O decano da Faculdade de Ciências Econômicas e Sociais da Academia Russa de Economia e Serviço Público, Aleksandr Chichin, comentou ao serviço russo da Rádio Sputnik os cem primeiros dias de governo de Bolsonaro no que se refere às mudanças na política externa.
Para Chichin, a política de Bolsonaro é “absolutamente pró-americana”. Respondendo à pergunta se o Brasil poderia se tornar um satélite de Washington na América Latina, como, por exemplo, o Japão na Ásia ou alguns países europeus, e seguir completamente e de forma cega o rumo político dos EUA, o especialista declarou que esse é um cenário bastante possível e sublinhou que o presidente brasileiro simpatiza muito com Donald Trump.
“Aproveitando-se da orientação de Bolsonaro [relativa a Washington], os EUA estão o envolvendo na esfera militar. As palavras de Trump sobre considerar a possibilidade de o Brasil se tornar membro da OTAN também não surgiram por acaso. Trata-se de atribuir ao Brasil o estatuto de parceiro estratégico da OTAN. Isso não significa pertencer à OTAN, mas está bem perto disso”, revelou ele.
Segundo Chichin, essa estratégia de Washington poderia privar o Brasil das ambições de se tornar líder na América Latina.
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Para analista, a política de Bolsonaro é "absolutamente pró-americana"
O especialista comentou também as relações do Brasil com outros países em meio ao rumo político de Bolsonaro.
“A política dos EUA em relação ao Brasil é retirá-lo do BRICS [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul], expulsar a China do Brasil e, em geral, Bolsonaro está seguindo essas diretrizes, é evidente que ele esteve prosseguindo na esteira do rumo político dos EUA durante seus primeiros 100 dias no poder”, explicou Chichin.
“Nos últimos 20 anos foi a China que se tornou inesperadamente no maior exportador e importador do Brasil, e não os EUA. Agora, a estratégia dos EUA é expulsar a China do Brasil, Bolsonaro faz isso, pressiona a China mesmo no sentido político”, opinou o especialista.
Chichin opina que Bolsonaro quer uma aproximação com governos que seguem o mesmo rumo político, lembrando o encontro do presidente brasileiro com o presidente do Chile, Sebastián Piñera, e as homenagens de Bolsonaro a Pinochet, bem como as relações cordiais com o presidente colombiano, Ivan Duque. Ao mesmo tempo, o analista sublinha que o presidente brasileiro não estabeleceu relações cordiais com o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, que está implementando uma política mais independente.
Quanto à situação na Venezuela, o analista sublinha que Bolsonaro fez declarações contraditórias em relação a esse assunto (desde apelos para não se intervir nos assuntos internos de Caracas até possíveis consultas com o Congresso sobre a possível participação de uma invasão), mas em geral ele está alinhado com o Departamento de Estado dos EUA.
“Quando [os EUA] declaram que sufocariam Maduro através de meios econômicos, ele [Bolsonaro] diz que isso é o bastante. Quando Trump diz que todas as cartas estão na mesa, ele diz que avalia todas as oportunidades. Isso já ocorreu cerca de quatro vezes. Ele fala que está pronto para a participação de uma intervenção militar e depois diz que tudo isso levaria a uma grave guerra civil”, afirmou Chichin.
“[Bolsonaro] continua se buscando como presidente, mas pode se tornar iniciador de uma intervenção militar [na Venezuela]”, concluiu ele.