que vai aumentar o capital circulante para financiar pequenas empresas e a produção agrícola, sem cobrar juros ou cobrando taxas mínimas. As hipotecas que custavam 9% reduziram a taxa para 7% ao ano.
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Para Putin, a Europa é uma democracia de fachada, se alternam partidos iguais, perdeu a soberania… querem resolver seus problemas às custas dos demais, com a mesma política colonialista, mais astuta agora, com a guerra. Se enganaram em acreditar na debilidade da economia russa, ignoraram as mudanças havidas.
Em contraste com o ocidente, a Rússia desenvolve uma economia de valores reais, soberana, completa, sistêmica com planos de longo prazo que oferece liberdade na economia, segurança jurídica e tributária, e apela aos executivos e empreendedores a planejar o futuro com o futuro da pátria, servir às pessoas e a sociedade.
Putin propõe justiça e equidade social; foco na infraestrutura com reconstrução das estradas e construção de novas, construção de vivenda e modernização das pequenas cidades com crédito de 15 anos e juros de 3%. Desenvolver o campo para continuar a alimentar o país e boa parte do mundo.
Soberania tecnológica, além da soberania militar, criar estândares para livrar-se dos monopolizados pelo ocidente. Mencionou que as armas hipersônicas colocam o país em primeira posição em tecnologia atômica. Não precisa fabricar tudo, mas é preciso ter a tecnologia para não ficar dependente.
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Putin deixou claro que tem consciência de que nasce uma nova ordem econômica e que é preciso romper o bloqueio que ainda existe na informação. Ele tem razão. As pessoas precisam saber que o mundo está em movimento e a terra é redonda.
De fato, estamos no limiar de uma nova época.
Países fortes porque são soberanos e interagem em benefício do progresso da humanidade e da paz.
Termino evocando Dai Bin, representante da China na ONU.
“Vamos apostar pela paz; não mais sansões. Sansões não trarão a paz, apenas acelerará a expansão da crise alimentar, energética e financeira pelo mundo e farão com que as crianças de todo o planeta sofram as amargas consequências.”
Paulo Cannabrava Filho, jornalista latino-americano e editor da Diálogos do Sul.
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