Há cinco milhões de pessoas sem acesso ao mínimo no que diz respeito à alimentação. E a quantidade de pessoas com problemas alimentares na Argentina duplicou relativamente a 2016. Estes números são do Observatório de Políticas Públicas da Universidade de Avelaneda e ilustram a situação dramática em que este país se encontra.
Os preços dos alimentos estão a escalar. Num ano, o leite aumentou 88,7%, o arroz 70,9% e o frango 70,3%, por exemplo. As carências alimentares foram uma das principais razões para milhares de pessoas saírem esta quarta-feira às ruas de Buenos Aires. Exigiu-se por isso que o governo declare o estado de emergência alimentar.
O protesto desdobrou-se em várias frentes. Junto ao Ministério do Desenvolvimento Social, na Avenida 9 de julho, a Frente de Organizações em Luta acampou para denunciar a falta de comida e leite nos refeitórios escolares e a baixa qualidade nutricional da que tem sido disponibilizada para ajuda alimentar. Nos refeitórios sociais, geridos por parte dos movimentos sociais, encontram-se cada vez mais dificuldades. A equipa de saúde do movimento Somos Barrios de Pie diz que 42,8% das crianças e jovens que frequentam o seu refeitório tem problemas de sub-nutrição. Estes movimentos anunciaram um “jornada nacional de acampamentos” que terá lugar “por tempo indeterminado”. Na manhã desta quinta-feira, o acampamento de protesto ainda se mantinha.
Reprodução via twitter
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Fome avança
Outros preferiram dirigir-se ao Congresso Nacional, onde tinham sido apresentados oito projetos de lei sobre a emergência alimentar que o governo não quer debater.
Os manifestantes querem que os vários projetos sejam unificados de forma a pressionar Macri.
Num país onde o Instituto Nacional de Estatística e Censos revela que, no último semestre de 2018, havia 32% da população a viver abaixo do limiar da pobreza e a Universidade Católica sublinha que 51,7% das crianças e jovens vivem num lar pobre, as manifestações não se focaram apenas na resolução urgente da questão alimentar. A política de austeridade de Macri, os baixos salários, a questão da inflação, o problema da dívida e as medidas preconizadas pelo Fundo Monetário Internacional foram também visados pelos manifestantes. Daí que, nas ruas, se pudessem encontrar faixas e cartazes a dizer coisas como “a dívida é com o povo, não com o FMI” ou “Macri e FMI fora”.
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Para além de vários outros focos de protesto, em frente ao Banco Central um grupo de trabalhadores de empresas que tinham falido e foram recuperadas pelos próprios trabalhadores e de outros setores da economia popular concentrou-se para exigir a saída de Macri do governo de forma “evitar o caos econômico”. Dizem que cada dia que o presidente continua em funções “significa mais fome, mais desemprego, maior decomposição do tecido social, deixando particularmente mais vulneráveis as mulheres e a juventude.”
Os manifestantes criticam ainda a decisão do presidente do país de liberalizar a importação de lixo mesmo sem certificado ambiental. Para além dos problemas ambientais, a decisão afeta os cartoneros informais e as cooperativas de trabalhadores que recolhem cartão nas ruas para reciclagem. Este temem que a baixa dos preços do material para reciclagem que isto significa coloque em causa a sobrevivência de uma população altamente vulnerável.
No mesmo dia, uma greve nacional de professores, convocada pela Confederação de Trabalhadores da Educação, paralisou o ensino do país. A greve surge na sequência de uma agressão de professores que fizeram um corte de estrada em Chubut devido à falta de pagamento de salários desde fevereiro. Pessoas ligadas ao setor petrolífero romperam violentamente o cordão que os professores faziam na estrada causando cinco feridos.
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