Pesquisar
Pesquisar

Miguel Urbano Rodrigues | Lenin e o imperialismo

A palavra imperialismo – originária do latim- é muito anterior ao aparecimento do moderno imperialismo como realidade politica, social e econômica
Miguel Urbano Rodrigues
Diálogos do Sul Global
Lisboa

Tradução:

Mas foi Lenin quem pela primeira vez chamou a atenção para a ameaça que a nova fase do imperialismo significava para a humanidade, o que exigia uma  estratégia revolucionária.

O seu livro – O Imperialismo fase superior do capitalismo – foi publicado em l917, meses antes da Revolução de Fevereiro, que derrubou a monarquia  autocrática russa. A Associação Cultural Diário  Liberdade lançou agora uma edição em galego dessa obra hoje um clássico do marxismo.

No prefácio, que escreveu em Petrogrado em Abril de 17, Lenin esclarece que algumas passagens da versão original foram por ele mutiladas para que a censura czarista autorizasse a sua distribuição na Rússia. Viu-se forçado, por exemplo, a substituir Rússia por Japão para iludir os censores do czar.

No prefácio para as edições francesas e inglesa, publicadas em l920, dirigindo-se aos leitores da Europa Ocidental, caracteriza a guerra de 1914-18 como um conflito «pela partilha do mundo, pela divisão e distribuição das colónias, das esferas de influencia do capital financeiro, etc”

Aos 98 anos de sua morte, Lenin ainda vive na luta de milhões de pessoas ao redor do mundo

Acrescenta alias que “as guerras imperialistas são absolutamente inevitáveis enquanto subsistir a propriedade privada dos meios de produção”. Um terceiro prefácio, da responsabilidade da Editora Diário Liberdade, confere à iniciativa uma grande atualidade.

Os leitores apercebem-se de que, transcorrido quase um século,  a reflexão de Lenin sobre a natureza do imperialismo no inicio do século XX os ajuda muito a compreenderem a complexidade de grandes problemas contemporâneos não obstante as prodigiosas mudanças ocorridas no mundo desde então.

A palavra imperialismo – originária do latim- é muito anterior ao aparecimento do moderno imperialismo como realidade politica, social e econômica

wikimedia commons
lenin

O domínio avassalador dos monopólios na nova fase do imperialismo. No seu livro- a que chamou folheto- inova também ao desmascarar a manobra da burguesia que criou “a aristocracia operária” para dividir a classe trabalhadora.

O prefácio da edição galega lembra que Lenin antecipou a importância que iriam assumir revoluções democráticas e nacionais em países atrasados (casos da persa,da turca  e da chinesa) e as lutas contra o colonialismo e o imperialismo.

Considerações sobre o Lenin Filósofo de Anton Pannekoek e seus difusores peruanos

“As lutas nacionais-escrevem os editores- serão cada vez mais ingredientes, progressistas e revolucionários frente ao domínio dos monopólios, o que exige a sua integração na estratégia do movimento comunista internacional”.

  frase-el-imperialismo-surgio-como-desarrollo-y-continuacion-directa-de-las-propiedades-fundamentales-lenin-119062

Os cinco pontos referidos por Lenin para definir o capitalismo monopolista da sua época mantêm atualidade na caracterização do imperialismo deste início do terceiro milénio. A concentração da produção e do capital, mediante a hegemonia dos monopólios, tem avançado inexoravelmente durante o ultimo século-sublinham os editores-; a fusão entre capital bancário e industrial, que hoje já converteu o capital financeiro em dominante sobre o industrial e comercial; a exportação de capitais que liga diretamente com a teoria marxista da dependência desenvolvida principalmente por autores marxistas latino-americanos, como Florestan Fernandes e Rui Mauro Marini, entre outros, a partir das decidas de 60 e 70,de especial interesse na dialética colonial centro-periferia, soberania-dependência e do papel que, no caso da Galiza o nosso país ocupa na divisão internacional do trabalho, a repartição do mundo entre as grandes potencias, cuja culminação não só não impede que continuem os conflitos, com os estende às regiões do globo de interesse extrativo, energético e geoestratégico.

Considero útil transcrever dois parágrafos do livro de Lenin. Facilitam a compreensão da crise estrutural que o capitalismo enfrenta: «Por outras palavras o velho capitalismo, o capitalismo da livre concorrência, com o seu regulador absolutamente indispensável, a Bolsa, passa à história.

Em seu lugar apareceu o novo capitalismo, que tem os traços evidentes de um fenómeno de transição que representa uma mistura da livre concorrência com o monopólio». «O velho capitalismo caducou. O novo constitui uma etapa de transição para algo diferente.

Encontrar ‘princípios firmes e fins concretos’ para a ‘conciliação’ do monopólio com a livre concorrência é naturalmente uma tarefa votada ao fracasso». Lenin, ao escrever o seu livro em vésperas de uma revolução que abalaria o planeta, tinha plena consciência  de que o capitalismo monopolista na sua fase de transição não era estático. Estava em permanente transformação

O futuro imediato era imprevisível. A vitória da Revolução de Outubro foi um dos acontecimentos mais maravilhosos da Historia da Humanidade. Mas o socialismo não se implantou na Europa Ocidental e, hoje a Rússia, destruída a URSS, é um país capitalista. Nem por isso – repito- o livro de Lenin perdeu atualidade. Merece ser lido e relido.

A Editora Diário Liberdade prestou um serviço ao povo da Galiza ao publicá-lo na sua língua. O combate dos patriotas galegos pela independência contra a dominação do Estado Espanhol é muito difícil. Não obstante, os revolucionários  leninistas da Galiza irmã não baixam os braços.

É sua convicção inabalável que o comunismo (com passagem pelo socialismo) é a única alternativa possível à barbárie capitalista que ameaça destruir a humanidade.

Matéria publicada originalmente em 14 de maio de 2016 e atualizada em 21 de janeiro de 2022, em razão dos 98 anos da morte de Lenin.

Miguel Urbano Rodrigues, ex-colaborador da Diálogos do Sul em Serpa, Portugal. Em memória.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na TV Diálogos do Sul


Se você chegou até aqui é porque valoriza o conteúdo jornalístico e de qualidade.

A Diálogos do Sul é herdeira virtual da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Como defensores deste legado, todos os nossos conteúdos se pautam pela mesma ética e qualidade de produção jornalística.

Você pode apoiar a revista Diálogos do Sul de diversas formas. Veja como:

  • PIX CNPJ: 58.726.829/0001-56 

  • Cartão de crédito no Catarse: acesse aqui
  • Boletoacesse aqui
  • Assinatura pelo Paypalacesse aqui
  • Transferência bancária
    Nova Sociedade
    Banco Itaú
    Agência – 0713
    Conta Corrente – 24192-5
    CNPJ: 58726829/0001-56

       Por favor, enviar o comprovante para o e-mail: assinaturas@websul.org.br 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Miguel Urbano Rodrigues

LEIA tAMBÉM

O espelho dos tiranos a tragédia de Hércules na visão de Eurípedes
O espelho dos tiranos: a tragédia de Hércules na visão de Eurípedes
Espanha se despede da atriz Marisa Paredes, ativista contra ditadura franquista e extrema-direita
Espanha se despede da atriz Marisa Paredes, ativista contra ditadura franquista e extrema-direita
Frei Betto Do ritual à vivência a conexão entre religião e espiritualidade
Frei Betto | Do ritual à vivência: a conexão entre religião e espiritualidade
A tarefa do Progressismo na América Latina, do início ao futuro do século 21
A tarefa do Progressismo na América Latina, do início ao futuro do século 21