Foram apenas poucos minutos e alguns segundos. Mas, tempo mais que suficiente para me sentir emocionado, feliz e plenamente representado. Orgulhoso. Renovado na minha fé de que a política pode, sim, ser a mais nobre das atividades humanas.
Convicto de que, mesmo que não somem mais que um punhado de homens e mulheres, ainda existem homens e mulheres que se dizem políticos e como políticos de verdade, exercem a atividade com a nobreza e grandeza daqueles que a ela se dedicam. Sempre em busca e em benefício da maioria, dos outros, seus irmão e semelhantes, em benefício da paz entre os povos e nações. Da promoção da justiça, igualdade, fraternidade e solidariedade entre os humanos.
Convicto e renovado na fé de que ainda restam muitas chances e esperança de que coletivamente consigamos vencer batalhas e guerras e salvar a humanidade. Livrando-a de todos os males e do verdadeiro terror que vivemos nestes tempos do Império Planetário do Capital Financeiro e das Indústrias da Guerra. Um império diferente de todos os outros já construído durante os milênios da trajetória da humanidade na aventura neste pequeno planeta que chamamos de Terra, “governado”, não por um único Imperador, mas por múltiplos Imperadores invisíveis e, portanto, inimputáveis.
Como nada é perfeito, foi inevitável lembrar-me que este compañero tupamaro, infelizmente não é brasileiro. E senti uma baita tristeza. Melancolia. E, confesso, uma baita inveja de nuestros hermanos uruguayos. Sábios hermanos que anos atrás majoritariamente votaram e elegeram o compañero Pepe.
Sim, Pepe. Apenas Pepe. Sem qualquer cerimônia e frescuras que são exigidos ou impostos por “subalternos” à imensa maioria daqueles que, como Pepe, ano após ano também são votados e eleitos pelos povos do mundo. E que teimam em se achar pequenos ou grandes Imperadores Visíveis. Mas que, na verdade, não passam de capachos e marionetes dos verdadeiros, invisíveis, poderosos e múltiplos governantes desses tempos cada vez mais sombrios.
Sim apenas Pepe. Ontem, hoje e sempre, apenas Pepe, um compañero y militante Tupamaro. Apenas Pepe. Um homem simples, porém, guerreiro e revolucionário. Apenas e sempre Pepe. Um homem do povo, mas militante Tupamaro. E não se esqueçam que é na sua origem que ele sempre buscou e continua buscando o orgulho, tranquilidade e firmeza que julga ser necessária ao cumprimento das tarefas que lhe foram atribuídas por seus irmãos uruguayos.
Apenas Pepe. Homem ético, honesto, solidário, justo. Homem carinhoso. Apenas Pepe, mas um verdadeiro Estadista. Destes como pouco existiram. Militante Tupamaro e dedicado à luta, promoção e construção de tempos melhores não só para o seu povo e para sua pequenina Nação Sul-americana, mas para toda a humanidade.
“Não vou embora, estou apenas chegando“, disse Pepe aos milhares de irmãos que dele foram se despedir. Disse muitas outras verdades. E quem quiser ouvir tudo o que disse Pepe basta clicar no vídeo posto no final deste post.
De repente o discurso acabou. E Pepe, o homem simples, compañero Tupamaro y hermano de La Pátria Grande foi abraçado e abraçou a muitos e muitos otros compañeros, compatriotas e hermanos. Depois não vi mais nada. Mas também nem precisava. Pelo menos para ter certeza de que Pepe caminhou até seu fusca, sentou-se e, como sempre, feliz e sem pressa, seguiu pelas ruas de Montevidéu até El Rancho, onde consigo moram seus amores y Pepas. E sorriu. E riu. E quem sabe secretamente até chorou remoendo sobre coisas que não conseguiu fazer. E se confortou ao lembrar a si mesmo o que ha pouco dissera: que no Senado continuará suas lutas, ações e trabalhos.
Enquanto isso, em frente ao computador pensei: Acabou-se o que era doce… Estavam esgotados os meus 19 minutos e poucos segundos de emoção.
Contive o choro, mas algumas lágrimas teimaram a rolar pela face. E lembrei do amigo. Homem simples, honrado, solidário e carinhoso. Lembrei de Paulo. Sim, apenas Paulo. Apenas Paulo. Militante Tupamaro. E não consegui segurar mais o choro. E me integrei ao chorar e chorei copiosamente. Solucei.
Chorei de alegria, chorei de tristeza. Chorei com força e com orgulho. Com corpo, alma e armas. E com firmeza e vigor retomei a edição do último artigo escrito por Paulo. Homem simples, o melhor jornalista que conheci e com o qual convivi nestes meus mais de 30 anos também dedicados ao jornalismo. E me senti ainda mais orgulhoso deste meu trabalho na nossa Diálogos do Sul, agora Global. Mais convicto ainda de que as lutas quando justas sempre valem a pena. E que sempre existirão Paulos e Pepes dispostos a se irmanar, a lutar juntos e coletivamente, alcançar novas vitórias. Compañeros no espírito tupamaro como Mujica e Cannabrava. Que prefiro e preferem ser apenas Pepes e Paulos.
Companheiros que sei e que sabem, verdadeiramente, estarão sempre chegando, nunca saindo. Companheiros sempre presentes. Companheiros que realmente nunca irão embora. Que para sempre permanecerão no meu e em muitos outros corações.