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Protesto contra prisão de Guantánamo, mantida pelos EUA em Cuba (Foto: Stephen Melkisethian)

País de prisioneiros: China escancara violações dos EUA em investigação sobre Direitos Humanos

Documento foi publicado no fim de maio e detalha questões como descontrole de armas, encarceramento em massa, discriminação e desigualdade
Daniel González Delgadillo
La Jornada
Pequim

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Os direitos civis e políticos, o racismo, as desigualdades econômicas e sociais e os direitos das mulheres e das crianças são os principais aspectos sociais nos quais os direitos humanos se “deterioraram” nos Estados Unidos em 2023, revelou o Escritório de Informação do Conselho de Estado da China em um relatório publicado em 29 de maio. “A maioria da população em geral está cada vez mais marginalizada e os direitos e liberdades fundamentais são desprezados em comparação com as minorias dominantes na política, economia e sociedade”, segundo o documento, publicado pela cadeia estatal CCTV News e sustentado por relatórios governamentais, jornalísticos e de organizações civis.

A autoridade aponta que os partidos republicano e democrata “tiveram dificuldades para chegar a um consenso sobre o controle de armas, e os tiroteios em massa continuam altos, com cerca de 43 mil mortes por violência com armas de fogo, uma média de 117 mortes diárias”. Apontou que cresce o abuso da violência policial e a prestação de conta pela polícia é inexistente, com pelo menos 1.147 em 2023, número máximo desde 2013, indicou. Assinalou que com menos de 5% da população e 25% dos presos do mundo, os “Estados Unidos são um verdadeiro país de prisioneiros”.

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“As lutas entre os partidos políticos continuam aumentando, utilizando a divisão de circunscrições eleitorais para manipular as eleições, a Câmara dos Representantes levou a cabo duas farsas do presidente difícil de nascer, a credibilidade do governo continua diminuindo, e a confiança dos estadunidenses no governo federal é de apenas 16%“, afirmou.

Apontou que o racismo “está enraizado e a discriminação racial é grave”, ao assinalar que a mortalidade materna de afrodescendentes é quase três vezes maior do que a de mulheres brancas devido à discriminação racial no setor de saúde, e quase 60% dos asiáticos dizem que enfrentam esse tipo de discriminação. Entre outros números, indicou que com 11,5 milhões de famílias trabalhadoras de baixa renda no país, o salário mínimo federal por hora não aumentou desde 2009 e o poder de compra de um dólar caiu 70% desde 2009.

Protesto em frente à Casa Branca, em 11 de janeiro de 2023, contra prisão de Guantánamo, mantida pelos EUA em Cuba (Foto: Stephen Melkisethian)

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Pelo menos 21 estados proibiram ou restringiram severamente o aborto. O número de mortes maternas dobrou em quase 20 anos. Muitas crianças estão excluídas do programa Medicaid. A violência com armas de fogo é a principal causa de morte infantil. Washington publicou em 22 de abril seu relatório para analisar práticas de direitos humanos em quase 100 países. Em outros relatórios, criticou a China.

Tráfico de armas dos Estados Unidos ao México

O relatório publicado pelo Escritório de Informação do Conselho de Estado da China também aponta que o tráfico de armas dos Estados Unidos para o México e o Caribe aumentou devido à falta de regulamentações, enquanto as prisões e deportações de migrantes na fronteira sul dos EUA cresceram durante 2023 para mais de 2,4 milhões, “um recorde histórico”. Ao abordar o ‘deterioro’ dos direitos humanos nos Estados Unidos desde o ano passado, o escritório destacou que “a violência com armas de fogo é um dano extensivo. A inundação de armas de fogo nos Estados Unidos levou a um aumento do tráfico de armas de fogo para os países vizinhos, representando um grave perigo para a segurança da população local e a estabilidade regional”.

Citando dados do governo mexicano, o relatório indicou que mais de meio milhão de armas de fogo são contrabandeadas anualmente dos Estados Unidos para o Méxicom, e mais de 70% das armas de fogo apreendidas em cenas de crimes violentos entre 2014 e 2018 vieram do território estadunidense.

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O relatório também assinalou que um estudo de 2022 da organização latino-americana Crime Insights revelou que o fluxo de armas de fogo ilegais dos Estados Unidos para o Caribe contribuiu para o aumento da taxa de homicídios na região. “Os políticos estadunidenses ignoraram os apelos da comunidade internacional e da população nacional para controlar as armas, e se concentraram apenas no dinheiro e nos interesses políticos, o que fez com que a proliferação de armas de fogo nos Estados Unidos não fosse controlada efetivamente por muito tempo”, destacou o texto.

Sobre a crise migratória na fronteira sul, no ano fiscal de 2023, o número total de imigrantes presos ou deportados “ascendeu a mais de 2,4 milhões, um recorde histórico“, afirmou o escritório. Lembrou que esta fronteira com o México foi catalogada pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) “como a rota migratória terrestre mais mortal do mundo”.

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O jornal El Paso Times informou em 30 de novembro passado, segundo a agência, “que nos 12 meses até 30 de setembro de 2023, 149 migrantes morreram apenas na zona de patrulha fronteiriça dessa cidade texana”.

O relatório acusou que o número de mortes femininas duplicou em comparação com 2022, porque “às vezes, os agentes da patrulha fronteiriça encontram dois ou três cadáveres por dia”. Segundo a agência, um porta-voz do governador do Texas, Greg Abbott, disse que o que ocorreu na área de El Paso “é um resultado direto do caos provocado pelo governo federal (do presidente Joe Biden) na fronteira”.

China acusa M16 de recrutar casais para “grande caso de espionagem”

Na última segunda-feira (3), a China acusou o Serviço Secreto de Inteligência da Grã-Bretanha (MI6) de recrutar dois funcionários chineses, que formam um casal, para trabalhar em um “grande caso de espionagem”, enquanto ambos os países trocam acusações de vigilância. Ao mesmo tempo, a China rejeitou a acusação de impedir a participação de outros países na cúpula de paz na Ucrânia, liderada pela Suíça este mês, em apoio à Rússia, como afirmou um dia antes o presidente Volodymir Zelensky.

O Ministério da Segurança do Estado indicou em um comunicado que agentes do MI6 convenceram um homem de sobrenome Wang, que tinha “funções centrais confidenciais” dentro de uma agência estatal central, quando ele estudava na Grã-Bretanha sob um programa de intercâmbio em 2015.

Os agentes tiveram “especial cuidado”, convidando-o para jantares e visitas guiadas para “compreender melhor seus interesses e fraquezas”, afirmou o ministério. Ao perceberem que “ele tinha um forte desejo por dinheiro”, solicitaram serviços de consultoria pagos que envolviam o trabalho interno dos organismos chineses.

Posteriormente, revelaram sua identidade a Wang e pediram que ele retornasse à China para coletar informações, e o convenceram a pressionar sua esposa, de sobrenome Zhou, a fazer o mesmo. “Sob a forte instigação de Wang, ela concordou em coletar informações de inteligência (…) e eles se tornaram espiões britânicos”, detalhou a agência.

China e Grã-Bretanha têm trocado acusações de vigilância durante meses. No mês passado, Londres acusou três pessoas de espionagem para o serviço de inteligência de Hong Kong e, em abril, foram apresentados encargos semelhantes contra duas pessoas acusadas de espionar para Pequim.

Cúpula de paz na Ucrânia

Em outra ordem, Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, indicou que “a posição da China é aberta e transparente, e sob nenhuma circunstância estamos pressionando outros países” para evitar sua participação na cúpula de paz na Ucrânia, como afirmou no domingo (2) Zelensky no fórum de Defesa de Shangri-La, em Singapura.

Enquanto discutia o papel da China na resolução desta guerra, o presidente ucraniano declarou que “a Rússia, utilizando a influência chinesa na região, e também os diplomatas chineses, faz tudo o possível para perturbar a cúpula”.

“A China espera sinceramente que esta conferência de paz não se torne uma plataforma para criar confrontação entre os lados”, esclareceu Mao em uma coletiva de imprensa, e especificou que “não participar do encontro não significa que não apoiamos a paz” nesta guerra.

Dois dias antes, o governo chinês estimou que seria “difícil” participar se a Rússia não fosse convidada.

Independência de Taiwan significa guerra

Em 30 de maio, a China advertiu que a “independência de Taiwan” significa guerra, ao sublinhar que a reunificação da China é uma tendência irreversível da história e advertir que estenderá suas manobras militares em torno da ilha para defender sua “soberania e integridade territorial”.

“As atividades separatistas que buscam a ‘independência de Taiwan’ constituem a maior ameaça real à paz através do estreito, e atuam como um peão de forças estrangeiras para conter a China”, assegurou Wu Qian, porta-voz do Ministério da Defesa, ao responder em conferência de imprensa ao discurso que pronunciou Lai Ching-te, que assumiu a presidência taiwanesa em 20 de maio.

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Após a posse de Lai, Pequim efetuou durante dois dias exercícios militares próximos a Taipé, e as operações incluíram a entrada na zona de 38 aviões de guerra e 11 navios que realizaram uma “patrulha conjunta de preparação para o combate”. “Os exercícios conjuntos do Exército Popular de Libertação foram uma medida para conter as agressivas atividades independentistas e separatistas de Taiwan e um aviso contra a interferência estrangeira”, destacou Wu, que assegurou que “as atividades separatistas constituem a maior ameaça real à paz”.

Nesse contexto, os senadores estadunidenses Tammy Duckworth, Dan Sullivan, Chris Coons e Laphonza Butler concluíram uma visita a Taiwan, com o compromisso de que Lai pode contar que eles sempre “darão a cara por Taiwan”. Em outra frente, Wu denunciou o desdobramento de um sistema de mísseis de médio alcance por parte dos Estados Unidos nas Filipinas, e indicou que as ações dos dois países colocaram toda a região da Ásia-Pacífico sob a ameaça do armamento estadunidense.

Condenações em Hong Kong

No fim de maio, uma corte de Hong Kong declarou 14 opositores culpados de subversão, no maior julgamento contra ativistas desde que o governo chinês impôs na cidade uma lei de segurança nacional contra a dissidência.

Além disso, outros 31 que se declararam previamente culpados poderão receber penas de prisão perpétua. As sentenças serão comunicadas este ano. Dois acusados absolvidos foram os ex-vereadores distritais Lee Yue-shun e Lawrence Lau, mas a promotoria adiantou que tem a intenção de apelar.

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A União Europeia considerou que a medida “representa um novo deterioro das liberdades fundamentais e da participação democrática em Hong Kong”. A Austrália também rejeitou a decisão.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Daniel González Delgadillo

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