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Partido Democrata rejeita apelos do eleitorado e ignora genocídio palestino em atos de 7/10

Campanha eleitoral de Kamala Harris segue desconsiderando violência de Israel em Gaza, mesmo que isso custe perder estados-chave como Michigan
Jim Cason, David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava
“O Genocídio Será Televisionado”, o novo e-book da Diálogos do Sul Global.

Políticos dos EUA, tanto democratas como republicanos, marcaram o aniversário dos ataques do Hamas em Israel com quase nenhum reconhecimento dos saldos de morte e sofrimento nas comunidades palestinas e outras no Oriente Médio devido às ações bélicas de Tel Aviv, nem das consequências políticas dentro dos Estados Unidos pela cumplicidade de Washington na ofensiva israelense na região, condenada especialmente por jovens, árabe-americanos e judeus antiguerra — o que pode determinar o futuro político imediato deste país.

O governo estadunidense, com o amplo consenso da cúpula política do país, concedeu 17,9 bilhões de dólares em assistência militar a Israel desde o início da guerra, segundo o projeto Custos de Guerra. Em seus atos comemorativos na segunda-feira (7), o presidente Joe Biden, a vice-presidente e candidata democrata Kamala Harris, e o candidato republicano Donald Trump falaram sobre a brutalidade do Hamas, mas nenhum condenou em termos específicos e diretos a guerra brutal de Israel, que já deixou quase 42 mil palestinos mortos e que agora está se expandindo na região. Para quase toda a Washington oficial, o Hamas é o único responsável pelas mortes e sofrimentos na região.

As medidas de segurança ao redor da Casa Branca foram ampliadas com novas valas e veículos de emergência protegendo a sede do Executivo, e foram anunciadas medidas adicionais em cidades como Nova York e outras, bem como em universidades em diversas partes do país, diante dos preparativos para atos de comemoração tanto pelas vítimas israelenses do ataque há um ano, como por protestos em repúdio ao genocídio contra os palestinos.

Movimento contra políticas bélicas e cumplicidades

O terreno político sobre esse tema está mudando nos Estados Unidos. Enquanto foram realizados alguns atos comemorativos para as vítimas israelenses, houve centenas de protestos contra a guerra de Israel pelo país, especialmente de estudantes em universidades, parte de um movimento sem precedentes contra as políticas bélicas de Israel e a cumplicidade estadunidense, que explodiu no ano passado.

Em Nova York, houve comícios e marchas de protesto contra a guerra de Israel e a cumplicidade em Wall Street, Washington Square e Harlem, liderados por estudantes de várias universidades. Na Universidade de Colúmbia, epicentro dos protestos estudantis do ano passado e onde a reitora foi demitida por seu manejo dessas expressões, houve uma grande operação de segurança para impedir o ingresso de grupos no campus, enquanto jovens se manifestaram internamente, enquanto outros participaram de eventos pró-Israel. Nos últimos dias, estudantes leram em voz alta os nomes dos palestinos que foram assassinados durante a guerra.

Estudantes por Justiça na Palestina relataram manifestações em universidades na Virgínia, Texas, Colorado, Califórnia, Maryland e Carolina do Norte, entre outros estados. Em Washington, o grupo judeu If Not Now organizou um ato para lembrar as vidas perdidas de palestinos e judeus.

Eduardo Vasco | Israel e EUA, entidades terroristas

Mais de 700 mil pessoas ao redor do país, incluindo dezenas de milhares em estados-chave que determinarão o resultado das eleições em um mês, votaram “não comprometido” nas primárias do Partido Democrata como um ato de repúdio à posição de apoio incondicional a Israel, primeiro do então candidato Biden e agora de Harris.

Por outro lado, também é significativo que a guerra de Israel em Gaza e agora na região tenha desencadeado protestos de judeus americanos e que tenha unido uma comunidade árabe americana fragmentada. Além disso, levou a coalizões de opositores à guerra que incluem, e às vezes são encabeçadas, por judeus e muçulmanos.

“As pesquisas ao longo do último ano registraram de maneira consistente que a geração Z e os jovens millenials tendem a simpatizar em taxas mais altas com os palestinos em comparação com os mais velhos e querem que os Estados Unidos parem de apoiar o esforço de guerra de Israel”, reportou o Axios na semana passada. “Com os jovens pressionando seus políticos, e chegando eventualmente ao poder eles mesmos, a política americana pode começar a mudar profundamente” em relação a essa região.

Kamala Harris

A vice-presidenta Harris teve uma reunião com líderes da comunidade árabe-estadunidense em Michigan — a maior do país — na sexta-feira passada, mas os líderes do movimento “não comprometido” não foram convidados.

Mas, com os Estados Unidos proporcionando bombas de 2 mil libras que Israel usa para destruir quarteirões inteiros em zonas civis em cidades e povoados, essas ações foram criticadas como vazias. “O que precisamos agora é que (Harris) declare especificamente que, como presidente, respeitará as leis humanitárias internacionais e dos EUA, e suspenderá o envio de armas militares usadas por Israel para cometer crimes de guerra”, declarou Abbas Alawieh, líder do movimento Não Comprometido. Ele acrescentou no X: “reiteramos nossa solicitação: que se encontre com famílias palestino-americanas e libano-americanas, cujos entes queridos foram mortos por bombas estadunidenses”.

Israel e seu delírio bélico, racista e genocida chegam ao Líbano

Não se descarta a possibilidade de que Harris perca em Michigan, um dos cinco a sete estados-chave que determinarão o resultado da eleição presidencial, devido à ira dos eleitores em relação à sua posição sobre a guerra no Oriente Médio, que podem decidir não votar (a maioria historicamente democrata) ou votar de protesto em candidatos marginais de terceiros partidos.

Mas, por enquanto, os candidatos e líderes de ambos os partidos mantêm seu apoio incondicional a Israel. O presidente Biden, que disse ser um “sionista irlandês” (mesmo que a Irlanda tenha reconhecido oficialmente o Estado da Palestina e seja o país europeu mais crítico de Israel), enviou mais assistência militar a Israel do que qualquer outro presidente americano e foi o primeiro mandatário estadunidense a visitar Israel durante uma guerra.

A cúpula política também se mantém esmagadoramente em apoio a Israel. Apenas 37 deputados federais democratas ousaram votar contra o envio de mais assistência militar em abril, com 173 de seus colegas a favor. O senador Bernie Sanders, um dos dissidentes de maior perfil da política oficial, introduziu um projeto de lei para frear a venda de armas americanas a Israel, mas não se espera que prospere. Dentro do Partido Republicano, as posições são cada vez mais firmes em apoio a Israel, com Trump e outros líderes promovendo cada vez mais assistência militar a Tel Aviv.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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