Pesquisar
Pesquisar
Foto: UTEP / Facebook

Orçamento anunciado por Milei para 2025 vai “fechar o Estado” argentino

Milei afirma que “diminuir o Estado” é “engrandecer a sociedade”; situação da população argentina mais pobre já é insustentável
Stella Calloni
Diálogos do Sul Global
Buenos Aires

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Na noite de domingo (15), diante de uma câmara de deputados e senadores semi vazia pela ausência de opositores, e utilizando a rede nacional, Javier Milei divulgou o projeto de orçamento para o ano de 2025. A imensa maioria dos argentinos se recusou a ver, desligando as televisões no momento em que o presidente de extrema-direita começou a leitura. Vestido com a faixa presidencial e segurando o bastão, como quando assumiu o governo, o que é incomum, o mandatário alcançou a audiência mais baixa já registrada em circunstâncias similares, enquanto em vários bairros os vizinhos batiam em suas panelas vazias.

“De um total de 257 deputados e 71 senadores que compõem ambas as câmaras, apenas 130 legisladores compareceram, ou seja, um terço. Houve bancadas inteiras da oposição que se ausentaram, o que era previsível, mas nem sequer os legisladores aliados compareceram em sua totalidade”, afirmou o portal Política Argentina.

“Milei provocou uma das recessões mais rápidas e profundas da história”, diz ex-braço direito

Também destacaram que nem todos os ministros estavam presentes, somando-se à falta de interesse do público em geral. “De acordo com a empresa de medições de audiência da Argentina, a audiência no El Trece, o principal canal de televisão aberta, baixou de 5 para 0,4 pontos quando Milei começou a falar. Um caso extremo foi o do Canal 9, que chegou a 0 pontos”, assinala a empresa.

Cifras e aperto aos governos provinciais

O mandatário não apresentou cifras importantes para definir a economia projetada, mas, nesse caso, advertiu aos governos provinciais que deverão se ajustar a 60 bilhões de dólares, quando a situação já não permite viver no nível social e o governo nacional ainda deve o dinheiro da coparticipação.

Milei acrescentou que, com esse novo pedido às províncias, o gasto pode ser reduzido a 25 pontos do PIB no próximo ano. Ele mencionou inclusive que as tarifas dos serviços públicos estão “presenteadas” — quando, na verdade, dispararam a cifras tão altas que quintuplicaram o gasto normal — e anunciou que, em 2025, todas essas tarifas aumentarão ainda mais.

“Os governadores provinciais definiram que, com a ‘federalização’ das obrigações e o corte das transferências nacionais, uma diminuição dessa magnitude equivaleria a ‘fechar o Estado’”, informou o jornal Página 12. Em outras palavras, Milei afirmou que “gerir é diminuir o Estado para engrandecer a sociedade” e declarou que vetará todos os projetos que atentem contra o equilíbrio fiscal, referindo-se à rejeição do Poder Executivo à reforma previdenciária que aumentava os benefícios da aposentadoria. “Todo gasto que for criado sem uma explicação de qual orçamento vai sair será vetado”.

Orçamentos universitários e rejeição

Além disso, foi anunciado que apenas metade do orçamento necessário para as universidades públicas será destinado, somando-se à suspensão do Fundo de Incentivo Docente, que vigora desde janeiro, o que aprofundará o conflito não apenas com professores e estudantes, mas com os blocos aliados da UCR, Encuentro Federal e a Coalizão Cívica.

A empresa de pesquisas Zuban Córdoba afirmou que, a cada dia, se aprofunda a falta de credibilidade da população, que, em muitos aspectos, alcança cifras expressivas de até 70% de rejeição ao governo, e que Milei acreditava que seria ouvido por todo o país em seu discurso no Congresso, “e terminou recebendo a mensagem mais dura” com o apagão televisivo, que registrou a mais baixa audiência de um discurso presidencial.

Marcha de professores e estudantes é a maior contra Milei e dá aula sobre defesa da Educação

Ainda no domingo, os governadores, incluindo os mais próximos, fizeram ouvir suas vozes de protesto e vários deles consideraram que o governo nacional só está interessado em reunir dinheiro para pagar o Fundo Monetário Internacional (FMI) pela dívida refinanciada deixada pelo atual sócio de Milei, o ex-presidente Mauricio Macri, quando terminou em 2019 sua administração de quatro anos.

Veto, votos e crise

Enquanto isso, a convenção da União Cívica Radical (UCR) decidiu suspender os cinco deputados que votaram a favor do veto de Milei contra a lei de mobilidade previdenciária.

Isso levou a uma crise partidária, enquanto o presidente decidiu convidar os 87 legisladores da Libertad Avanza, Propuesta Republicana (Pro), liderada por Macri, e os cinco radicais – três dos quais votaram a favor do veto e dois que se abstiveram – para comer um churrasco na residência presidencial para “festejar que haviam conseguido um triunfo” sobre os aposentados.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Stella Calloni Atuou como correspondente de guerra em países da América Central e África do Norte. Já entrevistou diferentes chefes de Estado, como Fidel Castro, Hugo Chávez, Evo Morales, Luiz Inácio Lula da Silva, Rafael Correa, Daniel Ortega, Salvador Allende, etc.

LEIA tAMBÉM

Navio da amizade Xi Jinping convida América Latina à construção do novo sistema global
Navio da amizade: Xi Jinping convida América Latina à construção do novo sistema global
Verónica Abad, vice-presidenta do Equador Se reassumo cargo, retomo relações com México
Verónica Abad, vice-presidenta do Equador: "Se reassumo cargo, retomo relações com México"
Acordo Mercosul-UE é semicolonial e vai sair caro para empresas sul-americanas
Acordo Mercosul-UE é semicolonial e vai sair caro para empresas sul-americanas
Equador derrotará Estado de exceção que agrava arrocho neoliberal”, afirma sindicalista
“Equador derrotará Estado de exceção que agrava arrocho neoliberal”, afirma sindicalista