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Pelo quarto ano consecutivo, Brasil é país que mais mata pessoas LGBTQIA+

De acordo com relatório do Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+, houve aumento de 33% nos casos de mortes em 2021, em relação a 2020
Larissa Bohrer
Desacato
São Paulo (SP)

Tradução:

O Brasil, pelo quarto ano consecutivo, é o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ em todo o mundo. É o que mostra o novo relatório produzido pelo Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+, lançado na noite dessa quarta-feira (11).

O documento contou com a parceria de várias organizações sociais no processo de elaboração dos dados apresentados. Entre elas, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), a Acontece Arte e Política LGBTI+ e a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT).

Entre os dados apresentados, o relatório chama atenção para um aumento considerável de casos de violência ou assassinato no ano passado na comparação com 2020, quando 237 mortes foram registradas. Em 2021, 316 pessoas LGBTQIA+ foram vítimas da LGBTfobia.

Para Alexandre Bogas, diretor executivo da Acontece Arte e Política LGBTI+ e um dos três coordenadores do Observatório, essa diferença, em relação ao número de mortes entre os anos de 2020 e 2021, tem relação com o período mais crítico da pandemia.
De acordo com relatório do Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+, houve aumento de 33% nos casos de mortes em 2021, em relação a 2020

Brasil de Fato
O relatório também mostra que São Paulo é o estado que mais mata pessoas LGBTQIA+

Exposição e o governo

“Um outro ponto que vale ressaltar é que 2020 foi o ano principal da pandemia. Então naquele momento realmente as pessoas deixaram de sair, de trabalhar e de se envolver. A cultura não estava acontecendo, nem casas de show, entre outras questões.

Essa é uma análise específica porque se a gente olhar no histórico dos últimos anos, em 2020, (casos de violência) baixaram bem referente aos outros (anos). Em 2021, aos poucos a gente começou a ter o processo de voltar um pouco mais ao normal. E novamente nos tornamos expostos a essas violências cotidianas no dia a dia. Isso já traz para a gente uma questão”, observa Bogas.

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Mas o diretor executivo pondera, contudo, que o aumento da violência é também reflexo do atual governo, “conservador e preconceituoso”. E que, em sua avaliação, estimula as pessoas a serem violentas e partir para a agressão.

“Fora que, outro ponto falando sobre essa quantidade de mortes, quando entra 2020, com esse novo governo atual, que é muito difícil para nós, a população LGBTQIA+ ficou com muito medo e procurou se resguardar porque não sabia o que vinha no processo. Isso também a gente via como um reflexo da diminuição naquele momento. Em 2021, já começa a aflorar cada vez mais o conservadorismo, o preconceito, que sempre esteve no mundo. Mas a gente vê que isso cresceu muito mais e se reflete nas mortes que voltaram, infelizmente, a sua média”, acrescenta.

São Paulo epicentro

O relatório também mostra que São Paulo é o estado que mais mata pessoas LGBTQIA+. Foram 42 mortes violentas no ano passado, ante 29 mortes, em 2020, e 21, em 2019.

Em relação às capitais, São Paulo também é a recordista. Em 2021, foram 13 mortes violentas no município. Seguida de Salvador, com 11 mortes, e empate nas capitais de Manaus e Rio de Janeiro, ambas com 8 mortes violentas.

Alexandre Bogas acredita que a educação é o pilar fundamental para acabar o preconceito. ”Nós só vamos conseguir mudar toda essa situação quando a gente realmente puder falar abertamente e com tranquilidade para se ouvir e ser ouvido para construir essa diversidade sexual e de gênero que existe nesse mundo. Então se a gente não conseguir fazer isso, que é por meio da educação, não vai se mudar. Eu vejo que o processo principal de mudança radical é a educação na escola, na saúde, na empresa, em casa, na praça, aonde você puder falar”, garante.

Acolhimento

Os dados também mostram que o preconceito acontece em várias esferas da sociedade e na maioria das vezes começa em casa onde a própria família se volta contra a pessoa LGBTQIA+. A rejeição também acontece na escola, com o bullying que é frequente, no mercado de trabalho e também nos hospitais e postos de saúde. As entidades destacam dificuldades inclusive para o registro de Boletim de Ocorrência (B.O) contra agressão sofrida. De acordo com elas, casos de preconceito e violência física e verbal da polícia contra pessoas LGBTQIA+ também não são raros.

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As poucas casas de acolhimento são um respiro para essas pessoas. Em São Bernardo do Campo, região Metropolitana de São Paulo, existe a Casa Neon Cunha, que atende mais de 150 pessoas mensalmente. Fundador e presidente da instituição, Paulo Araújo explica que as pessoas que procuram a residência de acolhimento estão vulneráveis e precisam de uma série de cuidados, entre eles, o psicológico.

Além do atendimento presencial, a Casa Neon Cunha oferece atendimento psicológico de forma virtual que pode ser solicitado pelo site ou pelas redes sociais da Casa.

Larissa Bohrer, Rádio Brasil Atual.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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