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No 1º ano de governo, Petro reconstrói papel do Estado no bem-estar do povo colombiano

Primeiro presidente progressista na história do país deu voz a setores excluídos e frustrou previsões pessimistas sobre a economia colombiana
Jorge Enrique Botero
La Jornada
Bogotá

Tradução:

O “primeiro governo popular na história da Colômbia”, como gosta de definir o presidente Gustavo Petro, cumpriu um ano em meio a ferozes críticas e cerrados aplausos, elogios e diatribes, algo de melodrama e muitos desafios de cara ao futuro. 

A Petro lhe resta três anos para lograr que seu mandato deixe marca no país meio capitalista e meio feudal que recebeu em 7 de agosto de 2022, dia que encheu de simbolismo revolucionário o protocolo que costuma acompanhar a chegada dos presidentes à Casa de Nariño.

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Há um ano, ordenou ante uma multidão emocionada que a espada de Simón Bolívar presidisse sua posse e depois pediu a María José Pizarro, filha do imolado líder da guerrilha do M-19, Carlos Pizarro, que o investisse com a faixa presidencial.

Com esta mensagem inequívoca de que um ex-guerrilheiro havia chegado à presidência, Petro deu início a um período que tem navegado entre turbulências em cada um destes 365 dias, enfrentando as elites políticas e econômicas decididas a impedir que seu programa de transformações sociais progrida. 

Primeiro presidente progressista na história do país deu voz a setores excluídos e frustrou previsões pessimistas sobre a economia colombiana

Reprodução/Facebook
Petro articulou um giro radical na política internacional do país, considerado por séculos como “principal aliado dos EUA na região"

É a economia…

A maioria de analistas locais concorda que a ênfase da agenda deste primeiro ano foi econômica, primeiro com a aprovação no Congresso de uma ambiciosa reforma tributária que pôs a pagar mais impostos aos grandes capitais e depois com a colocação em marcha de um plano de desenvolvimento de quatro anos, cujo acento principal é o aumento de investimentos estatais em educação, saúde, moradia social e reforma agrária. Um dos eixos do plano é o impulso à “economia popular”, estratégia que busca pôr ingentes recursos ao alcance de pequenos e médios empresários historicamente excluídos do acesso ao crédito.

Sem ocultar seu assombro, os profetas do apocalipse que vaticinavam um debacle econômico tiveram que reconhecer que as principais variáveis da economia colombiana mantiveram bom comportamento, em especial a inflação – que ronda os 12% – e o desemprego, que logrou voltar a um dígito, situando-se em 9% segundo cifras oficiais recentes.

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Tampouco se tem produzido a prognosticada debandada do investimento estrangeiro nem um colapso cambiário. O dólar, que em algum momento disparou, chegando à temida cifra dos cinco mil pesos, voltou a cotizar-se a quatro mil pesos.

Apagar o incêndio

Petro recebeu um país incendiado, imerso em um tenebroso ciclo de violência derivado da falta de vontade dos governos de Juan Manuel Santos e Iván Duque, para executar o acordo de paz firmado em 2016 com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).

“Depois de conseguir que as Farc entregassem até sua última pistola, Santos se dedicou a fazer lobby para obter o prêmio Nobel e se desentendeu da implementação do acordo de paz, o que gerou novas expressões de violência”, disse ao La Jornada o analista político Horacio Duque.

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O especialista agregou que durante o governo de Iván Duque a implementação do acordo de paz entrou no congelador, o que fez que crescessem exponencialmente novas forças guerrilheiras, se fortalecesse o Exército de Libertação Nacional (ELN) e surgissem por todo canto grupos armados vinculados ao narcotráfico e à mineração ilegal. 

Petro advertiu que para executar a agenda de mudanças sociais se fazia indispensável fechar de uma vez e para sempre os círculos sem fim de violência, e pôs em marcha uma estratégia denominada “paz total”.

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Designou para esta missão Danilo Rueda, um conhecido defensor dos direitos humanos que passou meia vida nas regiões e territórios afetados pela guerra, o qual se vê pouco pelos frios corredores da Casa de Nariño. 

“Ainda nos falta chegar a alguns lugares da Costa Pacífica, assim como a regiões fronteiriças com o Brasil e o Panamá, mas já fizemos presença em todas as demais regiões onde as comunidades são mais afetadas pela violência”, contestou Rueda quando o La Jornada lhe perguntou quantos quilômetros havia andado atrás da paz nestes doze meses. 

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Em seu balanço deste primeiro ano, o comissionado de paz pôde exibir uma consolidada mesa de diálogos com o ELN, a guerrilha que acaba de pactuar um cessar fogo de seis meses com o governo, assim como o iminente começo de conversações formais de paz com uma das dissidências da FARC ainda me armas, denominada Estado Maior Central (EMC). Segundo informes militares, esta força insurgente opera em quinze departamentos onde se enfrentam à força pública, mas também a outro grupo das dissidências da FARC, a denominada Segunda Marquetalia, comandada por Iván Márquez.

Segundo Rueda, com essa guerrilha não se pode iniciar diálogos por obstáculos legais já que seus principais líderes são assinantes do acordo de paz de 2016.

Giro radical em política exterior

Depois de Iván Duque investir quatro anos tratando de tirar o presidente Nicolás Maduro do Palácio de Miraflores, a primeira decisão em política exterior tomada por Petro foi retomar as relações diplomáticas e comerciais com a Venezuela, pois a Colômbia compartilhava 2.200 quilômetros de fronteira.

Este foi o primeiro passo de um giro radical na política internacional de um país acostumado durante séculos a ser considerado “o principal aliado dos Estados Unidos na região”. Sem confrontar Washington, onde esteve em visita oficial convidado pelo presidente Joe Biden, Petro introduziu novos temas na agenda internacional da Colômbia, fazendo ênfase nos assuntos ambientais e na urgência de uma transição energética que impeça o colapso do planeta. 

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Reativou a membresia do país ao Mercosul e assumiu uma liderança regional junto ao Brasil para deter a destruição da Amazônia, ao mesmo tempo em que convidava, nas Nações Unidas, a pôr fim à chamada “guerra contra as drogas”, com um novo enfoque que não descarta a despenalização do comércio e uso das substâncias que hoje estão proibidas.

Acordo sem eco

Apesar de seus reiterados apelos para alcançar um grande acordo nacional. Petro viu desmoronar as precárias alianças que construiu nas primeiras semanas de seu mandato, o que tem dificultado o trâmite de sua reforma no legislativo. A reforma do sistema de saúde, atualmente em mãos de empresários que ganham fabulosas somas atuando de intermediários nos hospitais, fez um pequeno trâmite no Congresso, onde foi perdendo sua essência. Também caminha entre tropeços uma reforma previdenciária que tenta garantir uma velhice menos penosa para milhões de homens e mulheres que trabalham na economia informal. 

“Não estou obsessivo em passar reformas. Prefiro mudar a relação entre o executivo e o legislativo que atualmente está baseada em que o governo premie os congressistas que o apoiam transferindo dinheiro público a particulares, o que sempre termina em corrupção”, disse Petro em uma recente entrevista, assegurando que “o povo de toda maneira vai exigir as reformas que o Congresso não aprovar”. 

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O que realmente preocupa o presidente, segundo disse ao La Jornada um dos parlamentares do Pacto Histórico que assistiu recentemente uma reunião de emergência com Petro, é que as forças que o levaram à Casa de Nariño estejam desarticuladas. 

“O presidente não economizou ironias para insinuar que a bancada parlamentar do Pacto Histórico está se comportando de maneira demasiado parecida aos partidos tradicionais”, comentou a fonte.

Busca-se libretista

O primeiro ano de Petro na presidência chegou acompanhada de um escândalo midiático derivado da detenção de seu filho mais velho, Nicolás, que declarou na semana passado diante da Promotoria-Geral que uma parte do dinheiro de origem ilícita que ele e sua ex-esposa arrecadavam e roubavam usando o nome do seu pai, chegou às arcas da campanha eleitoral “Petro Presidente”.

O episódio, de tintura novelesca, inclui uma mulher que, depois de comprar mansões e carros luxuosos com dinheiro vivo, descobre que seu marido o engana com sua melhor amiga e decide desafogar seu despeito na redação de uma revista abertamente hostil ao presidente.

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Agregue-se à trama que o filho tenta afundar seu pai sob o argumento de que “toda a minha vida me senti abandonado” e que o pai só atinou a dizer “eu não o criei”, quando descobriu suas andanças. 

Petro disse que nada nem ninguém o deterão em seu empenho reformista, mesmo que tenha que transitar nos próximos anos à sombra de um fato com toques de tragédia grega que já deve estar na mesa de vários libretistas. 

Jorge Enrique Botero | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jorge Enrique Botero Jornalista, escritor, documentarista e correspondente do La Jornada na Colômbia, trabalha há 40 anos em mídia escrita, rádio e televisão. Também foi repórter da Prensa Latina e fundador do Canal Telesur, em 2005. Publicou cinco livros: “Espérame en el cielo, capitán”, “Últimas Noticias de la Guerra”, “Hostage Nation”, “La vida no es fácil, papi” y “Simón Trinidad, el hombre de hierro”. Obteve, entre outros, os prêmios Rei da Espanha (1997); Nuevo Periodismo-Cemex (2003) e Melhor Livro Colombiano, concedido pela fundação Libros y Letras (2005).

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