De repente, o movimento trabalhista estadunidense explode com nova vida ao redor do país, gerando esperança de que, depois de uma longa noite de mais de quatro décadas de neoliberalismo, há um novo amanhecer de solidariedade e luta de trabalhadores, algo para finalmente celebrar no Dia do Trabalho, ocorrido na segunda-feira (5) – aqui não se festeja o 1º de Maio, apesar de ter nascido em Chicago para dar a volta ao mundo.
A primeira coisa que fizeram Reagan e Thatcher para inaugurar seus regimes neoliberais foi declarar a guerra contra os sindicatos, dando luz verde aos patrões para reprimi-los ou destruí-los.
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Nos anos 50, um em cada três trabalhadores estadunidenses estavam sindicalizados; hoje são um de cada dez e, no setor privado, a taxa de sindicalização é de só 6,1% – em grande medida resultado da ofensiva neoliberal e do desmantelamento dos limitados direitos trabalhistas neste país.
Com a redução do poder dos sindicatos, o nível de desigualdade econômica disparou ao seu nível mais alto em quase um século, fato essencial para explicar a crise política e social estadunidense. Hoje em dia, 3 multimilionários têm mais riqueza que a metade da população, 160 milhões, e os salários reais estão iguais ou abaixo do nível registrado há meio século.
Porém, nos últimos meses, há sinais de nova vida para o movimento trabalhista, muito deles impulsionados por jovens. Trabalhadores em várias das empresas mais conhecidas, e mais antissindicais, têm se organizado e se agremiado pela primeira vez.
São mais de 225 lojas da Starbucks, com um total de 6 mil trabalhadores, que formaram sindicatos desde que a primeira loja em Buffalo o fez em dezembro de 2021. O primeiro mega armazém da Amazon, com mais de 8 mil empregados, ganhou uma eleição para formar o primeiro sindicato dentro do império do homem mais rico do mundo, Jeff Bezos.
Foram alcançados também triunfos em eleições por um sindicato em partes da Apple, em algumas cadeias de supermercados, trabalhadores técnicos no New York Times, enfermeiras, trabalhadores de museus, estudantes de pós graduação em universidades, e até entre trabalhadores na nova indústria de cannabis legal.
No que vai do ano, se registraram 256 greves e outras ações trabalhistas, um incremento de mais de 76% comparado com o ano anterior
O número de locais de emprego que solicitaram realizar eleições para obter um sindicato ante a Junta Nacional de Relações Trabalhistas incrementou-se 58% nos primeiros 9 meses deste ano fiscal, comparado com o mesmo período do ano passado.
Em 2022, os sindicatos ganharam 641 eleições, o número mais alto em 20 anos, segundo reporta a Bloomberg Law, representando mais de 43 mil trabalhadores, o dobro do ano passado.
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E também se registra um incremento de ações trabalhistas, como greves e mobilizações, desde mineiros a milhares de professores, enfermeiras e em lojas de comida rápida. No que vai do ano, se registraram 256 greves e outras ações trabalhistas, um incremento de mais de 76% comparado com o ano anterior.
Vale assinalar que, sob as leis trabalhistas muito limitadas dos Estados Unidos, formar um sindicato não garante a negociação de um contrato coletivo. De fato, a maioria dos novos sindicatos não consegue negociar um contrato durante seu primeiro ano e, ante a nova militância, as empresas estão despedindo organizadores, intimidando seus empregados e até fechando locais que se atreveram a se sindicalizar.
No entanto, há outro fator novo que ajudará a responder as ofensivas antissindicais da cúpula empresarial e de grande parte da política: o apoio do público em geral. Na semana passado, uma enquete da Gallup registrou que um surpreendente 71% dos estadunidenses aprovam/simpatizam com sindicatos – o nível mais alto desde 1965.
Não se sabe se tudo isto se sustentará, e com isso proclamar um renascimento trabalhista, mas por ora se escuta ao longo do país essa antiga demanda de pão para todos, mas rosas também.
Bônus musical 1 | Paul Robeson – Joe Hill
Bônus musical 2 | Dropkick Murphys – Workers Song
David Brooks, correspondente do La Jornada em Nova York.
Tradução: Beatriz Cannabrava.
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