Queridos amigos:
Na história humana, a verdade nasceu como antípoda da mentira, esgrimida como uma arma de combate. É costume dizer – e é verdade – que a mentira é uma maneira de criar caos e confusão; e é, em boa medida, um símil da violência.
Foi há 60 anos. Em 15 de janeiro de 1959, o congressista republicano Wayne Hays assumiu nos Estados Unidos a defesa dos esbirros de Batista julgados em Cuba por terem cometidos crimes horrendos. Foi esse fato que poderia ser considerado o início da ofensiva ianque contra a Revolução Cubana. Nessa data, exigiu a redução da quota açucareira, sanções econômicas e até o desembarque de soldados estadunidenses na ilha do Caribe, demandando impunidade para os assassinos da ditadura deposta. Isso tudo alimentou uma gigantesca campanha desatada pela “Grande Imprensa” na América e no mundo.
Ainda não haviam sido tomadas medidas profundas de tipo revolucionário em Cuba naqueles dias, mas isso não importava. Bastava que se tocasse um só fio da imensa teia de sua dominação, para que saíssem à luz todas as molas de sua vontade depredadora. O mérito de Fidel, foi perceber esse fenômeno de forma imediata. Isso explica a imensa mobilização de 21 de janeiro em Havana e a entrevista coletiva oferecida pelo Governo de Cuba a 400 jornalistas para denunciar os fatos. E no dia 24, o início da OPERAÇÃO VERDADE, que recordamos hoje. Depois, foi toda uma série sucessiva de acontecimentos.
A luta pela verdade é em nossa América, o pão de cada dia. Isso nos foi ensinado pela experiência, mas o aprendemos da “Operação Verdade”.
A campanha contra Cuba, ao longo dos 60 anos transcorridos desde então, tem sido um operativo de mentiras e farsas. Chegou a extremos demenciais como quando se estimulou a fuga de cérebros, se impulsionou a operação Peter Pan, executou-se Playa Girón, colocou-se o mundo em tensão por causa dos Mísseis, em outubro de 1962, e se implementou o bloqueio genocida que ainda se mantém. Do começo ao fim, foi a Mentira a peça principal da campanha contra Cuba, não só nos Estados Unidos, mas sim no mundo.
A imprensa peruana –alentada pela SIP e financiada por poderosos grupos econômicos- somou-se a ela com empenho. Em 1959, o diário “La Prensa”, o porta voz dos exportadores, desatou uma caluniosa ofensiva contra Cuba com o tema dos “fuzilamentos”. Foi uma maneira de encobrir o fato de que combatia um processo porque afetava os interesses da classe dominante e o Grande Capital. Essa campanha foi realizada não apenas por esse diário. “Última Hora”, “La Crónica”, “La Tribuna” – o diário do APRA- e até “El Comercio”, que então apresentava um certo verniz patriótico somando-se à campanha pela Nacionalização do Petróleo, repetiram em ritmo monocórdio todas as mentiras da imprensa mundial contra a Revolução Cubana. Até o extremo de anunciar, gozosas, a queda do governo cubano no episódio de Girón, a morte de Fidel, o desaparecimento do “Che” e outras truculências bem pagas.
Durante 60 anos a imprensa peruana não deixou de mentir contra Cuba. “O Racionamento”, “pessoas que morrem de fome”, “a democracia fuzilada”, “a ditadura sinistra”, “O Império dos Castro”, foram a cada dia as manchetes dos meios de comunicação a serviço do Império e da classe dominante. E claro, nos anos da “Guerra Fria”, esta ofensiva de imprensa foi ainda mais grave. Nada indignava mais a imprensa peruana do que constatar a amizade que unia Cuba à União Soviética e outros países do mundo. Sonhava com vê-la solitária, afundar no mar, para alegria e regozijo da Casa Branca.
O desaparecimento da URSS não atenuou essa ofensiva. Pelo contrário, a alimentou. Nas páginas dos diários, pelo rádio e pela Televisão buscavam afanosamente a crise e saltavam de gozo pensando que “a queda do regime socialista” era questão de dias. Esfregavam as mãos e esperavam ansiosos pela notícia que nunca chegou. Contra todos seus prognósticos, Cuba foi vitoriosa. No Peru e no mundo, a “grande imprensa” não teve outro remédio senão engolir cada uma de suas palavras. Mas não renunciou à mentira como sua “arma de combate”.
E o caso dos 5 Heróis Cubanos prisioneiros do Império desde setembro de 1998, foi tema para explorar por mais de 15 anos. Chamou-os de “espiões”, disse que planejavam “atentados terroristas” nos Estados Unidos, que tentaram matar cidadãos indefesos, que conspiraram para impedir a “vitória democrática” em Cuba. E quando os acusados finalmente foram postos em liberdade porque eram inocentes, calaram submissamente. Já não tinham mais nada o que dizer. Nunca, até hoje, voltaram a mencionar o caso.
Mas a mentira continuou reinando em seu discurso. Ela os levou a negar o que hoje reconhece expressamente o Banco Mundial: que Cuba tem a melhor educação da América Latina; que a política de saúde de Cuba é a mais eficiente de nosso continente; que os avanços científicos e tecnológicos alcançados por Cuba não foram conseguidos por nenhum país da América Espanhola; que Cuba é o país mais seguro da região. E então a mentira, a mentira histórica que sempre urdiram contra Cuba, foi estendida a todos os outros processos libertadores que ocorrem em nosso continente.
Para nós, isso não é surpresa. Eles mentem também todos os dias, quando falam dos problemas de nosso país. E apresentam os empresários não como exploradores, mas como “paladinos do progresso”, e os trabalhadores como “preguiçosos e improdutivos”. Nos dizem, por exemplo, que a mineração é a fonte da riqueza e que nós somos um país mineiro. Isso, para que baixemos a guarda e permitamos que as grandes empresas do setor, como Yanacocha ou Southern, levam embora nossas riquezas. Mas nós, peruanos, sabemos que precisamente nas regiões em que operam essas e outras empresas, é que abunda a pobreza e reina a miséria e a fome.
Em La Oroya, por exemplo, o centro metalúrgico mais importante, 97% das crianças têm os pulmões afetados por chumbo. Recentemente, em Cerro de Pasco, denunciou-se que 85% das pessoas menores de 18 anos sofrem os efeitos da silicose, uma doença produto da mineração. Além disso, os rejeitos da mineração matam o gado, destroem o ecossistema, afetam mortalmente a biodiversidade. Mas a “Grande Imprensa” assegura que tudo isso é “pelo progresso e pelo desenvolvimento”. São as mesmas mentiras que repetem a cada dia com a secreta esperança de convertê-las em “verdades”.
Somos conscientes, então, de que isso acontece em toda parte. Por isso não acreditamos nunca no que dizem contra a Venezuela, ou contra a Nicarágua, e hoje contra a Bolívia. Sabemos que as coisas são exatamente ao contrário do que eles dizem. Enquanto digam que nesses países as coisas vão mal, seguramente estão bem. E quando assegurarem que “já estão bem”, então cometemos erros e perdemos a luta em forma transitória. Isso não haverá de acontecer.
É muito importante que façamos esse encontro, que intercambiemos impressões e experiências, que recapitulemos nossa própria história porque a luta entre a vida e a morte, é a luta entre a verdade e a mentira.
Que a verdade é – e sempre será – a bandeira dos povos. E que a mentira é, e sempre será a mais letal das armas dos poderosos. Por isso, a luta pela verdade é em nossa América, o pão de cada dia. Isso nos foi ensinado pela experiência, mas o aprendemos da “Operação Verdade”.
Havana, 22 de janeiro de 2019.
*Colaborador de Diálogos do Sul
Tradução: Beatriz Cannabrava