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Netanyahu, Himmler e a reprodução dos métodos do nazifascismo no século 21

Situação em Gaza e na Cisjordânia de hoje enquadra-se perfeitamente no diagnóstico de H. Arendt sobre os responsáveis pelo holocausto do povo judeu
Carlos Russo Jr
Diálogos do Sul Global
Florianópolis (SC)

Tradução:

Disse o filósofo Paulo Arantes numa recente entrevista (03/2023): “… O bolsonarismo é uma parte relevante, de maior interesse de estudo, não só nosso, mas no exterior, de um surto de extrema direita inédito em relação, inclusive, ao fascismo histórico, e que aparece em vários lugares ao mesmo tempo”.

“Poderíamos falar, por exemplo, em israelização do mundo, que é o que está acontecendo. Se, nesse momento, eu disser onde é que está a extrema direita no poder prestes a dar um salto mortal no escuro, é Israel”.

EUA e Israel brincam com fogo e podem levar mundo ao colapso

Uma autora chamada Eva Illouz, uma judia francesa nascida no Marrocos, tem um artigo dizendo: “Olha, esse paisinho pequenininho lá perdido no Oriente Médio, que é apenas uma espécie de cabeça de lança militar americana, como costuma ser carimbado, ele é isso, mas é muito mais. Ele é o laboratório do que vem por aí, que é justamente um governo de extrema-direita”.

“Isso ela escreveu anos antes do Bibi, do Netanyahu, se embrenhar nessa desmontagem do Poder Judiciário. Vocês podem se ver nesse espelho israelense, porque é justamente uma extrema direita apoiada por uma classe social relegada, que são os imigrantes judeus que vieram do norte da África e do Oriente Médio. Não é uma extrema direita ditatorial que se impõem pelo poder das armas, é uma direita popular”.( P. Arantes)

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Pois aquele enclave no mundo árabe, Israel, reproduz os métodos do nazifascismo, que nos anos 30/40 do século passado levaram ao holocausto o povo judeu.


Quando as pessoas comuns se transformam em engrenagem da máquina de massacre

O gênio organizador do genocídio de judeus no século 20 tinha um nome: Henrich Himmler (Arendt).

E vamos a Hannah Arendt* e o que nos diz a respeito: “Ele não é nenhum boêmio, como Goebbels; nem um criminoso sexual, como Streicher; nenhum fanático e pervertido como Hitler. Menos ainda um aventureiro como Goering. Himmler é um ‘burguês’ com todas as aparências de respeitabilidade, os hábitos de um bom pai de família fiel à sua mulher, e preocupado com o futuro dos seus filhos”.

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Situação em Gaza e na Cisjordânia de hoje enquadra-se perfeitamente no diagnóstico de H. Arendt sobre os responsáveis pelo holocausto do povo judeu

Foto: Stephen Melkisethian/Flickr
Tal qual Netanyahu, Himmler agia sob um pressuposto: “A única condição que punha era que o aliviassem da responsabilidade por seus atos”

Pois bem: “Himmler foi quem construiu a última organização de terror, cuja rede cobre o país inteiro, baseando-se no pressuposto consciente de que a maior parte das pessoas não são nem boêmios, nem fanáticos, nem aventureiros, nem criminosos sexuais ou sádicos, mas acima de tudo bem empregados e bons pais de família. Justamente POR ISTO, foi o maior criminoso do século”.

Cannabrava | Genocídio em Gaza

“O gênio satânico de Himmler estabeleceu-se de tal modo que o mesmo homem, esse alemão médio que os nazistas não conseguiram levar a matar por sua própria iniciativa um judeu que fosse, apesar de sua propaganda delirante mantidas durante anos, e nem sequer quando se tornou evidente que tal assassinato não teria qualquer consequência judicial, esse mesmo homem, hoje, trabalha sem dificuldade a serviço da máquina de extermínio. Ao contrário do que passava com as primeiras unidades da Gestapo e das SS, a organização geral edificada por Himmler não se apoia nem em fanáticos, nem criminosos inatos, nem sádicos, mas sim na normalidade das pessoas que trabalham e têm uma família”. 

“Quando sua profissão o força a matar, não se considera um assassino, porque o seu ato não resulta de uma tendência pessoal, mas de uma aptidão profissional. Movido pela paixão, talvez não faria mal uma mosca”.

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Tal qual Netanyahu, Himmler agia sob um pressuposto: “A única condição que punha era que o aliviassem da responsabilidade por seus atos”.

A situação na faixa de Gaza e na Cisjordânia de hoje, enquadra-se perfeitamente no diagnóstico de H. Arendt, ao analisar os responsáveis pelo holocausto do povo judeu (anos 1936/1945):

“O resultado é que recuam cada vez mais perante a ideia de humanidade e se tornam cada vez mais receptivos as doutrinas raciais que vão ao ponto de rejeitar a ideia da possibilidade de uma humanidade comum.”

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E conclui analisando a ideia de humanidade:

“Do ponto de vista político, a ideia de humanidade – uma humanidade que não exclui de si nem um povo e a nenhum atribui o monopólio da falta- é a única garantia que podemos ter a fim de evitar que as “raças superiores” alternativamente se sintam obrigadas a exterminar as “raças inferiores” e indignas de sobreviverem, não passa de um processo tal que, no termo da era imperialista, os nazis figurariam como grosseiros percursores de métodos políticos posteriores. ”(Arendt)

“Desenvolver uma política que não seja imperialista e conservar opiniões que não sejam realistas, torna-se de dia para dia mais difícil, porque de dia para dia fica mais claro que a humanidade é para o homem um fardo pesado”. “Seis milhões de judeus, seis milhões de seres humanos, foram arrastados para a morte sem terem a possibilidade de se defender, e mais ainda, na maior parte dos casos, sem suspeitarem do que eles lhes estava a acontecer. ” (Arendt)

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O método utilizado foi a intensificação do terror! Houve, no princípio, a necessidade calculada, as privações e a humilhação!

Morriam não na qualidade de indivíduos. Morriam como gado. E como gado morrerão os palestinos, como declarou há alguns dias, o chefe dos exércitos israelenses.

“As mentiras da propaganda totalitária se distinguem das mentiras comuns utilizadas pelos regimes não totalitários em tempo de crise, pela sua negação sistemática da importância dos fatos em geral: todos os fatos podem ser modificados e todas as mentiras podem ser transformadas em verdade”.

Da mesma forma o genocídio em que opera o Estado de Israel, atacando e destruindo escolas, hospitais, ambulância, esmagando pela fome, sede e balas à população civil. E para tal conta com todo apoio de direita mundial, USA à testa!


A guerra de hoje entre Israel e Hamas

A ação terrorista do Hamas é injustificável sob qualquer ponto de vista. Foi de uma perversidade inaudita. No entanto, pairam as seguintes questões a serem esclarecidas, talvez apenas pela história:

  1. O melhor, mais bem pago e aparelhado com a mais alta tecnologia serviço de inteligência do mundo teria falhado ao não prever os ataques do Hamas?
  2. O governo de Israel fora alertado pelos egípcios que algo muito sério aconteceria. E afrouxou todas as medidas de segurança na faixa de Gaza quinze dias antes dos terríveis eventos de 7/10.
  3. A cerca do gueto de Gaza, que custou U$ 400 milhões, foi demolida com a maior facilidade pelo Hamas, em mais de 10 posições, sem reação alguma imediata de Israel.
  4. Talvez algum dia se investigue alguma infiltração do serviço secreto israelense dentro do próprio Hamas. E por que não? Seria a volta da histórica “quinta coluna”, tão utilizada pelos nazistas no século passado.
  5. Netanyahu estava acuado dentro de Israel. Somente um massacre promovido pelo Hamas poderia salvá-lo, levando o povo judeu a se unir em torno da extrema-direita.

E, finalmente, a invasão de Gaza e a expulsão e massacre do povo palestino faz parte do expansionismo israelense, como já ocorreu na Cisjordânia e que se reproduz há 56 anos.

E a ONU precipita-se para ter o mesmo destino de “A Liga das Nações”, que morreu junto com a Segunda Guerra Mundial.


Referência

* Ensaios de H. Arendt: Perspectivas sobre a “Questão Alemã”. Culpabilidade organizada e responsabilidade universal.

Carlos Russo Jr. | Colunista na Diálogos do Sul


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Carlos Russo Jr Carlos Russo Jr., coordenador e editor do Espaço Literário Marcel Proust, é ensaísta e escritor. Pertence à geração de 1968, quando cursou pela primeira vez a Universidade de São Paulo. Mestre em Humanidades, com Monografia sobre “Helenismo e Religiosidade Grega”, foi discípulo de Jean-Pierre Vernant.

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