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Mudanças alcançadas em 100 dias de governo Biden são resultados da luta contra neoliberalismo

Vale reiterar que esta última eleição presidencial não foi definida pelo voto a favor de Biden, mas pelo voto para derrotar o projeto neofascista de Trump
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

As mudanças anunciadas e conseguidas durante os primeiros 100 dias de Joe Biden na Casa Branca são em grande medida resultado de milhares de dias de luta social contra o projeto neoliberal dos últimos 40 anos, e a desigualdade econômica, contra o racismo sistêmico, contra a cultura de violência armada dentro e fora do país, pelos direitos civis dos afro-estadunidenses, latinos, asiáticos, indígenas e imigrantes, e pelo futuro do planeta diante da mudança climática. 

Ou seja, nem a eleição de Biden nem a agenda política impulsionada por ele podem ser entendidas sem levar em consideração o massivo trabalho cotidiano do amplo mosaico de lutas sociais, incluindo o das vidas negras, o maior movimento de protesto da história com a participação de mais de 26 milhões, que muito antes de Biden já estavam mudando a dinâmica política do país e obrigando um giro para o que se pode chamar, em termos gerais, a esquerda. 

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Vale reiterar que esta última eleição presidencial não foi definida pelo voto a favor de Biden, mas sim pelo voto para derrotar o projeto neofascista de Donald Trump, e esse triunfo tomou impulso pelo mosaico de forças progressistas dos Estados Unidos – essas são as contrapartes e aliados naturais dos que amam a justiça e os seus países também (parafraseando Camus) em qualquer parte do mundo.

Biden sempre havia sido um político centrista que apoiou o consenso neoliberal das cúpulas e as políticas bélicas imperiais. Mas a dinâmica política estadunidense mudou e portanto ele foi obrigado a mudar, primeiro para conseguir ser eleito e agora para governar um país em crise, onde diversos movimentos exigem reformas econômicas, políticas, sociais e ambientais profundas. 

Vale reiterar que esta última eleição presidencial não foi definida pelo voto a favor de Biden, mas pelo voto para derrotar o projeto neofascista de Trump

Twitter – reproducción
Biden está agora impulsionando uma massiva reforma anti-neoliberal sem precedentes em décadas

Promessas a serem cumpridas

As mudanças anunciadas por Biden até agora – algumas por ora limitadas ou parciais, outras promessas a serem cumpridas – não aparecem porque ele de repente se tornou um radical socialista (como acusa a direita), mas porque tiveram que responder ao leque de movimentos e expressões organizadas progressistas que surgiram neste país durante os últimos anos, alguns inovadores e outros ressuscitando os grandes movimentos históricos sobre direitos trabalhistas, de imigrantes, direitos civis e antiguerra.

Tanto é assim que Biden agora está impulsionando um massiva reforma anti neoliberal sem precedentes em décadas ao responder às demandas das forças políticas encabeçadas por Bernie Sanders e seus aliados e aos movimentos do “outro mundo possível” até o “Ocupa Wall Street” que foram seus antecedentes durante os últimos 30 anos.

“Temos resistido ao neofascismo e ao terror da supremacia branca do trumpismo… A eleição foi só uma porta, não é o fim”, comentou sobre os primeiros 100 dias do novo governo Maurice Mitchell, líder do Working Families Party, parte importante do grande mosaico progressista.

“Nos próximos quatro anos se trata de construir um movimento e transformar a sociedade, ao resgatar nosso planeta da mudança climática e as pessoas do racismo e da desigualdade econômica”, resumiu o consenso de uma ampla gama dessas forças progressistas.

Nse Ufot, do New Georgia Project comentou que “estamos celebrando a chegada dos Estados Unidos do futuro multirracial, multiétnico e solidário” e agora o desafio é “construir uma democracia participativa mais representativa para todos”. 

Esse futuro depende da recuperação da memória, da história, dos de baixo. Os imigrantes regalaram a este país a recuperação do primeiro de maio (que não é feriado oficial) que nasceu aqui, comemorando o movimento pela jornada de oito horas que culminou com 300 mil trabalhadores, muitos deles imigrantes, explodindo em greve através do país a favor de uma vida digna, e com os mártires de Chicago, oito anarquistas que foram condenados à morte por se atreverem a promover a mudança social e econômica do país.

Essa memória coletiva está presente cheia de música, lágrimas, nobreza e festejo de milhares de dias de luta, incluindo os últimos 100 dias. 

Pete Seeger | Solidarity Forever

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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