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Pacote econômico de Biden tenta salvar capitalismo, mas ofensiva contra Rússia e China são tiro no pé do Imperialismo

Estadunidense tenta erguer uma nova Cortina de Ferro para barrar o "comunismo", mas a marcha da humanidade é implacável e a história só se repete como farsa
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

El País publica extensa matéria sobre o programa econômico do presidente Biden, que requer US$ 2,3 trilhões para recuperação da economia, insinuando que esse fato inédito significa o abandono do neoliberalismo. Doce ilusão de quem se esquece da história e confunde vontade com realidade.

Primeiro, não é novidade. Tem o precedente de seu antecessor, o presidente Donald Trump, que gastou US$ 3 trilhões para não deixar a economia afundar. Biden se propõe a gastar outro tanto. Lembrem-se que já conseguiu US$ 1,3 trilhões com os quais está dando US$ 1.400 para os desempregados.

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A diferença entre um e outro é que Biden pretende estimular a produção — obras de infraestrutura — gerando empregos diretamente. Trump primeiro salvou o sistema financeiro e depois deu migalhas para os pobres.

Significa o quê? Abandono do neoliberalismo? 

Claro que não. Apenas inteligência. 

Repetem o que fez Franklin Roosevelt na grande crise dos finais dos anos 1920. O New Deal (Novo Pacto) foi isso. Investimento maciço em infraestrutura e construção civil, com moradias. Aqui, foram abertas frentes de trabalho colocando pessoas para construírem açudes no Nordeste e estradas.

 

Se trata de salvar a economia e salvar o próprio capitalismo 

O que fizeram Roosevelt, Trump e agora pretende fazer Biden é uma tentativa não só de salvar a economia estadunidense, mas o próprio capitalismo. Porém, não será fácil para o presidente democrata. Ele quer 2,3 trilhões, mas os republicanos querem dar só 568 milhões de dólares. Não é por economia e sim por razões políticas, eleitoreiras. Trump é um eterno candidato e quer afundar a administração democrata para voltar em 2025.

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Tendo em vista a pandemia, Biden quer recuperar o tempo perdido por Trump e salvar vidas e a economia. Depois que estiver superado o impasse, tudo volta à normalidade expansionista e belicista, afinal, os EUA estão desesperados com a perda acelerada da hegemonia e, fera acuada, qualquer reação imprevisível pode acontecer.

Tem gente falando que as ações de Biden são uma ruptura com o neoliberalismo. Tem sentido. Desde a quebra dos maiores bancos, simbolizados pelo Lehman Brothers, estão buscando saídas para a ditadura do capital financeiro e do pensamento único que eles mesmos criaram. Então é isso: há que salvar o capitalismo.

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Paralelamente, proclamam que os inimigos são Rússia e China, ou seja, o comunismo. Fantasma que ressuscitam, posto que a questão do terrorismo já não está funcionando e não tem como ser mantida.

Anacrônicos, perdidos, tentam erguer uma nova Cortina de Ferro para barrar o comunismo. A marcha da humanidade é implacável e a história só se repete como farsa.

O capitalismo do complexo militar industrial precisa de guerra, ou fantasias de guerra para sobreviver. 

Movem então as enormes frotas navais capitaneadas pelos porta-aviões carregados de aviões de combate. Possuem seis frotas, com 253 navio e onze porta-aviões. Agora mesmo, tem uma frota no Mar do Norte e outra no Mar da China provocando. Quanto custa mover uma frota como essa que tem, cada uma, mais de dois mil soldados?

Estadunidense tenta erguer uma nova Cortina de Ferro para barrar o "comunismo", mas a marcha da humanidade é implacável e a história só se repete como farsa

Pixabay
Proclamam que o inimigo é a Rússia, é a China, ou seja, é o comunismo.

O perigo é esses loucos perderem o senso

São muito perigosos os personagens que integram o establishment estadunidense. Ao tempo que anunciam que estão retirando tropas do Afeganistão — ficaram mais de dez anos lá — estão aumentando os efetivos na Síria e, como já assinalado, movendo frotas que afrontam a soberania tanto russa como chinesa. E pretendem arrastar os europeus como coadjuvantes de suas loucuras belicistas.

Loucura sim. Chamar o presidente de um país (Vladimir Putin) de assassino e dizer que a Rússia tem que pagar o preço por uma suposta interferência nas eleições de 2020 é esticar a corda além do limite.

Menos mal que os russos têm bom senso. Trata-se de uma civilização milenar que sofreu muito com as guerras — 20 milhões de soviéticos foram mortos na Segunda Guerra Mundial — e agora quer se desenvolver tranquila, mas tem brios e sabe como ganhar uma guerra. 

Dimitri Medvedev, do Conselho de Segurança da Rússia, comparou a atual situação àquela da crise dos mísseis de outubro de 1962 que colocou os dois países à beira do confronto militar e o mundo diante de um holocausto nuclear.

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É que não parou nesse palavreado chulo para um presidente, a coisa seguiu com deslocamento de tropa na Síria, pressões sobre o governo da Ucrânia, barcos de guerra no Báltico e no Mar Negro.

Artigo divulgado pela agência Novosti Medvedev adverte que qualquer passo equivocado ou falta de paciência “pode precipitar a todo o mundo num abismo de problemas complicadíssimos e se tornar uma ameaça de confrontação militar direta”.

O porta-voz do Kremlin, não deixou por menos. Para Dmitri Peskov há uma necessidade de vontade política mútua. O presidente Putin tem demonstrado, reiteradamente, sua vontade de estabelecer diálogo sobre temas de interesse comum sob base de respeito. Mas os Estados Unidos caminham em direção contrária.

De fato, desde início do governo Trump, os EUA têm reforçado com tropas e equipamentos pesados a presença militar em países  como Estônia, Letônia e Lituânia, que hoje integram a Otan, organização que, por sua vez, encoberta as intenções dos EUA e realiza manobras na Alemanha e outros países membros.

Impressionante, que passados mais de 70 anos do término da Segunda Guerra, a Europa continue sendo um conjunto de países ocupados militarmente, isso sem contar a hegemonia do dólar que o euro não consegue superar. Só na Alemanha, os EUA mantêm mais de 30 mil tropas, outro tanto nas bases em Itália, Bélgica e França. Em abril de 2020, mandaram mais 20 efetivos para reforçar a Otan.

Loucura o que fazem na Síria

Por acaso não é loucura o que os ianques estão fazendo na Síria?

Não conseguiram derrubar nem desestabilizar o governo e, por pura maldade e ganância, impõem um terrível bloqueio, parecido com aquele que impõem a Cuba e Venezuela. Impedem que empresas comercializem e isso causa fome e mortes, faltam até medicamentos nos hospitais.

Contudo, a maior loucura é que a CIA esteja ajudando a Al-Qaeda, na guerra civil que trava com vistas a implantar o caos no país. Esse grupo terrorista é acusado de ter praticado o maior atentado terrorista nos EUA, contra as torres gêmeas em Nova York, que deixou cerca de três mil mortos.

Agora, perpetram crimes de guerra na Síria, armados e financiados pelos Estados Unidos. Crimes como degolar cristãos e sunitas com objetivo de exterminá-los, além de rapto de mulheres para vendê-las em mercados de escravas.

O Pentágono aumentou o número de soldados na Síria. Por quê? As áreas ocupadas são ricas em petróleo e gás que estão sendo explorados por empresas ianques ou por grupos que fazem a guerra e se financiam com isso, enquanto a população mais vulnerável vive mergulhada na pobreza extrema.

Atrasar o desenvolvimento do adversário

A Rússia, evidentemente não pode ficar indiferente a esse cerco militar. 

Para isso, tem que desviar recursos e energia humana na defesa, atrasando o desenvolvimento em outras áreas essenciais para o bem-estar humano. Por isso reforçou e modernizou sua frota no Báltico e aumentou a concentração de efetivos e equipamentos nas fronteiras ocidentais. Em matéria de equipamentos, os russos contam com caças aéreos e mísseis de quinta geração, de tirar o sono do Pentágono.

A Sexta Frota, com base em Nápole,s passou a fazer provocações no Báltico e tratou de enviar navios de guerra para o Mar Negro, obrigando a Rússia a reforçar sua frota nessa área estrategicamente vital, onde tem o terminal marítimo da Crimeia, porta para o comércio russo com Europa e Oriente Médio e base para a frota russa do Mar Báltico, herdada do tempo dos soviéticos, que por sua vez herdou da Rússia Imperial.  

De outro lado, o Pentágono, — o ministério da guerra dos EUA — continua pensando que a ilha de Formosa (Taiwan) é um país independente e não para de provocar a China. Agora mesmo,  em fevereiro, Biden ordenou o deslocamento de frotas que mantém no Índico e, com a marinha de guerra australiana, está fazendo provocações em águas de soberania chinesa.

Interessante lembrar que a China conseguiu esse espetacular salto de desenvolvimento nos últimos trinta anos porque concentrou todos os esforços e recursos no desenvolvimento de infraestrutura e bem-estar da população. Acabou com a miséria neste ano ao incorporar 30 milhões de chineses que faltavam `à economia. Enquanto os Estados Unidos e os países da Otan gastavam em manutenção do aparato bélico, a China se transformou na fábrica do mundo.

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Tem dinheiro e recurso para agora mostrar que não se intimida com ameaças. Em pouco tempo, construiu uma força naval maior do que a de todos os países europeus juntos. Só em 2020 incorporou 27 navios a essa frota. Tudo na China é assim, numa velocidade incrível. E nessa velocidade, começou a se equipar para ultrapassar os EUA como potência aeroespacial. 

Nos oceanos, os EUA ainda são superiores, com porta-aviões e barcos armados de maior tonelagem, mas a China já tem a maior marinha do mundo, e, tecnologicamente é mais avançada que os EUA. Em conjunto com a Rússia, hoje compondo uma aliança estratégica militar, conta com mísseis interceptadores de última geração, homens e equipamentos que podem ser mobilizados em qualquer parte do vasto continente euroasiático.

Então, é de se perguntar o que é que passa pela cabeça do senhor Biden ao insistir em cutucar a onça com vara curta. Só mesmo um desequilíbrio mental.

Paulo Cannabrava Filho é jornalista e editor da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1967. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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