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ToggleNa noite de domingo (15), diante de uma câmara de deputados e senadores semi vazia pela ausência de opositores, e utilizando a rede nacional, Javier Milei divulgou o projeto de orçamento para o ano de 2025. A imensa maioria dos argentinos se recusou a ver, desligando as televisões no momento em que o presidente de extrema-direita começou a leitura. Vestido com a faixa presidencial e segurando o bastão, como quando assumiu o governo, o que é incomum, o mandatário alcançou a audiência mais baixa já registrada em circunstâncias similares, enquanto em vários bairros os vizinhos batiam em suas panelas vazias.
“De um total de 257 deputados e 71 senadores que compõem ambas as câmaras, apenas 130 legisladores compareceram, ou seja, um terço. Houve bancadas inteiras da oposição que se ausentaram, o que era previsível, mas nem sequer os legisladores aliados compareceram em sua totalidade”, afirmou o portal Política Argentina.
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Também destacaram que nem todos os ministros estavam presentes, somando-se à falta de interesse do público em geral. “De acordo com a empresa de medições de audiência da Argentina, a audiência no El Trece, o principal canal de televisão aberta, baixou de 5 para 0,4 pontos quando Milei começou a falar. Um caso extremo foi o do Canal 9, que chegou a 0 pontos”, assinala a empresa.
Cifras e aperto aos governos provinciais
O mandatário não apresentou cifras importantes para definir a economia projetada, mas, nesse caso, advertiu aos governos provinciais que deverão se ajustar a 60 bilhões de dólares, quando a situação já não permite viver no nível social e o governo nacional ainda deve o dinheiro da coparticipação.
Milei acrescentou que, com esse novo pedido às províncias, o gasto pode ser reduzido a 25 pontos do PIB no próximo ano. Ele mencionou inclusive que as tarifas dos serviços públicos estão “presenteadas” — quando, na verdade, dispararam a cifras tão altas que quintuplicaram o gasto normal — e anunciou que, em 2025, todas essas tarifas aumentarão ainda mais.
“Os governadores provinciais definiram que, com a ‘federalização’ das obrigações e o corte das transferências nacionais, uma diminuição dessa magnitude equivaleria a ‘fechar o Estado’”, informou o jornal Página 12. Em outras palavras, Milei afirmou que “gerir é diminuir o Estado para engrandecer a sociedade” e declarou que vetará todos os projetos que atentem contra o equilíbrio fiscal, referindo-se à rejeição do Poder Executivo à reforma previdenciária que aumentava os benefícios da aposentadoria. “Todo gasto que for criado sem uma explicação de qual orçamento vai sair será vetado”.
Orçamentos universitários e rejeição
Além disso, foi anunciado que apenas metade do orçamento necessário para as universidades públicas será destinado, somando-se à suspensão do Fundo de Incentivo Docente, que vigora desde janeiro, o que aprofundará o conflito não apenas com professores e estudantes, mas com os blocos aliados da UCR, Encuentro Federal e a Coalizão Cívica.
A empresa de pesquisas Zuban Córdoba afirmou que, a cada dia, se aprofunda a falta de credibilidade da população, que, em muitos aspectos, alcança cifras expressivas de até 70% de rejeição ao governo, e que Milei acreditava que seria ouvido por todo o país em seu discurso no Congresso, “e terminou recebendo a mensagem mais dura” com o apagão televisivo, que registrou a mais baixa audiência de um discurso presidencial.
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Ainda no domingo, os governadores, incluindo os mais próximos, fizeram ouvir suas vozes de protesto e vários deles consideraram que o governo nacional só está interessado em reunir dinheiro para pagar o Fundo Monetário Internacional (FMI) pela dívida refinanciada deixada pelo atual sócio de Milei, o ex-presidente Mauricio Macri, quando terminou em 2019 sua administração de quatro anos.
Veto, votos e crise
Enquanto isso, a convenção da União Cívica Radical (UCR) decidiu suspender os cinco deputados que votaram a favor do veto de Milei contra a lei de mobilidade previdenciária.
Isso levou a uma crise partidária, enquanto o presidente decidiu convidar os 87 legisladores da Libertad Avanza, Propuesta Republicana (Pro), liderada por Macri, e os cinco radicais – três dos quais votaram a favor do veto e dois que se abstiveram – para comer um churrasco na residência presidencial para “festejar que haviam conseguido um triunfo” sobre os aposentados.
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