Pesquisar
Pesquisar

Após 10 anos de ingerência e ocupação estadunidense, guerra brutal contra Síria continua com Biden

No Oriente Médio, o imperialismo dos sustenta um enfrentamento direto com a Rússia, Irã e as forcas anti-imperialistas árabes
José Antônio Egido
Pressenza
Damasco

Tradução:

A guerra contra a República Árabe Síria voltou a ser notícia na imprensa com o bombardeio estadunidense contra uma milícia iraquiana aliada da Síria e do Irã, no dia 26 de fevereiro passado. Essa foi considerada a primeira agressão militar ordenada pelo presidente Biden.

A responsabilidade abrangente de Biden neste novo ato criminoso é verdadeira? Responder que sim significa ignorar completamente o funcionamento político do líder do campo imperialista, os Estados Unidos da América. 

Nem o poder que o preside provém do sufrágio universal, nem quem ocupa a Casa Branca decide sobre as políticas estratégicas desta potência. Viu-se claramente quando Trump se encontrou impossibilitado de cumprir sua promessa eleitoral de retirar as forças de ocupação do nordeste da Síria

Sendo assim, quem detém o poder? Os grandes monopólios financeiros, militares-industriais, tecnológicos, comerciais, de energia e outros, incluindo os lobbies de interesses estrangeiros. 

O imperialismo estadunidense é governado por uma quase ditadura onde esses interesses são disputados abertamente, não homogêneos, mas contraditórios. Disputas que se refletem em lutas políticas e militares diante da ausência cada vez mais notória de um comando único, como o que existiu na época do auge estadunidense. 

Por que o imperialismo, depois de 10 anos fracassando em derrubar o Partido Baas Árabe Socialista sírio e seus aliados, insiste em seguir ocupando o país? Porque, caso reconheça sua derrota, deve assumir a vitória da Rússia e da Frente da Resistência que tem, na Síria e no Irã, seus núcleos principais, e, consequentemente, a perda da sua influência em uma região estratégica dotada de grandes recursos energéticos, agrícolas e capacidade de projeção sobre três continentes e as principais rotas do comércio mundial.

Por que, nesse momento, os Estados Unidos bombardeiam a milícia próIrã?

  • Romper a continuidade da linha horizontal de ligação da Frente da Resistência entre Teerã e Beirute, passando por Bagdá, Basra e Damasco.
  • Ameaçar a presença militar russa que apoia a Síria.
  • Impedir a reconstrução da Síria e a consolidação de sua vitória em territórios ainda não ocupados por tropas turcas, estadunidenses e francesas e seus mercenários islamo-fascistas e curdos.
  • Para intimidar o Irã na discussão sobre o retorno ao pacto de colaboração nuclear.
  • Manter as linhas de fratura interétnicas e interculturais que são fundamentais para enfrentar os povos da região. 

Unicamente os EUA bombardearam a milícia? Em 6 de fevereiro, os governos dos EUA, Reino Unido, França e Alemanha definiram uma política comum perante o Irã e é lógico pensar que essas três principais potências imperialistas subalternas tenham respaldado essa agressão estadunidense.

O que esse bombardeio indica? Que continua a mesma política de ingerência, ocupação e agressão contra os povos árabes, muçulmanos e iranianos, em desafio à Rússia e em apoio a seus clientes regionais: Israel, as monarquias reacionárias e os grupos terroristas e mercenários internacionais.

A solidariedade internacional é suficiente com a resistência sem precedente do governo e do povo da Síria? Evidente e lamentavelmente não. 

Os comunistas e as esquerdas espanholas demonstraram um nível surpreendente de incompreensão sobre a centralidade que a luta da Síria tem contra a barbárie na derrota estratégica do imperialismo e na construção de um mundo sem imperialismo

Esquerdas que se limitam a repetir rotineiramente alguns mantras, que não estuda, com seus dirigentes envolvidos em preocupações eleitorais e cálculos em curto prazo e que, inclusive, permitem-se hoje incorporar-se ao discurso ocidental contra o Irã por sua suposta “violação de direitos humanos”.

Cenas dos próximos capítulos? Tudo dependerá do conflito em torno ao regresso ao acordo nuclear destruído por Trump em 2018, que levou a um crescimento da tensão regional

Cabe temer que, no Oriente Médio, o imperialismo vá sustentar, simultaneamente, um enfrentamento direto com a Rússia, Irã e as forcas anti-imperialistas árabes do Líbano, Palestina, Síria, Iraque e Iêmen

As forças que lutam pela Paz, o respeito ao direito internacional, a solidariedade com as causas justas dos povos e a criação de um mundo multipolar devem se reorganizar nas condições atuais da pandemia.

* Publicado originalmente em Agência Árabe Síria de Notícias

** Traduzido do espanhol para o português por Graça Pinheiro / Revisado por Tatiana Elizabeth


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na Tv Diálogos do Sul


   

Se você chegou até aqui é porque valoriza o conteúdo jornalístico e de qualidade.

A Diálogos do Sul é herdeira virtual da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Como defensores deste legado, todos os nossos conteúdos se pautam pela mesma ética e qualidade de produção jornalística.

Você pode apoiar a revista Diálogos do Sul de diversas formas. Veja como:


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

José Antônio Egido

LEIA tAMBÉM

Modelo falido polarização geopolítica e omissão de potências condenam G20 ao fracasso (2)
Modelo falido: polarização geopolítica e omissão de potências condenam G20 ao fracasso
Rússia Uso de minas antipessoais e mísseis Atacms é manobra dos EUA para prolongar conflito
Rússia: Uso de minas antipessoais e mísseis Atacms é manobra dos EUA para prolongar conflito
Após escalar conflito na Ucrânia com mísseis de longo alcance, EUA chamam Rússia de “irresponsável”
Após escalar conflito na Ucrânia com mísseis de longo alcance, EUA chamam Rússia de “irresponsável”
Misseis Atacms “Escalada desnecessária” na Ucrânia é uma armadilha do Governo Biden para Trump
Mísseis Atacms: “Escalada desnecessária” na Ucrânia é armadilha do Governo Biden para Trump