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Foto: Alexander Kazakov, RIA Novosti

“Ocidente deve escolher: agressão à Rússia ou caminho de paz”, diz Putin em discurso de posse

"A Rússia está aberta a fortalecer as relações com todos os países que veem na Federação Russa um parceiro confiável e sincero" acrescentou o presidente russo
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

Beatriz Cannabrava

O Kremlin não abre mão do diálogo com os governos do Ocidente, mas estes “têm que escolher: vão continuar tentando conter o desenvolvimento da Rússia, continuar sua política de agressões e de exercer pressão sobre nosso país durante anos ou vão seguir o caminho da cooperação e da paz”, afirmou nesta terça-feira (7) seu titular, Vladimir Putin. A fala ocorreu durante o breve discurso que fez após assumir a presidência da Rússia para um quinto mandato de seis anos, o primeiro desde que reformou a Constituição há quatro anos para poder se candidatar à reeleição mais duas vezes.

“Insisto – continuou Putin – o diálogo, inclusive sobre questões de segurança, de estabilidade estratégica, é possível. Mas não a partir de posições de força, sem nenhum tipo de prepotência, arrogância e exclusividade, apenas em pé de igualdade, respeitando os interesses do outro”. Ele assegurou que a Rússia está aberta a fortalecer as relações com “todos os países que veem na Federação Russa um parceiro confiável e sincero, e que são de fato a grande maioria do mundo”. Ele apontou que junto com seus aliados da integração euroasiática e outros centros de desenvolvimento soberanos, “continuaremos contribuindo para configurar uma ordem mundial multipolar e um sistema de segurança equitativo e indivisível”.

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O capítulo de suas palavras dedicado à política interna teve um marcado caráter protocolar. Putin agradeceu aos russos pela confiança depositada nele e prometeu “continuar servindo ao povo e tornar a Federação Russa ainda maior e mais poderosa”. E concluiu: “Somos uma nação grande e unida, e juntos superaremos todos os obstáculos, concretizaremos tudo o que foi planejado, e juntos, venceremos”, mas não mencionou diretamente vencer a guerra na Ucrânia.

Cerimônia de posse

A cerimônia de posse, feita sob medida para seu protagonista, teve como cenário o Grande Palácio do Kremlin em Moscou, onde cerca de 5 mil convidados – membros da elite governante e do corpo diplomático, exceto os embaixadores dos Estados Unidos e uma vintena de países da União Europeia que não quiseram comparecer -, distribuídos em várias salas, viram passar, enquanto o aplaudiam de pé, um Putin solitário que se dirigia para a sala de San Andrés. Lá, o presidente do Tribunal Constitucional, Valeri Zorkin, o proclamou chefe de Estado, depois que Putin prestou o juramento presidencial com uma mão sobre a Carta Magna. Depois de proferir seu breve discurso, o presidente recebeu, na Praça das Catedrais do Kremlin, as honras da guarda presidencial que desfilou diante dele.

E como parte da cerimônia, Putin assistiu em uma das igrejas a uma missa para ele sozinho, oficiada pelo Patriarca da Igreja Ortodoxa Russa, Kiril Dojčinovski  que abençoou seu novo mandato presidencial. Em seguida, conforme estabelece a Constituição, o governo da Rússia apresentou sua renúncia e até que seja formado o novo gabinete, todos os seus integrantes, liderados pelo primeiro-ministro, Mikhail Mishustin, continuarão exercendo suas funções.

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A Duma, ou Câmara dos Deputados, programou para sexta-feira, 10 de maio, a ratificação da nova composição do governo e espera-se que haja várias substituições de titulares de pastas e vice-primeiros ministros, inclusive nem todos os analistas têm claro se Mishustin permanecerá. Alguns estão convencidos de que Mishustin é o candidato ideal para liderar o governo agora, mas outros apostam que o novo primeiro-ministro – por mera coincidência entre os candidatos mais mencionados – se chamará Sergei (Sérgio).

E sustentam que Sergei Kiriyenko, responsável pela política interna no Escritório Presidencial e que já foi chefe de governo com o presidente Boris Yeltsin, ou Sergei Sobyanin, ex-chefe do mesmo órgão presidencial onde são configuradas as políticas do Estado e atual prefeito de Moscou, poderiam surpreender. Tampouco está claro se o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, continuará após a prisão de seu protegido Timur Ivanov em um escândalo de corrupção, embora haja cientistas políticos que acreditam que nesta etapa da “operação militar especial” não seria conveniente mudar o titular da pasta responsável por ela.

Plano para assassinar Zelensky

O SBU (Serviço de Segurança da Ucrânia), em comunicado, anunciou nesta terça-feira que desmantelou uma rede que planejava assassinar o presidente Volodymir Zelensky, o chefe da inteligência militar, Kyrylo Budanov, o próprio chefe do SBU, Vasyl Maliuk, e outros altos funcionários ucranianos. “A rede de agentes, coordenada pelo FSB (Serviço Federal de Segurança) de Moscou, incluía dois coronéis da Segurança da Administração do Estado (SAE, órgão responsável pela proteção dos líderes ucranianos), que passavam informações secretas para a Rússia”, assegura o comunicado.

A Procuradoria ucraniana, por sua vez, acusa os coronéis da SAE, detidos pela contraespionagem do SBU, de cometerem os crimes de alta traição e terrorismo. Um deles, na versão da Procuradoria, “recebeu do FSB dois drones e munições que deveria entregar a terceiras pessoas para efetuar os atentados contra os dirigentes”. A entrega ocorreu em território ucraniano, de acordo com as gravações de supostas conversas que o detido teve com seu contato do FSB, divulgadas pelo SBU. “O inimigo queria recrutar membros da equipe de segurança do presidente Zelensky para sequestrá-lo e matá-lo”, asseveram as autoridades ucranianas.

Putin ordena exercícios com armas militares de curto alcance

O presidente Vladimir Putin ordenou ao exército, nesta segunda-feira (6), realizar “em breve” manobras com armas nucleares táticas – de alcance e potência devastadora menores que as estratégicas – devido às “declarações provocativas e ameaças de certos funcionários” de países membros da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). É a primeira vez que a Rússia anuncia exercícios com armas nucleares táticas, teoricamente devido às suas características para serem empregadas na Europa, embora regularmente conduza manobras com mísseis balísticos intercontinentais, submarinos nucleares e grandes bombardeiros que fazem parte de suas forças nucleares estratégicas, capazes de atingir qualquer parte do território dos Estados Unidos.

O ministério da Defesa, ao anunciar que está se preparando para cumprir a ordem presidencial de “aumentar o preparo das forças nucleares não estratégicas durante (eventuais) missões de combate”, ofereceu “garantir incondicionalmente a integridade territorial e a soberania do Estado russo frente às declarações provocativas e ameaças de certos funcionários de países membros da OTAN”. Porém, coube ao Ministério das Relações Exteriores russo, por meio de uma declaração formal, explicar mais detalhadamente o sentido dessas manobras: Advertir a OTAN para cessar “suas ações abertamente desestabilizadoras”, que “pretendem exercer mais pressão sobre a Rússia e criar ameaças adicionais à sua segurança em relação ao conflito na Ucrânia”.

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Moscou está ciente de que o Ocidente oferece à Ucrânia “apoio abertamente declarado” e também “ajuda direta para realizar ataques terroristas na Rússia com armamento cada vez mais avançado”. Indica que os ucranianos selecionam deliberadamente atacar alvos que não são militares e “causam muitas vítimas entre civis” e isso, no entanto, não faz com que os patrocinadores do regime de Kiev reflitam, “empurrando-os a cometer novos crimes”. O documento observa que, além dos sistemas de mísseis de longo alcance britânicos e franceses já em uso no front, os Estados Unidos recentemente aprovaram fornecer à Ucrânia mísseis com sistema de armamento tático (de até 300 quilômetros) capazes de atingir alvos dentro da Rússia.

“Esses critérios serviram de base para decidir realizar essas manobras com parte das forças de dissuasão nuclear, como um sinal de advertência para o Ocidente e seus fantoches em Kiev”, disse o departamento diplomático russo. E conclui: “Confiamos que este exercício militar (com armas nucleares táticas) esfrie as ‘cabeças quentes’ que existem nas capitais ocidentais, os ajude a perceber as possíveis consequências catastróficas dos riscos estratégicos que geram e os dissuada tanto de ajudar em suas ações terroristas o regime de Kiev quanto de se verem arrastados para um confronto armado direto com a Rússia”.

Explicações

O ministério das Relações Exteriores russo convocou em sua sede os embaixadores da Grã-Bretanha e da França para pedir explicações sobre “fatos graves” que aumentam a tensão entre a Rússia e a OTAN. Em particular, irritou a Rússia a afirmação do chanceler britânico, David Cameron, de que a Ucrânia tem o direito de atacar o território russo com as armas que lhe forneceram.

Tampouco agradou ao Kremlin que o presidente da França, Emmanuel Macron, tenha reiterado na semana passada que “não descartaria enviar militares (à Ucrânia) se ocorressem certas circunstâncias”, palavras que o Kremlin voltou a classificar nesta segunda-feira como “irresponsáveis e infundadas”.

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Para Dmitry Peskov, porta-voz da presidência russa, “ele (Macron) falou (em sua entrevista à revista The Economist) sobre a disposição e até a intenção de enviar contingentes militares à Ucrânia, ou seja, colocar os soldados da OTAN frente aos soldados da Rússia. Isso representa uma nova espiral na escalada da tensão. Não tem precedentes e exige uma atenção particular e medidas adequadas”.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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