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Com epidemia de violência e tiroteios, certo seria desconvidar EUA da Cúpula das Américas

País deveria focar pôr sua casa em ordem e não representar a ameaça contra os princípios de direitos humanos, liberdade civis e a própria democracia
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

O que tem acontecido no país anfitrião da Cúpula das Américas nos últimos dias deveria ser suficiente como para desconvidá-lo de sua própria festa até que consiga pôr sua casa em ordem e não representar a ameaça contra os princípios de direitos humanos, liberdade civis e a própria democracia.

“Em um período de 10 dias, 44 pessoas foram assassinadas em tiroteios massivos através do país – um carnaval de violência que confirmou, entre outras coisas, a covardia política de uma ampla parte da nossa liderança eleita, a delgada pretensão de nossa credibilidade moral e a farsa de expressões públicas de simpatia que se traduzem em uma nula mudança real em nossas leis, nossa cultura, ou nossas tendências assassinas”, resume de maneira concisa o articulista Jelani Cobb do The New Yorker.

Dezenove crianças – todas entre 9 e 10 anos de idade – e duas de suas professoras foram assassinadas na escola primária Robb em Uvalde, Texas. Dez dias antes, em um supermercado em Buffalo, Nova York, foram assassinadas 10 pessoas só porque eram afro-estadunidenses.

Nos dois casos, os assassinos eram jovens de 18 de anos de idade que haviam comprado seus rifles semiautomáticos de maneira legal. Seus casos não são extraordinários, nos tiroteios massivos mais sangrentos durante os últimos anos foram empregadas armas legalmente adquiridas. A lei protege as armas, não as crianças, denunciam ativistas. 

Mas são os tiroteios massivos em escolas onde se manifestam os extremos da loucura da violência armada neste país. E essa loucura inclui a proposta de vários líderes políticos diante destes massacres, de armar professores e recomendar coletes anti balas como uniforme escolar dos estudantes. 

País deveria focar pôr sua casa em ordem e não representar a ameaça contra os princípios de direitos humanos, liberdade civis e a própria democracia

White House
Anfitrião da Cúpula das América, os Estados Unidos vive epidemia de violência e tiroteios massivos

Rotina escolar

Neste país, mais de 311 mil estudantes foram expostos à violência com armas de fogo em suas escolas desde o massacre da preparatória Columbine High no Colorado em 1999, calcula o Washington Post.  Em 2021 houve mais incidentes de tiroteios em escolas – 42 – que em qualquer ano desde 1999, e no ano em curso já se registraram pelo menos 24. 

Mais de 150 tiroteios massivos foram registrados desde o início do ano nos EUA, diz The Washington Post

Os exercícios para ensaiar o que fazer no caso de uma pessoa armada ingressar a uma escola com a intenção de matar são realizados já de maneira rotineira em 95% das escolas públicas dos Estados Unidos, desde o jardim até a preparatória. As crianças desde os cinco anos estão conscientes de que em qualquer momento poderia haver um tiroteio em suas escolas. Um vídeo de March for Our Lives que viralizou oferece uma ideia desta realidade: 

Diante da paralisia obscena da classe política, às crianças e jovens, uma vez mais, se mobilizaram para expressar sua ira e exigir que os legisladores e outros políticos façam mais do que oferecer suas condolências e orações e visitas para consolá-los depois de cada tiroteio.

“Se eu morro em um tiroteio deixem meu corpo nas escalinatas do Congresso”, diz um cartaz de uma adolescente em uma manifestação na semana passada. 

Greves estudantis

Estudantes em mais de 200 escolas por todo o país realizaram greves em seus colégios, abandonando as classes e marchando durante essa última semana, denunciando a falta de ação concreta para impor maiores controles sobre as armas no país. Para o próximo 11 de junho March for Our Lives convocou uma mobilização nacional, na qual dizem que serão mais de 300 marchas por todo o país, incluindo a capital. 

É um país cuja cúpula política não pode responder com uma reforma de controle de armas ante outro massacre de crianças, nem pode garantir os direitos fundamentais das mulheres, os direitos civis, nem o elementar direito ao voto – tudo apesar de que as grandes maiorias estão a favor de tudo isso

É um país onde um dos fundadores de March for our Lives, David Hogg, sobrevivente do massacre em sua preparatória em Parkland, Florida, enviou uma mensagem na semana passada: “se estás considerando visitar os Estados Unidos – não o faça. Tu e teus filhos não estão seguros aqui”. 

Enquanto tiroteios massivos aumentam pelo país, EUA têm aderido a fuzilamentos na execução de penas de morte

Esse é o país anfitrião que afirma ser “líder” e “exemplo” para o hemisfério. 

Bônus Musical

Playing for Change | Gimme Shelter.  

David Brooks, correspondente de la Jornada em Nova York

Tradução Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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