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"Liberdade" vira arma da extrema-direita contra os direitos de mulheres e LGBTQ+ nos EUA

Ofensiva das forças direitistas vai além e atinge classe trabalhadora, imigrantes e eleitores
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Se há uma palavra que a cúpula e seus propagandistas dos Estados Unidos apropriaram quase como uma marca registrada é “liberdade”. Toda a história oficial do país gira em torno dessa palavra: a Estátua da Liberdade é símbolo universal estadunidense (embora tenha sido feita e presenteada pela França), as lojas de armas dizem que é isso o que estão vendendo, da mesma forma que as empresas de automóveis e os governantes fazem sermões ao país e ao mundo com esta palavra. Porém, é cada vez mais uma liberdade condicional e em alguns casos anulada. 

Neste domingo (25), em que foram festejadas as liberdades civis conquistadas pelas lutas da comunidade gay neste país – as quais estão apoiadas por 60% do país segundo pesquisas recentes – todos estavam conscientes de uma crescente ameaça às suas conquistas. E o sábado marcou o primeiro aniversário de quando a maioria direitista da Suprema Corte anulou o direito constitucional ao aborto e reverteu uma decisão de 50 anos que marcou uma das conquistas supremas do movimento de mulheres. Os direitos gay e das mulheres – junto com os dos imigrantes e das minorias – estão sob ataque ao redor do país por uma direita que está dedicada a reprimir a liberdade em nome de “salvar o país da liberdade”. 

28 de junho: No país que mais mata LGBTQIA+ no mundo, orgulho é viver

O arco-íris inundou a Quinta Avenida e o Greenwich Village com o grande desfile anual LGBTQ com dezenas de milhares de participantes e uns dois milhões de espectadores, o maior festejo dos que foram realizados por diversas cidades do país. O desfile marcou o protesto contra o ato de repressão da polícia em um bar gay, o Stonewall Inn, em Greenwich Village, em Nova York, em 1969 – evento que é considerado o estopim para o movimento dos direitos gay a nível nacional.  

Ofensiva das forças direitistas vai além e atinge classe trabalhadora, imigrantes e eleitores

Foto: Thomas Hawk/Flickr
Ataques de ódio contra a comunidade LGBTQ+ aumentam do país e incluem ameaças a bomba contra hospitais dedicados a essa população

Mas desta vez o festejo foi realizado sob a sombra cada vez mais ominosa dos ataques direitistas para reverter as liberdades e direitos desta comunidade em vários estados por todo o país. Em alguns lugares se conseguiu até proibir livros que abordam a história dessa luta, como outros temas gay em escolas públicas e bibliotecas. Em algumas entidades, esta contra ofensiva chega a níveis de histeria, atacando atos de drag queens. Alguns contendentes presidenciais, como o governador da Florida, Ron DeSantis, estão pondo sua oposição aos direitos gays no centro de sua campanha eleitoral. 

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Tudo isto tem nutrido uma onda de ataques de ódio contra as comunidades LGBTQ ao redor do país, incluindo centenas de incidentes incluindo ameaças a bomba contra hospitais que oferecem serviços à comunidade, tiroteios massivos, vandalismo, assaltos e outras formas de violência.

Enquanto isso, no primeiro aniversário da anulação do direito constitucional ao aborto, houve protestos convocados em várias partes do país. Desde a decisão, forças direitistas conseguiram que 14 estados aprovassem proibições totais ao aborto e em outro se impulsionaram leis para limitar o acesso a serviços de aborto; se espera que pelo menos 25 estados tentem promover proibições de algum tipo. Algumas das proibições são sem exceções, ainda em casos de violação sexual ou incesto, tudo parte da ofensiva direitista.

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Tudo isto é impulsionado pelas mesmas forças direitistas que agem contra as liberdades e direitos civis não só das mulheres, mas dos gays, dos trabalhadores, dos imigrantes e até dos eleitores.

Vale recordar que o país da liberdade é o que mais encarcera no mundo (talvez recentemente superado só pela China), com quase 2 milhões em prisões.

A liberdade sem condições só será lograda se todos os que enfrentam a anulação de seus direitos decidirem exercê-la de maneira conjunta e com isso democratizar seu país. Tem a liberdade para tentá-lo, ou não? 

Bônus Musical | Mavis Staples – No Time For Crying

Bônus Musical | Carsie Blanton – Rich People

David Brooks | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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