Há 52 anos, em 9 de outubro de 1968, por disposição do Governo Institucional da Força Armada, as unidades da Primeira Região Militar, comandada pelo General Fermín Málaga Prado, ocuparam as jazidas de Brea e Pariñas, arriaram a bandeira dos Estados Unidos que ondulava no único mastro existente no lugar, e em seu lugar içaram o Emblema Pátrio. Foi essa a origem do Dia da Dignidade Nacional.
Este ano a data passou quase inadvertida. Curiosamente houve quem protestasse porque se suspendeu o feriado do dia anterior – o 8 de outubro – mas se calaram diante do esquecimento: o Dia da Dignidade Nacional ficou apenas na lembrança daqueles que valorizaram em toda a sua dimensão aquele episódio da história.
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Dia da Dignidade Nacional ficou apenas na lembrança daqueles que valorizaram em toda a sua dimensão aquele episódio da história.
Certamente a Dignidade não tem que ser dedicada a um dia. O ser humano deve chegar em sua formação a internalizar a dignidade de modo tal que ela seja sua companheira de vida, e não sua ocasional visitante. Viver em dignidade é, sem dúvida, a categoria mais alta à qual pode chegar aquele que se considera cumpridor de seus deveres essenciais. É digno, porque faz dessa virtude uma maneira de se relacionar com a sociedade e com os desafios de sua existência.
Não obstante, um país deve considerar incompatível com sua dignidade ver machado o seu solo por um estandarte estrangeiro e sem ter a possibilidade de levantar o seu. Trata-se de um fato que fere a soberania do Estado que o abriga e de cujas entranhas saiu ao chegar ao mundo.
“A Soberania Nacional –disse Augusto César Sandino nos anos vinte do século passado – não se discute. Se defende com as armas na mão”. Pois bem. Cabe recordar que os peruanos aceitamos durante muitos anos que um bandeira de listras e estrelas substituísse o pavilhão nacional em nosso próprio solo. E foi preciso que um militar – Juan Velasco Alvarado- honrasse as palavras de Sandino e dispusesse o uso das armas para colocar a bandeira pátria no lugar que lhe correspondia.
Os peruanos da época nunca deixaram de recordar a data; mas, na medida em que foram depondo as bandeiras revolucionárias, e o lugar delas foi gradualmente ocupado pela ignomínia, foi se apagando da memória de alguns a lembrança desse acontecimento da história.
Com o “retorno do poder à civilidade” e mais precisamente com a restauração do poder oligárquico, a Dignidade Nacional foi sendo relegada. Chegaram em troca, os “cabos loiros”, porta-vozes do capital financeiro, que convenceram os administradores ocasionais do poder, que o patriótico e digno era entregar nossos recursos às empresas estrangeiras, a aplicação de nossa política financeira ao Fundo Monetário Internacional, e a supervisão de nossos recursos ao Banco Mundial. A bandeira da dignidade nacional, ficou convertida em um trapo.
Ainda é possível restaurá-la e colocá-la novamente no pedestal de onde nunca devia ter saído. Mas isso passa por voltar o olhar ao passado, mirar um pouco para trás e recuperar o sentimento nacional que invadira a alma dos peruanos naquele outubro inolvidável.
Viver com dignidade, agora, é defender os recursos naturais, combater para que eles sirvam ao país e aos peruanos, e não sejam usufruídos por empresas estrangeiras que esgotam nosso solo e levam embora as ingentes riquezas nacionais.
Viver com dignidade é recuperar a capacidade de decidir nossas políticas sem supervisores de fora, nem organismos estrangeiros que nos ditem programas econômicos e medidas financeiras incompatíveis com os requerimentos essenciais da população.
Viver com dignidade é reivindicar o trabalho como fonte de riqueza e eliminar a especulação financeira, a lavagem de dinheiro, a corrupção galopante e os negócios ilícitos que a classe dominante procura perpetuar no país.
Viver com dignidade é aplicar uma política exterior independente e soberana, que não receba instruções do Departamento de Estados dos Estados Unidos que opera como um gigantesco regente de orquestra em nosso continente para golpear povos irmãos e processos libertadores legítimos e autônomos.
Viver com dignidade é converter a solidariedade e a justiça em elos fundamentais de uma política de desenvolvimento compatível com os grandes interesses do Peru.
Viver com dignidade é lutar para que o Peru tenha um governo probo e honrado que encare com sensibilidade os problemas do país.
Viver com dignidade, em suma, é recolher a mensagem de José Carlos Mariátegui e a bandeira de luta de Juan Velasco Alvarado e dos trabalhadores. E enfrentar a tarefa de construir um Novo Peru em um Mundo Novo.
*Colaborador de Diálogos do Sul de Lima, Peru.
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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