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Pequenos e médios municípios mantêm estruturas "coronelistas" de poder no Brasil

Municípios são locais de disputas por condições de vida e acumulação de riqueza. Assim, Clubes de Serviços e Lojas Maçônicas ocupam posições importantes
Claúdio di Mauro
Diálogos do Sul Global
Uberlândia (MG)

Tradução:

De acordo com o Censo do IBGE de 2010, 95% dos 5.570 municípios do Brasil possuíam menos de 100 mil habitantes, ou seja 5.232 desse total. Desse total, 45% da população do país reside nestas cidades, que representam 30% do PIB nacional.

Segundo o IBGE, as estimativas para 2021 indicam que mais da metade da população brasileira (57,7%), ou seja, 123 milhões de habitantes, se concentra em apenas 326 municípios (5,8% dos municípios), que têm mais de 100 mil habitantes

Vejam o motivo pelo qual os pequenos e médios municípios são muito importantes para manter as estruturas “coronelistas” do poder vigente no Brasil. O controle nas pequenas e médias cidades se irradia também para os grandes centros e Regiões Metropolitanas.

Rio Claro (SP), município por nós administrado durante dois mandatos sucessivos, tem cerca de 200 mil habitantes, isso o coloca como referência por ser classificado como sendo de tamanho médio. Ali obtivemos o selo de melhor performance ambiental por dois anos seguidos.

Brasil deve fazer uma reforma urbana para democratizar cidades e obedecer Constituição

Nos municípios de pequeno e médio porte o controle social é enorme.

Famílias tradicionais são as grandes proprietárias das terras urbanas e rurais; donas dos meios de produção ou a serviço de corporações nacionais e estrangeiras e, com isso, tornam-se responsáveis pelos espaços oficiais de disputas.

Os Municípios são espaços de disputas para condições de vida e acumulação das riquezas. Por isso, Clubes de Serviços e Lojas Maçônicas ocupam posições de muita importância e destaque. Por essa razão, uma das aspirações dos setores médios da economia é entrar para esses clubes de comando.

As Associações Comerciais e Industriais que congregam pequenos e médios negócios, articulam uma pequena burguesia com legítimas aspirações no sistema capitalista, de chegar à burguesia e ter esse destaque com as vantagens sócio-econômicas inerentes.

Em geral, esses setores não galgarão tais aspirações, mas conservam a simbologia e as esperanças de serem reconhecidos.

Com desigualdade social, sofrimento humano está chegando a níveis insuportáveis

As possibilidades de trabalho e emprego são controladas pelas mesmas famílias que também controlam as estruturas de poder — Legislativo, Executivo e Judiciário, Religiosas e de Comunicação Social — como imprensa falada e escrita.

Por exemplo, se um Promotor, um Padre ou Pastor não estiver fazendo o jogo das famílias que acumulam os poderes, há imediata providência para que a remoção e substituição por “corpos mais dóceis”, no dizer de Foucault, cuidando dos interesses de quem manda.

Municípios são locais de disputas por condições de vida e acumulação de riqueza. Assim, Clubes de Serviços e Lojas Maçônicas ocupam posições importantes

jornal a notícia
vista aérea de rio claro

As disputas eleitorais são todas travadas com controle absoluto. Imaginemos como seria o voto impresso quando estabelecido esse controle social e inclusive, especialmente os votos dos empregados.

Famílias tradicionais e poderosas não aceitam que haja ingerência externa e tentativas de promover a libertação das mentes já aprisionadas pelas estruturas de mando que imperam. Aí nasce a revolta quando são oferecidas oportunidades para que pobres acessem a Universidade Pública, os Aeroportos para viagens aéreas.

Nessas perspectivas, tornam-se necessárias as ações que estabeleçam o processo de formação cidadã desenvolvendo a auto-estima das pessoas, dos processos de libertação. Não é tarefa simples, mas muito importante.

Pedagogia dos Oprimidos

Nesse roteiro, a educação deve adotar como metodologia a aplicação da Pedagogia dos Oprimidos, tendo Paulo Freire como referência educativa. A formação das pessoas a partir da compreensão de suas próprias realidades torna-se tarefa imperiosa.

Nesta semana, Paulo Freire, o grande estímulo para esse aprendizado e formação cidadã, completaria 100 anos e está sendo homenageado pelos educadores conscientes e competentes de diversas partes do Planeta.

É indispensável fortalecer abordagens das ciências humanas nos municípios do Brasil

Esse é o grande motivo pelo qual setores da burguesia odeiam Paulo Freire. Homenageamos Paulo Freire e todos que têm nele suas referências didáticas e pedagógicas.

Planejamento Municipal

É indispensável a dedicação ao Planejamento Municipal que considere os impactos das mudanças climáticas. Torrencialidades com inundações e crises por secas precisam ter planos elaborados de maneira muito especial. São problemas necessários de enfrentamento com energia e determinação.

Governos Municipais progressistas precisam quando chegam às administrações públicas praticar atos que deem visibilidade aos setores sociais alijados. Não se trata apenas de administrar com competência e seriedade, mas ocupar os espaços de poder para mudar as realidades das situações vigentes.

Algumas providências indispensáveis:

-Incluir os subalternizados no tempo e no espaço dos Orçamentos da União, dos Estados e dos Municípios;

-Garantir pagamentos de impostos pelos setores enriquecidos de maneira a compensar as partes dos orçamentos destinadas aos setores subalternizados;

Entenda o que é o orçamento participativo e como ele é fundamental para o processo de radicalização da democracia

– Fortalecer as culturas locais e regionais em todos os campos das artes e da história, para elevar a auto estima da população;

– Praticar o Orçamento Participativo contemplando os territórios dos setores subalternizados, valorizando as lutas identitárias na perspectiva da luta de classes, como os racismos, a perseguição à mulheres e feminicídios, às populações originárias, à LGBTQIA+ entre outros;

– Ativar Conselhos Municipais que contemplem as deliberações nos quais esses setores citados sejam dotados de poder nas decisões. Capacitação para esses participantes com autonomia e sucesso;

– Realizar Conferências Temáticas: Saúde, Educação, Assistência e promoção social, Criança e adolescentes; Terceira idade ou idosos; da Arte e cultura; Meio ambiente e preocupação com as mudanças climáticas; Segurança pública entre outras;

A função social das cidades só existe quando se elas se constroem coletivamente

– Realizar Conferências Municipais que integrem todas essas áreas e planejem a distribuição orçamentária com base no Orçamento Participativo.

Enfim, cabe aos Planejadores Municipais, Urbanistas, Geógrafos a articulação com toda população dos locais, empoderando a participação social.

São alguns passos no processo da libertação popular, sem alijar e subalternizar setores sociais.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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