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O projeto de Nação de João Goulart

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

O projeto de Nação do governo de João Goulart e o modelo estadunidense que herdamos.

Verônica Fialho Goulart*

No lugar dessa sociedade rica em cultura, rica em uma política desenvolvimentista e nacionalista, de valores solidários, de respeito pela liberdade e pela democracia, recebemos o American way of life,
No lugar dessa sociedade rica em cultura, rica em uma política desenvolvimentista e nacionalista, de valores solidários, de respeito pela liberdade e pela democracia, recebemos o American way of life,

É verdade que pouco sei, na prática, sobre aquele período pré- golpe de 64 por ter nascido em 66 e, portanto, não ter vivido com intensidade a década de 60. O que sei sobre esse período é o que li tardiamente nos livros.

De certa forma a ignorância me protegeu, hoje o conhecimento de não ter crescido e vivido naquele país que o Governo João Goulart idealizou como um projeto de Nação, me entristece e me revolta.

O Golpe de 64, destrói não apenas a nossa democracia, não apenas a nossa Constituição. Destrói o país e a sociedade que se desenvolvia dentro de um projeto humanista, desenvolvimentista, plural, nacionalista e único no mundo. Seríamos Senhores da nossa história e Donos do nosso destino.

Imperdoável desejo emancipatório tupiniquim , pensaram os americanos, grandes Senhores do mundo , do planeta e de tudo que nele habita e , então capitanearam uma sórdida campanha que culminou na deposição de um Presidente eleito pelo povo com grande aprovação popular, levaram a derrocada aquele Brasil que Jango começava a construir ao lado de Celso Furtado, Evandro Lins e Silva, Paulo Freire, Anísio Teixeira, Armando Monteiro Filho, Darcy Ribeiro, Santiago Dantas, entre outros, taxados pela imprensa, como os “incapazes” de Jango.

No lugar dessa sociedade rica em cultura, rica em uma política desenvolvimentista e nacionalista, de valores solidários, de respeito pela liberdade e pela democracia, recebemos o American way of life, (‘estilo americano de vida’).

O Golpe de 64, destrói não apenas a nossa democracia, não apenas a nossa Constituição. Destrói o país e a sociedade que se desenvolvia dentro de um projeto humanista, desenvolvimentista, plural, nacionalista e único no mundo
O Golpe de 64, destrói não apenas a nossa democracia, não apenas a nossa Constituição. Destrói o país e a sociedade que se desenvolvia dentro de um projeto humanista, desenvolvimentista, plural, nacionalista e único no mundo

Aquela juventude, que debatia política nas ruas, nas praças, nos bares, nas praias em um perfeito reflexo do ambiente democrático vivido diariamente, foi alienada pelos enlatados americanos, nossa música, no auge da bossa nova, trocada pelas baladas em inglês cantadas por uma população acima de 15 anos de cerca de 16 milhões de analfabetos que, sequer , entendiam o significado das letras de outro idioma. Mas para que entender? Não entender era o plano, o projeto de idiotização de uma geração inteira, da qual, essa sim, fiz parte e fui vítima.

O cinema novo brasileiro deu vez aos blockbusters americanos de tiro, porrada e bomba. Porém, mais assustador do que a perda da nossa nacionalidade, o golpe e a derrocada do governo legítimo de Jango nos traz um modelo americano de sociedade onde o acúmulo da riqueza é sinônimo de ser bem-sucedido, onde as pessoas desejam em suas mensagens de fim de ano, sucesso no lugar de paz, saúde e amor. Onde, segundo os biógrafos do atual Presidente Trump, ele mesmo foi educado pelos pais, separando os ganhadores (winners), dos trouxas, dos perdedores (losers.)

Ganhar dinheiro é imprescindível, essencial, não importando em que circunstâncias, nem que para isto eu prejudique meu vizinho, eu passe a perna no meu irmão ou eu venda a minha mãe e não entregue. Essa é a ordem, a receita de ser um vencedor, e para isso, sofisticados sistemas de controle e de fomento são criados que estimulem a competição exacerbada com um único objetivo, o lucro, mesmo que para obtê-lo eu torça pelo fracasso do meu compatriota ou eu alcaguete o meu companheiro de trabalho. Nesse modelo, a solidariedade e o humanismo não têm vez.

Importante destacar que acredito no empresariado brasileiro, não concordo com o velho discurso de “eles e nós”, onde o empresário é o “bicho-papão” e o trabalhador o “coitadinho”. Tenho um pai empresário, aposentado pela Petrobrás, nacionalista e desenvolvimentista que ao tomar a decisão de abrir uma empresa, após aposentar-se, desestimulado por alguns, dizia: – Nós, que tivemos mais oportunidades, temos obrigação de criar empregos para os que não tiveram as mesmas. Seu estímulo era o trabalho, gerar empregos e ajudar o país a crescer em primeiro lugar, o dinheiro viria como consequência e o bônus desse trabalho compartilhado para todos, por meio dos impostos, pela geração de renda e distribuição de oportunidades.

Triste pensar que ainda hoje, muitas vezes, a análise de um país rico, não é aquele em que seu povo viva as garantias constitucionais básicas como saúde, educação, cultura, moradia e trabalho e sim o que tem o maior PIB per capita. Nos inspiremos então em muitos países árabes, campeões de PIB per capita e também campeões em desigualdades entre seus irmãos?

O que quero propor é que nos questionemos quanto à sociedade que queremos construir e quanto à sociedade que estamos construindo.

Em Educação trabalhamos conceitos como: Conhecimento (Saber), Habilidades (Saber Fazer), Atitudes (Querer Fazer) e VALORES.

Valor é tudo aquilo que um ser HUMANO carrega em si, fruto do seu meio, da sua educação, do exemplo dos seus pais e do seu país!

Que país queremos como exemplo para os nossos filhos?

Que país estamos criando e deixando para as novas gerações?

*Verônica Fialho Goulart é educadora e Secretaria Geral do IPG, Instituto Presidente João Goulart


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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