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ToggleA semana passada, no Peru, esteve marcada pelas homenagens que distintas instituições e organizações renderam a José Carlos Mariátegui, ao cumprir-se 130 anos de seu nascimento, ocorrido em 14 de julho de 1894 na cidade de Moquegua. Recordar as mais ilustres figuras do passado é uma necessidade para todos, sobretudo quando é quase comum reconhecer que o Amauta foi o mais destacado pensador peruano do século 20. A isto há que agregar que não foi só “um pensador”.
Também foi uma descolada figura do processo peruano; escritor, ensaísta, investigador social, político, ativista revolucionário e jornalista. Isto é, um homem múltiplo que teve elevados ideais, e que comprometeu sua vida e sua obra mimetizando-as com os interesses nacionais.
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A Casa Museu, e os amigos de Mariátegui, desempenharam uma vez mais o papel principal na organização e desenvolvimento de diversos eventos, nos quais especialistas, estudiosos, intelectuais, artistas e personalidades do Peru de hoje expuseram elementos evidentes destinados a ressaltar a vigência plena do pensamento e da ação do autor de “defesa do marxismo”.
Como em outras circunstâncias, somaram-se às homenagens, e organizaram as suas, os partidos de esquerda, as entidades de cultura, as instituições sociais e as universidades. Incluso alguns municípios se sentiram no dever de fazer-se sentir na tarefa elaborada pelo próprio Mariátegui: semear e difundir ideias e sentimento de classe.
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E isso, que é importante sempre, resulta hoje mais urgente do que nunca. O país atravessa uma duríssima etapa de crise, talvez a pior nos últimos 100 anos e que se caracteriza pela perda de valores vitais. A máfia peruana no poder envileceu a vida nacional levando a corrupção a extremos nunca registrados. As instituições do Estado e os poderes públicos parecem convertidos em fontes de corrupção inesgotáveis, administrados por elementos sem classe e pervertidos.
Tudo se pode considerar ao acionar de um írrito “poder executivo” que caiu no virtual desprezo cidadão, e cuja tarefa se limita a referendar os desaguisados que dispõem um bando de salteadores instalados no Congresso da República; quando não contribuem com sua própria insanidade.
Dina Boluarte, cegada pelo anticomunismo
Sob o pretexto de “representar ao Peru”, Dina Boluarte obteve a aprovação do “Congresso” para viajar à República Popular da China. Certamente o fará com medo, porque ficou sabendo que nesse país fuzilam os corruptos sem importar a nacionalidade. E quando retornar – se retornar – o que fará será apenas nos contar contos chineses, sem reconhecer os imensos logros desse país irmão no qual os comunistas no poder há 75 anos constroem uma sociedade mais justa, e converteram a China feudal de 1949 na primeira potência mundial em diversos aspectos.
A precária inquilina do palácio poderá apreciar isso? Seguramente não, cegada como está pelo anticomunismo mais precário e fora de modo que encarnam seus protetores e sócios, que a mantêm no poder contra a vontade cidadã. E essa Câmara que a despreza, e essa “imprensa lixo” que se burla de seus atos falidos e de suas loucuras, bate palmas por ela simplesmente porque precisa dela e lhe dá pretexto para depreciar Pedro Castillo e ao tal projeto que eles derrubaram em 7 de dezembro de 2022, para depois falar cinicamente em um “golpe de Estado” do mandatário deposto.
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Para enfrentar todos eles, é indispensável recuperar a firmeza, a orientação de classe, a organização cidadã e a capacidade de confrontação que nos fizeram enfrentar e derrotar vergonhosas ditaduras do passado, e que nosso povo recolherá do legado do Amauta. Em junho, recordemos, é um mês propício.
Em 1950, a insurreição popular de Arequipa; em 1969, a Reforma Agrária com Velasco Alvarado; em 1986, a matança dos penais sob a gestão de Alan García; e em 2021, a terceira derrota de Keiko Fujimori e a vitória de Pedro Castillo.
Trajetória socialista de Mariátegui
José Carlos Mariátegui, como se recorda, desde janeiro de 1918 se orientou resolutamente para o socialismo. Em 1919, saudou a luta operária pela jornada de 8 horas, e viu fechado seu diário “La Razón”. Teve que sair do país em outubro deste ano, forçado pela ditadura de Leguía. Participou, em 1921, no congresso constitutivo do Partido Comunista Italiano. Formou, com Palmiro Maquiavelo, Carlos Roe e César Falcón, a primeira célula comunista peruana na Itália. E depois voltou aqui em 1923 para cumprir tarefas essenciais.
Desse modo, o Amauta dissertou nas universidades populares González Prada, dirigiu a revista “Claridad”, escreveu livros de primeiro nível como “La escena contemporánea” e os “7 ensayos…” deixando preparados outros como “La historia de la crisis mundial” e “Defensa del Marxismo”. Publicou a revista “Amauta”; fundou o Partido Socialista com uma ideologia marxista-leninista; criou a imprensa operária, “Labor”; e deu luz à Confederação Geral de Trabalhadores do Peru, a CGTP.
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Porém, Mariátegui não fez só obra política: foi um homem de cultura, um criador pleno e um humanista cabal. Por isso compreendeu a essência do Peru, suas raízes e o seu desenvolvimento, de tal modo que pôde desenhar os lineamentos futuros da pátria.
Por tudo isso, por seu ideal e sua mensagem, por sua vida e sua obra, o Amauta é hoje mais urgente do que nunca.