Pesquisar
Pesquisar

Não faz sentido comparar Nazismo e Comunismo, entenda por quê

O Comunismo luta contra uma classe opressora e pelo acesso igualitário a serviços, bens e conhecimento; o Nazismo vai na direção contrária
George Ricardo Guariento
Diálogos do Sul Global
Taboão da Serra

Tradução:

Você já deve ter se deparado com algum comentarista de extrema-direita comparando o Nazismo ao Comunismo, havendo quem chegue ao ponto de dizer que o segundo teria matado mais pessoas na história. Apesar de a analogia ter surgido em razão da atribuição de conceitos como totalitarismo, personalidade e ideologia a ambos os movimentos, eles tem mais diferenças do que semelhanças.

O Comunismo se caracteriza como uma ideologia, mas pode ser também uma corrente filosófica, um movimento político ou econômico. O objetivo desse sistema, como já se pode presumir, é estabelecer uma sociedade igualitária, sem divisão de classe, dinheiro e estado.

Já o Nazismo, tão relativizado pela extrema-direita, tem ideais claramente antissemitas, que nada mais é do que o ódio envolto do preconceito contra o povo judeu. É importante ressaltar que os nazistas não perseguiam, matavam e torturavam só judeus: durantes os anos do regime, foram perseguidos todos os que não eram considerados por eles uma “raça pura” ou “raça ariana”, como negros, homossexuais, pessoas com deficiência e os próprios comunistas. 

O objetivo final do Nazismo, criado e comandado por Adolf Hitler, era a construção de um mundo composto por apenas uma “única e verdadeira raça”, nas palavras do próprio líder nazista, que também considerava os arianos intelectualmente superiores e fisicamente imbatíveis em relação aos demais.

O Comunismo luta contra uma classe opressora e pelo acesso igualitário a serviços, bens e conhecimento; o Nazismo vai na direção contrária

Arte Diálogos do Sul
Analogia entre Nazismo e Comunismo é equivocada; movimentos têm mais diferenças do que semelhanças

Imaginem só a surpresa dos nazistas quando um de seus atletas perdeu a olimpíada para um homem negro

O corredor negro americano Jesse Owens participou dos Jogos de Berlim em 1936, berço da Alemanha Nazista, onde foi hostilizado pela torcida e ignorado por Adolf Hitler.

Neto de escravos, originário do Alabama e com apenas 23 anos, Owens foi a Berlim não para bater um, mas quatro recordes olímpicos: 100 e 200 metros rasos, revezamento de 400 metros e salto em distância. Nessa última modalidade, a vitória foi sobre o alemão Lutz Long.

O corredor olímpico Jesse Owens (Reprodução/Facebook)

No Brasil

Segundo reportagem do portal UOL, entre 1933 e 1945 existiu um partido nazista do Brasil, que teria operado de forma legal e disseminado ideias totalitárias e antissemitas através de jornais, eventos e até escolas. Leia a matéria completa Brasil teve maior partido nazista fora da Alemanha, apontam historiadores, do UOL, aqui.

O assunto veio à tona após mais uma declaração criminosa do podcaster Monark. Entenda o caso:

Quem é Monark e por que ele é perigoso para o debate democrático?

Nos últimos anos, tivemos uma enxurrada de manifestações e reprodução de discursos nazistas na mídia e pelo atual governo. Um dos secretários da cultura de Jair Bolsonaro, Roberto Alvim, chegou a reproduzir um discurso nazista em uma live, com música nazista de fundo, enquanto o assessor do governo, Filipe Martins, fazia o símbolo supremacista branco “white power” durante coletiva. 

O comentarista Adrilles Jorge, da Jovem Pan, depois de um discurso onde dizia que o Comunismo matou muito mais gente do que o Nazismo, encerrou o programa na emissora fazendo uma saudação nazista – que foi percebida pelo apresentador William Travesso. Adrilles negou o gesto e foi demitido no dia seguinte pela empresa. 

Quem derrotou o Nazismo foi o Comunismo

Segundo o historiador José Levino, para o site A Verdade, quando o nazismo se apossa da Alemanha, o que se esperava das grandes potências mundiais era combatê-lo. Mas não foi o que aconteceu. Pelo contrário, quase todas as potências, incluindo os Estados Unidos, se omitiram e em alguns casos até incentivaram o monstro nazista a direcionar seu ataque contra a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Em 1939, a URSS tentou estabelecer um pacto com França e Inglaterra para realizar ações militares em conjunto contra o bloco nazifascista composto por Alemanha, Itália e Japão. Não houve uma rejeição formal à proposta, mas tanto os franceses quanto os ingleses não deram nenhum passo em direção ao pacto. Tempos depois, França e Inglaterra firmaram acordos de não agressão com Alemanha e Japão.

Em junho de 1942, os nazistas avançam, mas encontram uma barreira intransponível em Stalingrado. Durante sete meses de combate, os invasores perderam 700 mil soldados e oficiais, mais de mil tanques, dois mil canhões e morteiros e 1.400 aviões. Os alemães eram tecnicamente superiores, mas, em novembro de 1942, os números já se invertiam a favor dos soviéticos. Os alemães estavam com 6,2 milhões de soldados, os soviéticos com 6,2 milhões; 5 mil tanques invasores contra 7 mil soviéticos; 51 mil peças e morteiros contra 77 mil russos.

Na derrota de Stalingrado, os nazistas perderam 1,5 milhão de soldados e oficiais. “Do ponto de vista moral, a catástrofe que o exército alemão sofreu nos acessos de Stalingrado teve um efeito sob o peso do qual ele não pôde mais se reerguer”, explica B. H. Liddell Hart na obra “A segunda guerra mundial”.

Depois, ocorreu a vitória do Cáucaso e se iniciou processo de expulsão em massa dos ocupantes nazistas. “A União Soviética pode orgulhar-se das suas heroicas vitórias”, escreveu o presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, acrescentando: “os russos matam mais soldados inimigos e destroem mais armamentos do que os outros 25 estados das Nações Unidas no conjunto”.

O final de 1943 marca a virada na frente soviética e na Segunda Guerra em geral. O movimento contra o nazifascismo se consolidou e se ampliou em todo o planeta.

Em junho de 1944, com o exército alemão batido em todas as regiões da URSS, as tropas anglo-americanas desembarcaram no Norte da França, dando início à frente ocidental proposta pelo governo soviético desde o início da invasão.

Veja matéria completa Exército Vermelho salvou humanidade do nazismo, do portal A Verdade, aqui.

Não há comparação

Como via de regra, o Comunismo é um regime que luta contra uma “classe opressora” para que todos tenham acesso a serviços, conhecimento e bens de maneira igualitária, tudo gerido pelo estado, o Regime Comunista. O Nazismo vai na direção contrária, pregando não só a preservação de uma elite, mas sua criação a partir do extermínio e escravização de todas as outras camadas que não se encaixem em seu manual sádico.  

Por isso, nem de longe é correto comparar as duas coisas. Quem faz isso é mal-intencionado ou mal informado e, se você chegou até essa parte do texto, garanto que já não pode ser os dois.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na TV Diálogos do Sul


Se você chegou até aqui é porque valoriza o conteúdo jornalístico e de qualidade.

A Diálogos do Sul é herdeira virtual da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Como defensores deste legado, todos os nossos conteúdos se pautam pela mesma ética e qualidade de produção jornalística.

Você pode apoiar a revista Diálogos do Sul de diversas formas. Veja como:

  • PIX CNPJ: 58.726.829/0001-56 

  • Cartão de crédito no Catarse: acesse aqui
  • Boletoacesse aqui
  • Assinatura pelo Paypalacesse aqui
  • Transferência bancária
    Nova Sociedade
    Banco Itaú
    Agência – 0713
    Conta Corrente – 24192-5
    CNPJ: 58726829/0001-56

       Por favor, enviar o comprovante para o e-mail: assinaturas@websul.org.br 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

George Ricardo Guariento Graduado em jornalismo com especialização em locução radiofônica e experiência na gestão de redes sociais para a revista Diálogos do Sul. Apresentador do Podcast Conexão Geek, apaixonado por contar histórias e conectar com o público através do mundo da cultura pop e tecnologia.

LEIA tAMBÉM

Repressão transnacional dos EUA contra o jornalismo não pode virar regra, aponta Assange
Repressão dos EUA contra jornalismo global não pode virar regra, aponta Assange
Estupro foi “arma de guerra” pró EUA e Israel para exterminar maias na Guatemala (3)
Estupro foi “arma de guerra” pró EUA e Israel para exterminar maias na Guatemala
Educação na mira estudantes, professores e escolas sofrem 6 mil ataques em 2 anos no mundo
Educação na mira: estudantes, professores e escolas sofrem 6 mil ataques em 2 anos no mundo
eighty-four-haitian-migrants-on-a-42-foot-vessel-65629e-1024
Frei Betto | FMI, emergência climática e o cerco aos refugiados na Europa e nos EUA